Na última sexta-feira, 5 de agosto, o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, foi palco da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Acompanhada por um público de mais de 60 mil pessoas e outras 3 bilhões que assistiram ao evento televisionado, não é exagero afirmar que o mundo estava vendo a “cidade maravilhosa”.
Com direção do cineasta (com formação em arquitetura) Fernando Meirelles, a apresentação de abertura dos Jogos colecionou elogios de diversos meios de comunicação de todo o mundo, tanto pelo espetáculo visual como por seu orçamento, de aproximadamente R$127 milhões, consideravelmente inferior ao das duas últimas olimpíadas de Londres (2012) e Pequim (2008), que contaram, respectivamente, com 12 e 20 vezes mais dinheiro para realizar espetáculo de abertura.
Uma versão instrumental da música “Construção” de Chico Buarque e o parkur
A apresentação mostrou ao mundo algumas etapas e marcos importantes da história do Brasil, desde a chegada dos europeus a terras brasileiras até a urbanização de nossas cidades. Estes momentos históricos foram narrados por projeções sobre o solo e estruturas prismáticas, que serviram de palco para dançarinos coreografados por Deborah Colker.
A sequência dos dançarinos fazendo parkour, sincronizado com o movimento dos edifícios projetados sobre o solo conduz a cena a um conjunto irregular de estruturas que recebe, através da técnica de projection mapping, imagens de fachadas de edifícios – fotografadas por Pedro Kok –, formando um aglomerado de prédios que remete aos processos de urbanização das cidades brasileiras. A imagem do conjunto urbano rapidamente se transforma pela simples mudança nas projeções, formando em seguida a imagem de uma favela – produto dos processos de urbanização.
O uso de projeções pontuais e precisamente adaptadas ao conjunto de estruturas leves e ao solo foi uma estratégia bastante inteligente da equipe de criação – dirigida por Abel Gomes e composta por Daniella Thomas, Andrucha Waddington, além de Meirelles e Colker –, transformando um palco estático em uma miríade de cenários possíveis.
Gisele e as curvas de Niemeyer
Todavia, talvez o momento mais esperado do espetáculo tenha sido o desfile da modelo Gisele Bündchen. Desconsiderando toda a polêmica sobre o suposto “assalto” à modelo que seria simulado durante sua passagem pelos holofotes, a simples presença de Bündchen bastou. Nesta que foi, segundo os comentários ao vivo da abertura, a “maior passarela de sua vida”, Gisele desfilou por 105 metros ao som de Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Nas projeções, marcando o caminho da modelo, curvas de Niemeyer.
O ícone da Ecologia, tema da abertura das Olimpíadas
O cartunista Ziraldo criou o ícone da ecologia apresentado como tema da cerimônia de abertura das Olimpíadas. De acordo com o comitê olímpico, é o símbolo paz ao contrário florido. Na ocasião, a imagem ganhou estaque no centro do Maracanã logo no início da festa.
Homenagem ao Athos Bulcão e ao Burle Marx
Dançarinos seguraram papéis pratas em homenagem aos desenhos de Athos Bulcão em palco que tinha referências ao Jardim de Burle Marx.
Anthony Howe e a pira olímpica
A pira das Olimpíadas do Rio tem uma pequena chama, que fica em frente da escultura do artista plástico Anthony Howe, formando um conjunto que representa o sol. A quantidade pequena de fogo, segundo a Rio 2016, faz da pira de 2016 uma chama de baixa emissão de carbono.
Diferentemente das mensagens das Olímpiadas de Pequim (A China é Grande!), e de Londres (O Reino Unido foi Grande!) a mensagem subjacente ao espetáculo do Rio foi uma: precisamos tomar consciência sobre nossas ações e como elas podem influenciar o mundo e nosso futuro. Mensagens claras sobre emissões de gases estufa, desmatamento, poluição, reciclagem e reflorestamento pontuaram a abertura dos Jogos e envolveram inclusive as comissões olímpicas dos mais de 200 países.
Observando a reação da equipe criativa logo após a cerimônia e lendo as críticas em jornais de todo o mundo, não é arriscado dizer que o espetáculo de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 foi um sucesso. O espanhol El País avaliou a cerimônia como “um êxito para o Brasil”, que “deixou de lado as diversas crises que vive o país.” Apesar de toda a tensão, “durante as mais de três horas, o Brasil se deu um respiro.” E continuou, “houve orgulho, muito orgulho por parte de um país que tem tido poucos motivos para isso nos últimos tempos.” Não se pode negar. Já o chileno La Tercera foi mais acalorado quando à abertura e ao trabalho de Abel Gomes e equipe: “Espetacular, espetacular, espetacular”, repetiu o jornal.
Referências: Moderna, El País, La Tercera, Globo, G1