Em novembro Hernan Diaz Alonso, diretor do Instituto de Arquitetura do Sul da Califórnia – Southern California Institute of Architecture ou simplesmente SCI-Arc – anunciou o lançamento do SCI-Arc EDGE, Centro de Estudos Avançados em Arquitetura. A partir do segundo semestre de 2016 o novo centro servirá como plataforma para vários cursos de pós-graduação. Diaz Alonso nos conta em primeira mão sobre o SCI-Arc EDGE, a filosofia por trás do projeto e os campos de estudo que serão oferecidos.
O que é o SCI-Arc EDGE, Centro de Estudos Avançados em Arquitetura?
O SCI-Arc EDGE é uma plataforma para a especulação arquitetônica. É onde novos tipos de conhecimento em arquitetura serão desenvolvidos e novos tipos de carreiras em arquitetura surgirão. Queremos que o SCI-Arc EDGE seja o motor para a próxima rodada de inovação em arquitetura.
Quais serão as áreas de estudo oferecidas no SCI-Arc EDGE?
O SCI-Arc EDGE vem com o lançamento de quatro programas acadêmicos. O primeiro é um Mestrado em Tecnologia da Arquitetura e será coordenado por Marcelo Spina. Esse programa será regido pela consideração da relação da arquitetura com a tecnologia. Será tanto conceitual quanto técnico. O programa envolverá experiências práticas com tecnologias de ponta e também especulação avançada sobre o significado e a estética da tecnologia na produção da arquitetura contemporânea. Haverá um compromisso com novos modos de usar a tecnologia mas não será um programa para aceitar novas tecnologias por si mesmas mas sim um programa para especular os modos em que novas tecnologias podem produzir novos efeitos arquitetônicos.
O segundo programa é o Mestrado em Artes com foco em Ficção e Entretenimento que será comandado por Liam Young. Como nós sabemos, o mundo se tornou um lugar bastante estranho e eu penso que muito desse estranhamento vem de um crescimento exponencial das mídias nos últimos vinte anos. Hoje em dia há uma multiplicação infinita de ficções e entretenimentos que formam a produção cultural. Esse programa visa expandir os horizontes da atuação da arquitetura no que pode ser um futuro bem próximo e estudar de maneira aprofundada como a cultura é produzida na atualidade. Por que o próximo sucesso de Hollywood ou o próximo videogame não podem ser produzidos por um arquiteto? Ou a próxima campanha de mídias sociais? Ou mesmo o próximo debate presidencial? Sem dúvidas é um programa que servirá de interface com a indústria de mídias já consolidada de LA, portanto esse programa é perfeito tanto para o SCI-Arc quanto para Los Angeles.
O terceiro programa é um Mestrado em Design de Cidades que será coordenado por Peter Trummer. Como sabemos atualmente a maioria da população mundial vive em cidades, uma tendência que será acelerada ainda mais. Como será a compreensão do design de cidades agora que a urbanização é um fenômeno mundial? Eu acredito que o problema com a maioria dos programas acadêmicos em design urbano hoje em dia é que há uma tendência a se perder em forças de mercado, políticas governamentais e ansiedades ecólogicas sem nunca chegar ao ponto de se projetar algo. Acredito que o poder da imaginação arquitetônica e como ela pode influenciar as forças que guiam os processos de urbanização é bastante subestimado mas penso que esse será um novo tipo importante de programa acadêmico em design urbano que permitirá que arquitetos retomem o interesse e a ambição por design de cidades.
O quarto programa é o Mestrado em Teoria do Design e Pedagogia liderado por David Ruy. Eu penso que esse programa está faltando dentre o que é oferecido pelas escolas de arquitetura da atualidade. Você encontrará programas para qualificar profissionais e os programas de doutorado mais avançados para treinar pesquisadores. Mas falta um programa para treinar a nova geração de professores de projeto. Desde a segunda metade do século XX vemos uma evolução de um profissional híbrido, um misto de arquiteto, teórico e educador e esse híbrido é geralmente encontrado nas aulas de projeto de arquitetura. Mas não há nenhum programa acadêmico que atenda à necessidade de treinar profissionais para essa carreira. Acredito que esse programa seja bastante inovador nesse sentido e que oferecerá algo que não é encontrado em lugar nenhum.
Como os profissionais formados no SCI-Arc serão mais competitivos no campo do design?
A maior parte da escolas são organizadas com base no fato de que a experiências dos estudantes podem ser pré-determinadas – como um jardim. Jardins podem ser ser legais e agradáveis mas a experiência neles é previsível. Por outro lado eu gostaria que o SCI-Arc EDGE fosse mais como uma selva. Pode ser que algumas condições e interesses já venham pré-definidas mas deve-se aceitar o fato de que haverá um certo grau de imprevisibilidade ao se seguir em frente. Para o SCI-Arc EDGE o princípio da selva é necessário pois o objetivo é a inovação radical. Vindo de uma plataforma como essa podem acontecer duas coisas: primeiro, ela oferecerá a você uma ética de se engajar radicalmente nas condições sempre mutantes da atualidade de lhe dar as ferramentas para lidar com isso; segundo, ela lhe equipará com um aparato conceitual para corrigir seu caminho caso a situação mude no futuro. O SCI-Arc EDGE foi em si projetado de acordo com esses princípios. Essa plataforma será estabelecida de maneira que os programas acadêmicos terão a capacidade de se adaptar e evoluir com o tempo e portanto continuarão a ser relevantes e acompanhar o ritmo da produção contemporânea. Quero ver essa plataforma se tornar um laboratório que responde rapidamente à uma arquitetura em constante processo de mudança. A grandes universidades tendem a se atravancar em burocracias e batalhas desnecessárias entre os departamentos acadêmicos. O SCI-Arc não é assim: nós somos uma instituição de ensino independente e muito bem equipada para sermos ágeis e inovadores. Quando vemos que precisamos mudar o curso da nossa atuação, conseguimos mudar muito rápido.
Além de conseguir empregos no front da arquitetura avançada, acredito que o SCI-Arc EDGE terá um papel importante em gerar empregos que ainda não existem. Esperamos formar profissionais com melhor preparação para o mercado que possam também atuar em territórios que formandos em arquitetura não atuam, historicamente falando. Quero enfatizar aqui uma atitude extremamente pragmática: a ideia de expandir as possibilidades de empregabilidade para arquitetura, e trabalharemos ativamente em ajudar nossos alunos a alavancarem suas carreiras, o que será um dos aspectos cruciais do SCI-Arc EDGE. Sabe aquela citação do William Gibson? “Como eu tenho dito muitas vezes, o futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído”. Quero que o SCI-Arc EDGE seja o primeiro lugar onde o futuro se torne realidade.
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Veja um vídeo sobre o SCI-Arc EDGE.
Tradução por Jessica Passos