A Direcção-Geral das Artes (DGArtes), dirigida por Carlos Moura Carvalho, anunciou hoje que a participação portuguesa na Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano será representada pelo projeto "NEIGHBOURHOOD - Where Alvaro meets Aldo", que, segundo o Ministro da Cultura, João Soares, é resultado de um esforço de continuidade transmitida pela antiga gestão. A proposta tem como curadores Nuno Grande e Roberto Cremascoli e envolve o trabalho dos arquitetos Álvaro Siza e Aldo Rossi.
“Ao contrário dos conflitos bélicos, em que ninguém ganha e sobre os quais paira um sentimento generalizado de derrota, nas frentes do ambiente edificado respira-se um ar de vitalidade, porque a arquitetura é olhar a realidade de forma propositiva. Isto é o que gostaríamos que as pessoas viessem ver na 15ª Exposição Internacional de Arquitetura: histórias de sucesso que merecem ser contadas e casos exemplares que vale a pena serem partilhados e em que a arquitetura fez, está a fazer e vai fazer a diferença para ganhar aquelas batalhas e expandir aquelas fronteiras.” São estas as palavras do curador Alejandro Aravena que apresentam a edição de 2016 de La Biennale di Venezia, sob o título REPORTING FROM THE FRONT, denotando uma preocupação com a política social e as transformações urbanas ocorridas no mundo.
Numa oportunidade ímpar de afirmar os valores e a cultura nacionais na mais importante mostra internacional de arquitetura, e como resposta ao desafio lançado por Alejandre Aravena, os dois curadores - Nuno Grande, arquiteto português, professor, crítico, curador, e Roberto Cremascoli, arquiteto italiano, colaborador de longa data de Álvaro Siza Vieira e comissário de exposições internacionais sobre a sua obra -, apresentam uma proposta inovadora que ocupa um lugar em plena construção física e social no seio da cidade de Veneza, na ilha da Giudecca. O projeto tem como título "NEIGHBOURHOOD: Where Alvaro meets Aldo", cuja tradução portuguesa será “VIZINHANÇA: Onde Álvaro encontra Aldo”.
A representação portuguesa foca no trabalho notável de Álvaro Siza no campo da Habitação Social, percorrendo as suas intervenções em diferentes bairros do Porto, Berlim, Haia e Veneza - a própria cidade da Bienal – e expondo a sua experiência social como parte da sua relação com a cidade europeia e com a criação de verdadeiros lugares de “vizinhança”- tema na ordem do dia, em uma Europa que se deseja mais cidadã e multicultural.
Álvaro Siza vem trabalhando estas noções, em contato, entre outras, com a cultura arquitetônica italiana, e em particular com o legado conceptual e ideológico de Aldo Rossi, cujo importante ensaio “A Arquitetura da Cidade” perfaz 50 anos em 2016.
A exposição está dividida em três partes e será instalada, literalmente, no estaleiro da obra do Campo di Marte, na ilha da Giudecca, um projeto de Álvaro Siza de alto impacto urbano e social, ainda não terminado, e que está integrado num plano geral onde participaram outros arquitetos, como Aldo Rossi.
A primeira parte da exposição - “Quatro visões para o Bairro Campo di Marte (1985)” - mostrará os planos das quatro equipas premiadas no Concurso Internacional de Campo di Marte, em 1985: Álvaro Siza; Aldo Rossi e Gianfranco Caniggia; Carlo Aymonino; e Rafael Moneo.
A segunda parte, “Quatro Bairros de Álvaro Siza (1973-2016)”, será constituída por projetos (desenhos, maquetas, fotos, filmes) das quatro intervenções de Habitação Social de Álvaro Siza: o Bairro da Bouça, no Porto; a Schlesisches Tor, em Berlim; o Schilderswijk West, em Haia; e o próprio Campo di Marte, na Giudecca, em Veneza.
“Where Alvaro meets Aldo (1966-2016)” será o título da terceira parte da exposição, onde se destacam fotografias, cartas, textos e outros “encontros” conceptuais entre Álvaro Siza e Aldo Rossi.
O projeto prevê o envolvimento dos “vizinhos” habitantes dos referidos bairros projetados por Álvaro Siza, seja pela sua evocação em fotografias e entrevistas, seja pela interação direta com os habitantes do Campo di Marte, em Veneza.
Este projeto contará com a colaboração do CCA - Canadian Centre for Architecture de Montreal, detentor de parte dos arquivos de Aldo Rossi e Álvaro Siza, e a participação da ATER - Empresa Territorial de Habitação para a província de Veneza, da Administração Municipal de Veneza, e da Universidade IUAV de Veneza.
Importa ainda referir que, no seguimento desta iniciativa, a ATER Veneza decidiu retomar a edificação do projeto de Álvaro Siza, e poderá avançar posteriormente para o edifício da autoria de Rafael Moneo.
NUNO GRANDE (Luanda, 1966)
Licenciou-se em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), em 1992. É docente, desde 1993, no Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DARQ/FCTUC) na Unidade Curricular de Projecto V (Projeto Urbano). É, ainda, docente, por extensão, da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto em disciplinas de Mestrado e de Doutoramento. Doutorado, em 2009, pela Universidade de Coimbra, com a Dissertação Arquiteturas da Cultura: Política, Debate, Espaço, tendo como objetos de estudo os grandes equipamentos culturais da contemporaneidade portuguesa.
É vice-coordenador do Curso de Doutoramento em Arquitetura do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. É Investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra no Núcleo de Cidades, Culturas e Arquitetura (CCArq).
É membro do Conselho Consultivo (SPAA) da Direção Geral do Património Cultural (DGPC). Foi programador cultural na área de Arquitetura e Cidade do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura e responsável pelo Pelouro da Cultura da Ordem dos Arquitetos (SRN) entre 2010 e 2013. É membro da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA). Foi comissário da 1ª Trienal de Arquitetura de Lisboa 2007, nomeadamente o Núcleo Portugal. Foi convidado pelo Ministério da Cultura para o Comissariado da Representação Oficial Portuguesa na 7ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, 2007. Foi curador da exposição O Ser Urbano. Nos Caminhos de Nuno Portas, por convite de Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura. Comissaria, no presente, uma exposição sobre 50 anos de arquitetura portuguesa que, por iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, inaugurará em Paris, em 2016, na Cité de L’Architrcture et du Patrimoine.
É autor ou coordenador científico das seguintes obras: Porto 1901-2001, Guia de Arquitectura Moderna (Coord. Paulo Providência, Jorge Figueira, Nuno Grande) Porto: Civilização/Porto 2001; O Verdadeiro Mapa do Universo: uma leitura diacrónica da cidade portuguesa. Coimbra: Edarq, Universidade de Coimbra, 2002; Arquitectura & Não. Lisboa: Caleidoscópio, 2005; Cidade-Sofia, Cidades Universitárias em Debate (Coord. Nuno Grande e Rui Lobo). Coimbra: Edarq, Universidade de Coimbra, 2005; Europa, Arquitectura Portuguesa em Emissão (Coord. Jorge Figueira e Nuno Grande). Lisboa/São Paulo: Ministério da Cultura/Direção Geral das Artes, 2007; MuseuMania, Museus de Hoje, Modelos de Ontem (ed. Nuno Grande). Coleção de Arte Contemporânea Público/Serralves, nº12. Porto: Fundação de Serralves/Jornal Público, 2009; O Ser Urbano. Nos Caminhos de Nuno Portas (coord. Nuno Grande). Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda/Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura, 2012.
Escreve episodicamente sobre Arquitetura e Cidade em revistas da especialidade em Portugal (JA; Arq/a), Espanha (El Croquis; 2G; Arquitectura Viva), França (L’Architecture d’Aujourd’hui), Croácia (ORIS), Suíça (Werk, Bauen+Wohnen) Holanda (A10) e Japão (A+U).
ROBERTO CREMASCOLI (Milão, 1968) Reside em Portugal desde 1991.
Estudou entre 1991 e 1993 na Faculdade de Arquitetura do Porto (FAUP) e licenciou-se em Arquitetura pelo Politécnico de Milão, em 1994. Trabalhou com Álvaro Siza e João Luís Carrilho da Graça entre 1995 e 2000. É cofundador do gabinete Cremascoli Okumura Rodrigues Arquitectos em 2001, com sede no Porto, e possui obras realizadas em Portugal, Itália, Suíça e França. Entre estas, destacam-se a Renovação do Grande Hotel do Porto (Seleção “Respect for architecture 2012”), a realização da Piazza Garibaldi e Salita di San Paolo a Cantù (1º lugar no Concurso Internacional em 2004; Menção Honrosa “Premio Maestri Comacini 2009”; Seleção Habitar Portugal 2006-2008) e a recente construção do NAC - Núcleo de Arte Contemporânea na Fabrica da Resinagem da Marinha Grande (1º lugar no Concurso Publico em 2000). O seu gabinete trabalha em parceria com Álvaro Siza em diversos projetos, estando atualmente em construção um complexo residencial em Milão.
É curador de vários projetos expositivos e editoriais nas áreas de Design, Arquitetura, Fotografia e Artes Plásticas. Foi curador de: “O design amigo do ambiente” (2007/Estufa Fria, LISBOA), “Remade in Portugal” (2007/Museu de Serralves, PORTO), “A um passo do sonho” (2009/Museu da Eletricidade, LISBOA), “Ai confini del mare, Giovanni Chiaramonte” (2009/Centro Português de Fotografia, PORTO), “Remade in casa” (2012/Galeria Fundação EDP, PORTO), “Porto Poetic” (2013/Trienal de Milão, MILÃO), “A arte em tempo de crise, Portugal” (2014/Trienal de Milão, MILÃO), “Inside the Human Being, Alvaro Siza” (2014/MART Museum, Rovereto), “Realismo confortável, Alcino Soutinho” (2014/Galeria Fundação EDP, PORTO), “ A medida do Ocidente” (2015/Teatro Rivoli, PORTO). Desde 2007, é Diretor Artístico do projeto Remade in Portugal, projeto da Fundação EDP com 8 edições já realizadas.