Como parte da cobertura do ArchDaily Brasil na Bienal de Veneza deste ano, compartilhamos a seguir informações sobre o Pavilhão do Brasil, que reúne quinze projetos e iniciativas de diferentes regiões do país e que tem curadoria de Washington Fajardo.
A Casa da Flor é uma arquitetura onírica erguida a partir do sonho de Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985). Filho de um escravo negro com uma índia, este trabalhador das salinas próximas a São Pedro da Aldeia (140 km do Rio de Janeiro) construiu sua casa a partir da coleta de restos e resíduos, os quais ganharam um novo sentido de uso nas paredes da pequena edificação unifamiliar.
O mesmo princípio moveu a arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) na Casa Valéria Cirell, em São Paulo. Primeira expressiva realização da arquiteta manifestando o que defendia ser o nacional-popular, em oposição ao modernismo hegemônico dos circuitos de debate e da produção arquitetônica na época. Bo Bardi vai se interessar pelo homem simples e popular, identificando signos da cultura negra e sentidos lentamente burilados por fricção e amálgama, por desejo de converter-se em outra coisa: no brasileiro.
A condição marginal das duas construções contém valores que precisam ser “penetrados” para compreensão mais central dos rumos a serem tomados pelo ambiente construído brasileiro. As casas de Gabriel e Lina dançam ENCRUZILHADAS. Semelhantes e distintas, moles e imprecisas, contudo amorosas e generosas na oferta de caminhos para uma felicidade possível, fulgurando dentro da percepção de crise e confusão da atual situação nacional.
Tais ECOS são observados nas últimas três décadas no Brasil, o período da redemocratização: enquanto a prioridade foi dada às agendas econômicas e sociais, a agenda territorial e do planejamento urbano foi incipiente. Identidade negra, centralidades urbanas históricas, acesso à cultura através da arquitetura e de conteúdos de design são os relatos deste pavilhão brasileiro: a busca pelo entendimento do que seria estarmos JUNTOS.
ECOS
Aparentemente território exótico da arquitetura internacional, o Brasil oferece amplo espectro humano e cultural, onde as forças daquilo que era entendido como utopia americana podem ainda oferecer redenções e respostas.
País negro, mestiço, tropical, hedonista, vanguardista, alegre, leve e intenso mantém pulsante em seus rincões mais profundos os valores de vida, a liberdade e a busca da felicidade que tanto associamos à América do Norte. Ao Sul poderia haver uma outra resposta ao atual mundo da pós-industrialização e do pré-apocalipse climático.
Ora empresa colonial que sonha com metrópoles fulgurantes, ora simulacro de ocidente surrealista, ora amálgama amoroso de forja católica, vagueia-se no Brasil em outro espaço-tempo, onde sobre si dobram-se a escravidão latente, a ousadia estética, a invenção de vida, a memória calorosa e o design que carnalmente busca a junção entre os diferentes.
A aparente complexidade e ineficiência do nosso ambiente construído podem conter também respostas mais elaboradas e generosas aos desafios que a humanidade estabelece desde sempre: viver junto, lembrar, amar, progredir e superar.
Estaríamos verdadeiramente alienados do mundo? Ou, nas diversas realidades urbanas brasileiras, haveria histórias de forças capazes de reestruturar territórios, cuja arquitetura não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual novas realidades são vislumbradas?
Não seria imperioso, mas sim jornada prazerosa, fazer mais com o que se tem. Imprecisão e incompletude seriam formas abertas à cooperação. Essas constantes falências também criam ciclos de fazer e de refazimento.
Como seriam tais ecos dessas mensagens hoje? Onde reverberaram?
Desde o fim da ditadura, na década de 80, o Brasil faz esforço pela democracia e seus feitos são singulares: reformas, estabilidade econômica, fortalecimento das instituições públicas, consolidação do Estado de Direito, acesso à educação, ao trabalho, à saúde, distribuição de renda, inclusão, cidadania. A perfeição não existe em nenhuma luta social, mas os feitos para um país de proporções continentais com mais de 200 milhões de habitantes são muitos.
As agendas econômicas e sociais foram prioritárias nos últimos 30 anos. Por sua vez, a agenda territorial e do planejamento urbano ainda é incipiente e anacrônica.
As emergências nacionais ainda induzem os governos a desprezarem processos de planejamento, de projeto, de design. Flexibiliza-se o ambiente de contratação de obras públicas em favorecimento a grupos financeiros-construtores, e diminui-se o papel fundamental da gestão do tempo da produção no ambiente construído por arquitetos e urbanistas. Brasília e seu lema de realizar “50 anos em 5” ainda são capital político no país e têm ressonância pela esfera política.
A modernidade brasileira descontextualizou as centralidades históricas e culturais na direção de escalas metropolitanas estéreis, massacrando os registros da sua ocupação original e sua capacidade de restituição de vigor.
Os centros urbanos eram vivos e pulsantes em manifestações culturais e políticas, e em sonhos de revitalização, mas hoje são tecidos esgarçados, ociosos, com as populações negras em êxodo para áreas informais e periferias, sujeitas à violência e segregação. Esta é a atual condição urbana brasileira. Algumas iniciativas incitaram um positivo movimento contrário como, por exemplo, o Corredor Cultural do Rio de Janeiro que, nas palavras de Augusto Ivan, um importante artífice do projeto, “tinha como premissas básicas: preservar os conjuntos arquitetônicos remanescentes; proteger os entornos dos monumentos históricos existentes; envolver no processo principalmente a população; salvaguardar o patrimônio imaterial que conferia ambiência especial a estas áreas; valorizar o multiculturalismo brasileiro.”
Os centros históricos ofereceram guarida ao homem popular e aos povos negros escravizados trazidos à força ao país. Contiveram o melting pot católico-candomblé-amoroso-libidinoso-antropofágico do Brasil. Foram os palcos da conquista da democracia. São os palcos das festas populares, dos carnavais. Entretanto, também são hoje esvaziados, precários, de baixa ocupação residencial, sujeitos a pressões grosseiras do mercado, e em eterna luta por vitalidade como consequência dos rastros funcionalistas e racionalistas que organizaram o território urbano dos anos 40 aos 60. Modernidade branca.
Sendo o primeiro país de maioria negra a sediar as Olimpíadas, o Brasil – nação afrodescendente – tem na graça de sua cultura a fagulha da sua preciosidade, sua unicidade, sua plena e real força americana. Na contribuição da população afro-brasileira é que exercemos a busca da felicidade. Pela mensagem da cultura negra somos impelidos a ficar juntos, ao amor, ao gozo, a dança, a uma inteligência humana superior, em conjugação de rara beleza.
Assim constitui-se a identidade, a cultura do ambiente construído brasileiro, o ambiente cultural forjado em três centralidades sobrepostas: os centros urbanos, a identidade negra, a ação cultural.
JUNTOS
População negra, centralidades históricas, acesso à cultura através da arquitetura e de conteúdos de design são os relatos deste pavilhão brasileiro: a busca pelo entendimento do que seria estarmos juntos.
Juntos no desamparo do ambiente construído e dos processos que deveriam fomentar o bom desenho das cidades – o espaço público, o edifico público, o planejamento urbano. Juntos como sociedade civil pelo esforço de construir a esfera pública e que lentamente conquista a arquitetura.
A sofreguidão, a imprecisão, o inacabado das soluções são pontos de abertura à cooperação e ao desejo de tornar-se coisa outra e rara – brasileira.
A proposta desta exposição é contar e recontar histórias de pessoas que lutam e conquistam mudanças em meio à passividade institucional das grandes cidades brasileiras. Conquista-se a arquitetura em processos lentos, cujo vagar não é problema mas um apontamento de solução ao esfacelamento político do planejamento do território.
Este pavilhão é composto dessas trajetórias e parcerias, do processo do encontro do ativista com o arquiteto e com a arquitetura, imanados pela elaboração do novo espaço.
Os lugares onde viveram, estudaram, trabalharam, constituíram família. Ou seja, a celebração da vida dessas pessoas em vídeos, fotos, cartas, artigos, poesias, dados, fatos, desenhos, diagramas. Assim compondo uma dispersão no tempo e no espaço desses esforços heroicos: um memorial dessas vidas imbricadas na melhoria do ambiente construído, nas suas comunidades, no resgate de um modo de ser e saber.
Arquitetura é cultura.
Esta não é uma mostra apenas de projetos, mas de processos e seus estados da arte, ora concluídos, ora por fazer, ora inacabados. Tais processos falam de arquitetura, urbanismo, patrimônio cultural, publicações, ativismo e tecnologia social.
O imperioso em exibi-los é por serem contra-argumentação ao silêncio das políticas territoriais no Brasil, onde houve avanços, mas tanto falta fazer sobre o chão que vivemos e sobre o ambiente construído como lugar da inclusão e da vida.
Veja a segui os projetos que fazem parte do Pavilhão do Brasil na 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza.
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Vila Flores / Goma Oficina
Um processo arquitetônico: ressignificação, coletividade e aprendizado
O Projeto Vila Flores vem acontecendo ao longo de 6 anos e por muitas mãos, devendo ser descrito com uma lógica que o inscreve no tempo e guia seu partido arquitetônico, pela perspectiva da VIDA que hoje nele pulsa.
Datado de 1928, localizado na antiga região industrial na várzea do Rio Guaíba, Porto Alegre, o conjunto de edificações não apenas permitiu como inspirou o Vila Flores. A semente de um espaço compartilhado, adequado ao desenvolvimento de atividades colaborativas, já estava no projeto original de Joseph Lutzenberger, pela
Ocupar, trabalhar, viver e conviver são as bases para o processo de readequação do conjunto arquitetônico, que está listado como interesse cultural para o patrimônio da cidade. O projeto vem sendo desenhado de maneira processual e colaborativa, desde 2011, quando o conjunto arquitetônico foi aberto para a comunidade com a intenção de tornar-se um centro de cultura, educação e economia criativa. de ouvidos abertos para a construção de uma ideia coletiva diversificação dos tamanhos das unidades destinadas uso misto e pela concepção dos espaços de uso comum.
Parque + Instituto Sitiê / +D Studio
As intervenções espaciais no Sitiê são caracterizadas pela aplicação de uma arquitetura híbrida. Trabalhamos nosso design de acordo com as capacidades e recursos do contexto para ter o maior impacto possível e empoderar a apropriação pela comunidade das soluções e tecnologias aplicadas e desenvolvidas.
Desenvolvemos desde projetos de baixa densidade tecnológica construtiva mas de alto impacto como a Ágora Digital, feita com 386 pneus, entulho e concreto totalizando 23 toneladas de material reciclado, até projetos como a praça e escada do Sitiê, desenhada pelo +D em processo de design participativo e em parceria com a Arup, que sintetiza várias das tecnologias mais modernas de construção.
O que une essas intervenções são os princípios fundamentais da primazia do programa espacial e sua funcionalidade, a busca incessante por excelência estética e a multifuncionalidade de ambos os espaços.
A Ágora Digital serve ao mesmo tempo como muralha de contenção, sistema de drenagem do vinco mais critico na topografia do parque e espaço público enquanto a praça e a escada, funcionam como espaço público vertical com conexões espaciais aos negócios locais e áreas lúdicas como seu deck, contenção da encosta entre o Sitiê e o grid principal da comunidade e como sistema de coleta [99% de sua superfície], tratamento e distribuição de água para o parque e a comunidade.
Com a Ágora Digital, publicada como caso de inovação no urbanismo e democracia no livro Responsive City, dos professores de Harvard, Susan Crawford e Stephen Goldsmith, e a praça e escada, premiada com o SEED Design Awards 2015, nós aprendemos que só focar e trabalhar nas escalas da arquitetura e do urbanismo não é suficiente para resolver os problemas de nosso tempo.
Mais do que nunca por função e filosofia temos de reunir todas as escalas no design e mover a prática arquitetônica para o conceito de arquitetura de territórios.
Os desafios da Integração Urbana, Desigualdade e Mudança Climática nos forçam a praticar a arquitetura/design tanto como disciplina e processo capaz de integrar as outras disciplinas num projeto comum para responder aos nossos maiores problemas que são todos interdisciplinares.
Nosso foco, Sitiê, +D e Arup, na síntese de função social, excelência estética e inovação tecnológica capaz de responder ao representativo contexto do Sitiê e do Vidigal, também é dedicado a integração dos espaços físico e digital. A área matriz do Sitiê por exemplo tem um raio de 500m de internet livre para os usuários do parque e comunidade e nosso plano é expandir essa rede, pela praça e escada e por todas as trilhas que estamos desenvolvendo num maciço dos Dois Irmãos.
De forma mais aplicada ao design, desenvolvemos modelagens espaciais e simulações/modelagens matemáticas sobre o espaço urbano e suas interações [água, saúde, etc] em parceria com o Stevens Institute of Technology, e com a Autodesk Foundation. Iniciativas como essa e as parcerias institucionais com o +D e a Arup refletem o fato de que o Sitiê é tanto um parque e instituto como um laboratório de inovação urbana entre a comunidade e expertise global.
Escola Novo Mangue / O Norte – Oficina de Criação
Na década de 90, a ONG Centro de Cidadania Umbu-Ganzá atuava na comunidade do Coque e captou, juntamente com o UNICEF, recursos da Rede de TV e Rádio de Luxemburgo para construção de um equipamento público a ser definido pela coletividade. Os moradores optaram por uma escola de ensino fundamental, tendo em vista a carência deste tipo de equipamento no bairro. No Coque a taxa de analfabetos funcionais para a população adulta é de 81% e para jovens entre 18 e 24 anos é de 74% (IBGE 2000). Coube à Prefeitura da Cidade do Recife adoação de um terreno de 1.700,00 m2, localizado às margens do braço morto do Rio Capibaribe, para a construção da escola.
A ONG promoveu um concurso para escolha do projeto a ser construído, com uma comissão julgadora formada por representantes da comunidade e da Secretaria de Educação do Recife.
Entendendo os anseios dos envolvidos no processo, três premissas básicas nortearam a concepção da proposta vencedora da escola e foram vitais para na decisão da escolha pela comunidade: dar ao Rio Capibaribe um protagonismo no novo cenário a ser construído; desenvolver um equipamento de qualidade com alta performance ambiental dentro das grandes restrições orçamentárias impostas pelo concurso; e criar um produto arquitetônico resistente ao vandalismo, tendo em vista a difícil realidade social do Coque e seus altos índices de criminalidade.
A decisão de abrir o edifício ao Rio Capibaribe determinou o espírito do empreendimento: um local de formação educacional preocupado com o meio-ambiente onde todas as salas de aula se abrem para um rio poluído, e que passaria a ser observado, cuidado e transformado. A implantação em “L” gerou um pátio de preciosa qualidade espacial tanto como transição entre o rio e o edifício tanto como lugar de respiro e contemplação do mangue. A espacialidade proposta reafirmou a importância do rio e facilitou o trabalho educativo e curricular da escola para revigorar a vegetação ribeirinha e transformar a paisagem do entorno do edifício. Esta iniciativa não só alterou completamente a paisagem ao longo dos anos, como também fez mudar o próprio nome da escola que passou a se chamar Novo Mangue.
Após a implantação da escola toda a área foi revitalizada pelos alunos com o reflorestamento do manguezal.
Casa Vila Matilde / Terra e Tuma Arquitetos
Em 2011, um rapaz nos sondou sobre a possibilidade de projetar uma casa para sua mãe, pessoa de poucas posses, que morava em uma casa com sérios problemas de estrutura e salubridade.
Dona Dalva há décadas mora na Vila Matilde. Próximos vivem primos, tios, irmãos e amigos. A primeira opção era vender a casa, valor que somado a uma vida de economias daria para comprar um pequeno apartamento, mais afastado e, provavelmente, sem elevador, situação complicada para seus setenta e poucos anos.
Em pouco tempo aclarou-se o óbvio, resistir ao deslocamento, ao isolamento. Não mudar. Levantada a bandeira, cabia a nós e a uma rede de colaboradores mantê-la de pé. Sabíamos que uma vez iniciado o movimento, não haveria volta, tinha que dar certo até o fim. Tanto os projetos quanto a obra deveriam se adequar aos restritos recursos financeiros da família.
No início de 2014 a casa dava nítidos sinais de afecção e começou a ruir. Dona Dalva foi morar de aluguel na casa de um parente próximo. A casa nova precisava ser construída o mais rápido possível, caso contrário o aluguel consumiria os seus recursos por completo.
Utilizamos nossas recentes experiências com estrutura e blocos aparentes, para viabilizar uma obra de baixo custo, com maior controle e agilidade.
O maior desafio foi a fase inicial da obra. Foram quatro meses demolindo cuidadosamente a casa antiga, ao mesmo tempo em que se executavam as fundações e arrimos que escoravam as casas vizinhas, apoiadas em seus muros de divisa. Seis meses depois de se iniciar a execução das alvenarias a casa pôde ser concluída.
A casa está implantada em um lote com 4,8 metros de largura por 25m de profundidade. O programa dispõe uma casa térrea, com sala, lavabo, cozinha, área de serviço e suíte no térreo a fim de atender a demanda da moradora. Uma articulação entre lavabo, cozinha, área de serviço e um jardim interno conectam a sala, localizada na parte frontal, e os quartos localizados na parte posterior.
Na área central da casa, o pátio cumpre a função essencial de iluminar e a ventilar. Esta área, serve também como extensões da cozinha e da área de serviço.
No pavimento superior uma suíte foi projetada para receber visitas, totalizando uma área de 95m². A área sobre a laje da sala foi apropriada como horta, e poderá ser coberta, ampliando o programa da casa a fim de atender a futuras demandas. Uma solução simples, resultado de um processo longo, complexo e gratificante.
Placas de Rua da Maré / Laura Taves, Azulejaria e ONG Redes de Desenvolvimento da Maré
A Maré é um bairro. Conhecida como Favela da Maré ou Complexo da Maré, é um entre os 160 bairros do Município do Rio de Janeiro, o 9º mais populoso. Possui cerca de 139.000 habitantes, 43.000 domicílios e 16 comunidades. Sua população é maior do que a de 80% dos municípios do Brasil. Está localizada, entre as principais vias de acesso da cidade do Rio de Janeiro, à margem da Baía de Guanabara, em uma área de 0,8 km2. Para cada 01 habitante de Veneza existem 270 habitantes da Maré. É impossível não vê-la.
A Maré é resistência. Reconhecida pela força de sua militância, reúne uma série de organizações públicas e não-governamentais, dentre elas a Associação Redes de Desenvolvimento da Maré que trabalha para melhoria da qualidade de vida e garantia de direitos da população da região.
A Maré é rica. Dentre seus habitantes, aproximadamente 35.000 são crianças entre 5 e 15 anos. Muitas destas participam das oficinas de arte oferecidas pela Azulejaria, que visa fortalecer as potências individuais de seus participantes e se faz presente em painéis artísticos de azulejos no espaço urbano, dialogando com a cidade e expandindo suas fronteiras.
As Ruas. Em 2012 foi lançado o Guia de Ruas da Maré. Gerado a partir da cartografia do bairro, um trabalho de mais de 10 anos. Era a primeira vez que todas as ruas, becos e travessas da Maré foram incluídas no mapa oficinal cidade. Além da definição de todos os nomes, o próximo passo seria a oficialização das mais de 700 ruas pela municipalidade.
As Placas. A produção piloto das placas de rua foi uma ação mobilizadora, convidando a população a um exercício de reconhecimento de seu bairro e sua identidade. Na Maré, a escolha do material cerâmico é simbólica, pois é reconhecido pela população local num espaço onde o apelo visual é muito disputado. Além de um projeto urbano construído coletivamente, é também um ato plástico e político.
A Maré à vista. Em 2013, a Placa de Rua da Maré passou a fazer parte do acervo do Museu de Arte do Rio. Em 2014 foi atualizado o guia de ruas, com todas os logradouros nomeados. Em 2015, a municipalidade oficializou rua por rua, e em abril de 2016 foram publicados os decretos oficializando-as, como se cada rua ganhasse, finalmente, a sua certidão de nascimento. Visibilidade e reconhecimento são os primeiros passos para que se exerça a cidadania e o direito à cidade.
A MARÉ É.
Ciclo Rotas do Centro / Clarisse Linke, Zé Lobo e Pedro Rivera
O projeto Ciclo Rotas Centro, desenvolvido em parceria pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), Transporte Ativo e Studio – X Rio, teve início em 2012 e contou com a participação de representantes da sociedade civil, urbanistas, arquitetos e interessados em geral.
Foram promovidos encontros para analisar os projetos de infraestrutura cicloviária existentes para o Centro da Cidade do Rio de Janeiro e a realização de um estudo para propor um novo planejamento baseado na experiência de quem realmente usa a bicicleta como meio de transporte.
Uma série de workshops, pesquisas de campo e contagens do fluxo de bicicletas foram realizadas, em cinco locais-chave sem estrutura cicloviária, para elaboração do planejamento das regiões do Centro, Lapa, Saúde e Gamboa.
O projeto Ciclo Rotas Centro faz integração com a infraestrutura já existente no Aterro do Flamengo e aponta soluções para as futuras conexões com a Grande Tijuca, os bairros da Glória, Catete e também com os 17 km de ciclovias que ainda serão construídas na região do Porto Maravilha.
O primeiro workshop, realizado em 2012 no Studio-X Rio, foi o ponto de partida para a elaboração do projeto. Durante o encontro, foram analisados documentos e mapas com os planos para a cidade e, através de dinâmicas de grupo com a utilização de painéis participativos, sugestões e propostas formaram a base para elaboração das pesquisas de campo.
Em 2013, com patrocínio do Banco Itaú, a exposição Ciclo Rotas foi exibida no Studio-X Rio e apresentou os resultados da pesquisa coletiva que mapeou as novas rotas da região. O estudo ofereceu uma proposta de malha cicloviária para o centro da cidade através de painéis com o contexto local e global do uso das bicicletas, sintetizado num mapa/cartaz todo o conteúdo da pesquisa.
Em setembro de 2013, no Dia Mundial sem Carro, o ITDP Brasil, o Studio-X Rio e a Transporte Ativo promoveram o Park(ing) Day com uma versão condensada da exposição Ciclo Rotas Centro.
No início de 2014, a ciclofaixa da Av. Graça Aranha foi inaugurada conectando o Centro à Zona Sul da cidade através da estrutura cicloviária já existente no Aterro do Flamengo. Vagas de estacionamento foram reposicionadas e 90 bicicletários públicos foram instalados na região.
Em 2015, o ITDP Brasil, o Studio-X Rio e a Transporte Ativo realizaram uma atividade colaborativa com objetivo de promover a ampliação do programa Ciclo Rotas a outras áreas da cidade, por meio do desenvolvimento de um novo aplicativo mobile. Sob a orientação do designer de experiências Daniel Perlin, os participantes foram divididos em quatro grupos e convidados a refletir sobre as necessidades básicas de quem pretende se deslocar de bicicleta pela cidade e como coletar informações que auxiliem na expansão da rede cicloviária do Rio.
Conjunto Habitacional do Jardim Edite / MMBB Arquitetos + H+F Arquitetos
O conjunto Habitacional do Jardim Edite foi projetado para ocupar o lugar da favela de mesmo nome que se situava nesse que é um dos pontos mais significativos para o recente crescimento do setor financeiro e de serviços de São Paulo: o cruzamento das avenidas Engenheiro Luís Carlos Berrini e Jornalista Roberto Marinho, junto à ponte estaiada, novo cartão postal da cidade.
Para garantir a integração do conjunto de habitação social à sua rica vizinhança, o projeto articulou a verticalização do programa de moradia a um embasamento constituído por três equipamentos públicos – Restaurante Escola, Unidade Básica de Saúde e Creche – orientados tanto para a comunidade moradora como para o público das grandes empresas próximas, inserindo o conjunto na economia e no cotidiano da região.
O pavimento de cobertura desses equipamentos, como um térreo elevado do condomínio residencial, interliga todos os edifícios habitacionais em cada quadra, conferindo à convivência dos moradores uma adequada reserva em meio à escala metropolitana da área circundante.
O projeto possui uma área total construída de 25.500 m², com 252 Unidades Habitacionais de 50 m². O Restaurante Escola tem 850 m², a Unidade Básica de Saúde, 1300 m², e a Creche, 1400 m².
Piseagrama / Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado
PISEAGRAMA é uma revista sobre espaços públicos: existentes, urgentes e imaginários.Editada por Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado, Felipe Carnevalli e Vitor Lagoeiro (assistentes), a revista articula e promove relações entre as artes, a política e a vida cotidiana, publicando boas histórias, ensaios críticos, jornalismo literário e práticas urbanas, sempre com foco na noção de público.Além da publicação, PISEAGRAMA realiza e promove uma série de ações em torno de questões de interesse público como debates, micro-experimentos urbanísticos, oficinas, campanha com propostas para as cidades, loja itinerante e publicação de livros.
Parque de Madureira / Ruy Rezende, Rio de Janeiro - Mauro Bonelli e Tia Surica
O projeto visa criar um equipamento público sustentável, baseado em um Programa de Educação Socioambiental. Há mais de 20 anos, estudos apontam a demanda de áreas verdes públicas para a Zona Norte da Cidade do Rio do Janeiro. Numa região com 97% de ocupação antrópica e menos de 1m2 de área verde por habitante, o novo parque alterou este cenário urbano de maneira tal a transformar a vida dos seus habitantes.
O Parque Madureira Rio+20 foi inaugurado em Junho de 2012 tornando-se o terceiro maior parque público da cidade, com 109.000m2. E as obras de sua expansão avançam a cada dia. O Parque Madureira Rio+20 foi inaugurado em Junho de 2012 tornando-se o terceiro maior parque público da cidade, com 109.000m2. E as obras de sua expansão avançam a cada dia.
Com milhares de visitas (20-25.000) durante os fins de semana o parque tornou-se o coração verde da região, seu espaço abriga quadras polivalentes, de futebol, playgrounds, academia da terceira idade, academias ao ar livre, ciclovia e estações de bicicleta, área para prática de bocha e tênis de mesa. Destaque para a Praça do Samba, um dos maiores palcos a céu aberto da cidade, o Centro de Educação Ambiental, criado com o objetivo de disseminar conceitos de sustentabilidade, a Praia de Madureira e o Skate Park, considerado um dos mais completos da América Latina.
Sistema de irrigação controlado por sensores meteorológicos, edificações com paredes e tetos verdes, recuperação da fauna e flora da região, com mais de mais de 800 árvores e 400 palmeiras plantadas, energia solar, controle de resíduos sólidos, sistema de reuso de água, pisos permeáveis e utilização de lâmpadas LED, garantiram ao Parque Madureira a conquista do primeiro certificado de qualidade ambiental AQUA atribuído a um espaço público brasileiro.
A expansão do parque, atualmente em andamento, segue seu curso através de mais 6 bairros. Nascido em Madureira, o parque ganhará mais 255.000m² construídos com os mesmos conceitos e princípios originais, para não ser somente um espaço público verde, mas uma mudança na qualidade de vida das pessoas.
Selo de Qualidade MCMV / Nanda Eskes e Letícia Monte
Casa do Jongo / Pedro Évora e Pedro Rivera
Circuito da Herança Africana / Sara Zewde, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade
Circo Crescer e Viver / Rodrigo Azevedo (AAA_Azevedo Agência de Arquitetura) e Maxime Baron
Escola Vidigal / Brenda Bello e Basil Walter (BWArchitects)
Programa Vivenda / Fernando Amiky Assad, Igiano Lima de Souza, Marcelo Zarzuela Coelho
As descrições de cada projeto foram escritas pelos próprios autores dos projetos.