Bienal de Veneza 2016 iniciará uma "cruzada contra a indiferença"

Ontem, pela primeira vez na história da Bienal, a conferência de imprensa aconteceu no Hemisfério Sul do planeta. De sua cidade natal, Santiago, Alejandro Aravena, na companhia do presidente da Bienal e do presidente do Chile, compartilhou mais detalhes sobre a próxima mostra de arquitetura em um evento no palácio presidencial La Moneda.

As principais informações compartilhadas no evento dizem respeito à imagem que representa a Bienal deste ano e a divulgação dos participantes. No vídeo acima, Aravena explica como a imagem de Bruce Chatwin da arqueóloga alemã Maria Reiche representa "a Bienal como um todo".

Aravena enfatizou que desejava que o slogan da exposição fosse o exato oposto de "Não tente isto em casa". Ele explicou: "Dada a complexidade e variedade de desafios aos quais a arquitetura tem que responder, 'Reporting from the Front' tratará de escutar aqueles que foram capazes de ganhar certa perspectiva e, consequentemente, estão na posição de compartilhar conhecimento e experiências com aqueles de nós que estão no nível do solo."

Como publicamos na semana passada, "Reporting from the Front" compartilhará trabalhos de arquitetos que estão combatendo questões relacionadas à segregação, desigualdade, periferias, infraestrutura sanitária, desastres naturais, crise habitacional, migração, crime, tráfico, desperdício, poluição e participação comunitária.

A Bienal abre ao público no sábado, dia 28 de maio, e permanece aberta até domingo, 27 de novembro. Veja, a seguir, a declaração de Paolo Baratta e de Alejandro Aravena e não deixe de assistir também à entrevista com o Presidente da Bienal.

Declaração de Alejandro Aravena
Curador

Então, há penas duas novidades nessa conferência de imprensa. Uma diz respeito à imagem com a qual queremos capturar o espírito, a atmosfera e o escopo da Bienal. E a segunda tem a ver com os profissionais convidados – que queríamos que compartilhassem suas experiências e conhecimentos sobre o tema.

 Em relação à imagem, se trata de Bruce Chadian percorrendo a América do Sul e encontrando esta velha senhora que caminha no deserto com uma escada de alumínio em seus ombros. É a arqueóloga alemã Maria Reiche estudando as linhas de Nazca. Para aqueles de nós que estão na altura do solo, olhar para o deserto não revela nada além de pedras e cascalho. Mas da altura de uma escada, esta mulher encontrou um novo ponto de vista, uma nova perspectiva a partir da qual as pedras se tornam pássaros, flores, árvores. Então, se a realidade, para muitos de nós que estão no chão, não faz nenhum sentido, há algumas pessoas que encontraram um novo ponto de vista a partir do qual a realidade faz sentido e compartilham isso com todos nós, na altura do solo, a experiência, o conhecimento – eventualmente as ameaças e desafios – que veem a partir desse novo ponto de vista adquirido.

 Se continuarmos explorando a imagem, poderíamos pensar: por que uma escada? Bem, ela não tinha dinheiro para alugar um avião, nem a tecnologia dos drones para olhar para estas linhas. E ainda assim, com um instrumento muito modesto – uma escada de alumínio – ela pôde encontrar este novo ponto de vista. Então, penso que a partir daquele ponto não há desculpas de escassez de meios ou dificuldade de circunstâncias nas quais se deve operar, não há desculpas para não ir onde se quer chegar. É uma lição muito importante sobre a capacidade de aplicação da criatividade não apenas ao projeto ou à solução, mas também às ferramentas, para a compreensão dos procedimentos necessários para resultar em qualidade de vida.

 Mas se continuarmos indo mais a fundo, mesmo se ela tivesse o dinheiro para alugar um caminhão – ela provavelmente o tinha – ou um carro, afinal, teria sido mais rápido dirigir no deserto e subir em cima do carro para olhar as pedras, ela teria destruído o que estava tentando estudar. Então, há certa precisão e pertinência ao escolher a ferramenta adequada. Por um lado, não se deve culpar a dificuldade de se fazer algo, mas também, não se deve considerar como certo que os recursos que você tem à disposição podem solucionar o problema. Você ainda deve ser estratégico e esperto para identificar qual é o procedimento adequado. E tudo isso, de algum modo, é o que queremos que a Bienal seja, que as pessoas que vão visitá-la possam receber algo daqueles que alcançaram este novo ponto de vista. 

Alejandro Aravena 

Sobre este autor
Cita: Quintal, Becky. "Bienal de Veneza 2016 iniciará uma "cruzada contra a indiferença"" 03 Mar 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/783120/bienal-de-veneza-2016-iniciara-uma-cruzada-contra-a-indiferenca> ISSN 0719-8906

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