O EXÓTICO é um desejo; uma máquina de sedução; um domínio geo-semântico que designa um território imenso e quente, desconfinado, longínquo e incerto onde existem coisas estereotipadas, espécie de adereços e ambiências como o cheiro das especiarias, as trovoadas tropicais, as araras, as odaliscas, as palmeiras, os batuques, os camelos, e as pirâmides, por exemplo. O exotismo alimenta-se da nostalgia, do espaço e do tempo, como memória de uma idade de ouro em paragens remotas e tempos perdidos.
Depois de Napoleão ter regressado a França após a Batalha das Pirâmides e se terem difundido as histórias prodigiosas da civilização do Nilo,[1] não parou mais o fascínio misterioso dos europeus pelo Egipto dos faraós, das esfinges, dos obeliscos, dos impérios e das Pirâmides de Gizé. Até hoje.
Desde a pirâmide do Louvre atulhado de múmias, à do hotel Pyramide de Nuremberga, à do Luxor em Las Vegas, à do Ryugyŏng em Pyongyang…, às pirâmides da Rua da Estrada, nada escapa a estes universalismos contemporâneos. Contrariamente à cidade patrimonializada que tem excesso de passado, a Rua da Estrada tem excesso de presente. No entanto, quem achar as pirâmides demasiado exóticas ou muito hieroglificamente estranhas, tem a Rota do Românico com seus templos, cristandades e granitos sem espelhos. Não tem que enganar, é seguir as setas.
A série de textos do livro A Rua da Estrada é publicada no Correio do Porto