ArchDaily Brasil Entrevista: Fernando Haddad
Nossa seção AD Brasil Entrevista apresenta desta vez a conversa que tivemos no início deste ano com o prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad. Elogiado por uma parcela da população que vê em suas iniciativas uma possibilidade real de avanço em termos de planejamento urbano, mobilidade sustentável e retomada do centro da cidade, Haddad tem sido citado por veículos internacionais por sua posição que busca combater o pensamento conservador que conduziu o crescimento de São Paulo nas últimas décadas.
Com expectativas de que as diretrizes do novo Plano Diretor Estratégico sejam concretizadas, Haddad destaca o fato do plano de mobilidade estar pela primeira vez ligado a questões de adensamento, urbanização e verticalização da cidade, mostrando um pensamento não mais fragmentado em relação ao desenvolvimento urbano.
O prefeito de São Paulo também mostra uma abertura para inciativas urbanas experimentais - como por exemplo os parklets - que, de modo rápido e barato, permitem testar novas soluções para o espaço urbano sem grandes comprometimentos em longo prazo, podendo ser revertidas caso se provem ineficientes ou mantidas, se trouxerem benefícios à qualidade de vida dos cidadãos. Além disso, a implementação de medidas de baixo custo deveria ser mais explorada, comenta o prefeito, citando as alterações realizadas nas vias para segregar uma faixa para ônibus. Extremamente simples e barata, esta alteração aponta uma mudança de paradigma ao considerar que "o ônibus não pode ficar parado no trânsito". Por mais singela que seja a constatação de Haddad, a proposta de dedicar uma faixa exclusiva ao transporte público tem se mostrado bastante eficiente, tendo já reduzido em 38 minutos o tempo médio de deslocamento dos paulistanos, como mostra uma pesquisa realizada pelo CET em 2014.
A posição de São Paulo em relação a outras cidade latino-americanas é singular. Com 12 milhões de habitantes no município e 22 milhões na zona metropolitana, as mudanças que vem sendo propostas e implementadas pela atual gestão devem servir de exemplo para as autoridades das grandes e médias cidades do continente. Haddad diz que São Paulo permaneceu "acanhada no jogo urbano" durante muitas décadas, desempenhando um papel pouco expressivo em termos de inovação, recuperação e uso dos espaços urbanos. Nesse sentido, buscando uma posição que condiz com a escala e importância da maior cidade do Brasil, a gestão procurou em iniciativas já utilizadas em outros países as soluções para os problemas enfrentados aqui. Ao observar o que já vinha sendo feito há mais de duas décadas em cidades como Nova Iorque, Copenhague e Amsterdã, por exemplo, a Prefeitura, através de uma equipe de profissionais e especialistas de diversas áreas - de arquitetos e planejadores a sociólogos, antropólogos e educadores -, pode estudar as melhores formas de adequar estas soluções ao contexto local, levando em consideração os custos e o tempo de implementação dessas ideias.
"A arquitetura está sendo chamada a um desafio para além dela mesma. O arquiteto está lidando com um objeto que ganhou uma conformação completamente inédita em função não só dos processos de urbanização, mas dos processos de megaoperação que estão sendo presenciados. Ou seja, não é apenas dizer que as cidades estão passando por ressurgimentos, estamos falando de outra escala de fenômeno. O urbanismo, de certa maneira, tem o desafio de pensar coisas que antes não estava no seu radar. Hoje, arquitetura e urbanismo estão colocados diante de um quadro que exige articulação de diferentes conhecimentos que porventura não precisariam ser mobilizados com tanta intensidade no passado", comenta Haddad sobre as mudanças que vem acontecendo no urbanismo.