A escolha do Rio de Janeiro para sediar as primeiras Olimpíadas na América do Sul levou a um boom de projetos e obras que se seguiu a um longo período de estagnação econômica e cultural nesta cidade de 6,3 milhões de habitantes.
Mesmo que muitas promessas tenham ficado no papel – como a despoluição da Baía de Guanabara e a urbanização de 260 favelas - entre outubro de 2009 e agosto de 2016 surgiram arenas, obras viárias, lançamentos imobiliários, edifícios corporativos, museus, hotéis. Além de obras na área portuária que incluíram a demolição de um elevado de 7 km e a abertura de 4km de túneis, com trechos escavados sob alguns dos sítios de maior valor histórico, paisagístico e simbólico da cidade.
Esse processo mobilizou agentes públicos e privados, em diferentes modelos de parcerias. E ainda que em novo registro, contou-se mais uma vez com os apelos da “modernização” para justificar um modelo de transformações ancorado na arquitetura e acompanhado de imensos custos financeiros, sociais e ambientais.
Mas quanto de inovação trouxeram consigo esses projetos, e quais deles são dignos da arquitetura e dos espaços urbanos que esta cidade já produziu? Que alternativas surgiram para o modelo predatório que domina grandes cidades hoje com edifícios cada vez mais desumanos? Em que medida os projetos e intervenções conduziram efetivamente à redução das desigualdades sociais que são tão abissais nesta cidade? Que grau de participação teve a sociedade? E que cidade resultará de todo este processo, afinal?
Um grupo de estudantes da PUC-Rio lançou o website RioNow.org para mostrar a pesquisa que realizou sobre as mudanças que as Olimpíadas trouxeram para o Rio. Seu principal elemento é uma linha do tempo começando em outubro de 2009, quando o Rio foi selecionado na disputa pelas Olimpíadas. Contudo, mais que apenas documentar as construções e projetos de infraestrutura inauguradas pela Copa do Mundo de 2014 e pelos Jogos Olímpicos de 2016, a linha do tempo usa múltiplas fontes para exibir as complexas transformações ocorridas tanto no Rio quanto no Brasil.
A linha do tempo também apresenta imagens de inaugurações de grandes projetos arquitetônicos e construção como a abertura da passarela projetada por Niemeyer na Rocinha e o intervalo de tempo para as mudanças do Parque Olímpico na Barra da Tijuca e a demolição do elevado da Perimetral como parte da revitalização da Região Portuária.Declarações de autoridades do governo, da FIFA e das Olimpíadas estão destacadas em amarelo, dando ideia das mudanças no clima político. E os principais eventos no Rio e no Brasil, da ocupação militar da Maré ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, também servem como outro eixo para se entender as mudanças no cenário físico e social ao longo dos últimos sete anos.
Os estudantes também produziram um jornal, disponível no site, que foi distribuído em momentos-chave durante os Jogos. O jornal, escrito em inglês e português, destaca muitas das descobertas do estudo e mostra uma versão condensada da linha do tempo entre 2015 e 2016.
RioNow.org também apresenta uma lista das 100 construções e projetos de revitalização urbana com o maior impacto público construídos durante a preparação dos Jogos. A lista mostra empresas de arquitetura à esquerda, os projetos ao centro e as firmas construtoras que executaram os projetos à direita. Apesar do layout simples, a lista mostra o quão complicadas essas relações realmente são e as dificuldades de se descobrir quem é responsável por muitos desses projetos de legado.
O site também inclui um mapa topográfico no qual os picos representam lugares com mais projetos de infraestrutura, arquitetura e renovação urbana, principalmente na Barra da Tijuca e na Zona Portuária. Muito pouco foi feito nas Zonas Norte e Oeste, onde a maior parte da população da cidade vive e onde muitos dos removidos foram morar.
Explore as informações compiladas pelos estudantes na página RioNow e conheça mais sobre os efeitos dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.
Via RioNow e Rio on Watch