Em seu livro We Have Never Been Modern, o filósofo Bruno Latour conclui que a incapacidade de separar inerentemente a humanidade da natureza é uma das alegorias mais equivocadas do modernismo. Assim, designers contemporâneos que esperam citar ou ter uma continuidade com o modernismo devem compreender que arquitetura, mesmo quando estetizada, não está hermeticamente separada do mundo externo - e que, portanto, o modernismo não é um platô de projeto, mas outro acampamento na estrada do refinamento contínuo.
Em Chicago, a cidade onde o modernismo atingiu seu ápice tanto metafórico como físico, o Atelier 2B, uma equipe composta por Yewon Ji, Nicolas Lee e yan Otterson, foi recentemente premiada no concurso ChiDesign Competition, promovido pela Chicago Architecture Foundation, pelo seu projeto Soft in the Middle: The Collaborative Core. Em dívida com o legado de Mies e do Estilo Internacional, o Atelier 2B propôs uma Modernist-tower-redux composta por três volumes retangulares empilhados bisseccionados com terraços e afastados da rua por uma grande praça pública.
A equipe foi inspirada pelas qualidades "repetitivas" e "mundanas" de Mies van der Rohe que enfatizam "o plano da cidade (o embasamento), a dissolução da projeção (o hall de vidro) e o movimento vertical (núcleo sólido como elemento central)." O projeto Soft in the Middle pretende emular o primeiro e segundo princípios, mas busca redefinir o terceiro ao afastar a circulação do núcleo, o centro do edifício é liberado para se tornar mais que uma mera circulação. Segundo o Atelier 2B:
Propomos que o típico núcleo rígido e consolidado seja substituído por um mais suave: uma extensão da base onde o núcleo não resiste mais ao plano contínuo da cidade, mas inala a atividade pública, trazendo uma vida nova aos limites públicos dissolvidos de Mies que antes apenas apareciam em planta.
Do exterior, as caixas empilhadas do edifício separam visualmente os habitantes: o volume inferior abriga a sede da Chicago Architecture Foundation (CAF) e do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH), o intermediário recebe o Out-of-School-Time Youth Program, e o superior é o novo lar da Design and Allied Arts High School.
Descrevendo o núcleo colaborativo como "a extensão lógica do espaço universal de Mies", o projeto apresenta uma similaridade evidente com outras duas obras que buscaram subverter o legado moderno: a HSBC Tower de Norman Foster e o Lloyds of London Building de Richard Rogers.
Embora o dois casos sejam formas mais puras de um "espaço universal", a proposta do Atelier 2B tem maior margem de manobra. Aninhados em seu "núcleo colaborativo" há espaços de aprendizagem, um ginásio, um hall de apresentações, um teatro, uma biblioteca e um jardim.
O sistema de distribuição do programa permite a autonomia de identidade visual de cada organização e, ao mesmo tempo, instiga encontros e trocas de ideias entre os usuários.
Podemos nunca ter sido modernos e podemos nunca chegar a ser, mas os fracassos idealistas do modernismo não precisam ofuscar o sucesso prático de ideias como a do "espaço universal". O projeto do Atelier 2B é um lar utópico para as muitas faces da arquitetura, uma proposta que destaca um modernismo tensionado pelos espaços compartilhados e colaborativos que definem a atualidade.
Arquitetos
Atelier 2BLocalização
1007 S Wabash Ave, Chicago, IL 60605, EUAArquitetos responsável
Atelier 2BEquipe de projeto
Yewon Ji, Nicolas Lee, Ryan OttersonAno do projeto
2015Fotografias
Cortesia de Atelier 2B, Esquerda: Flickr user nmichelin. CC BY-NC-ND 2.0; Direita: Mark Ramsay