Marwa Al-Sabouni explica como a arquitetura síria estabeleceu as bases para a guerra

Em 2014, a arquiteta síria Marwa Al-Sabouni venceu a categoria Síria no concurso de habitação coletiva da UN Habitat com um sistema de habitação que ela desenvolveu para a cidade de Homs, sua cidade natal. Agora, mais de dois anos depois, a Thames and Hudson publicou seu livro Battle for Home: The Vision of a Young Architect in Syria. Durante todos estes eventos, al-Sabouni permaneceu na Síria, e como disse o The Guardian: "Com bombas caindo em torno dela, a arquiteta síria Marwa Al-Sabouni permaneceu em Homs durante a guerra civil, fazendo planos para construir esperança a partir da carnificina."

Nesta palestra TED, Al-Sabouni argumenta "que, embora a arquitetura não seja o eixo em torno do qual toda a vida humana orbita... ela tem o poder de... direcionar a atividade humana". Ela acredita que as antigas cidades islâmicas da Síria foram, outrora, harmoniosas entidades urbanas que advogavam pela co-habitação e tolerância através de seus tecidos. No entanto, ela afirma que durante do último século, começando com a colonização francesa, as antigas cidades eram vistas como não modernas e foram gradualmente "melhoradas" com elementos da modernidade: "blocos de concreto brutos e sem acabamentos, devastação estética e divisões comunitárias que zonearam as comunidades por classe, credo ou ascendência." Essa condição urbana, ela argumenta, é o que criou as condições para a revolta que se tornou guerra-civil.

A destruição de Homs, Síria. Imagem © Wikimedia Commons user Bo Yaser licensed under CC BY-SA 3.0

Com o governo sírio se preparando para a reconstrução das cidades após o cessar-fogo estabelecido em dezembro de 2015, Al-Sabouni espera evitar que antigos conflitos aconteçam novamente com um tecido urbano renovado. Isso traz a famosa retórica corbusiana, "Arquitetura ou Revolução", mas, curiosamente, parece que é conta uma visão corbusiana que Al-Sabouni luta contra. 

Antes do conflito, a cidade de Homs era a terceira maior da Síria. Lar de quase um milhão de pessoas, era um importante centro industrial que refletia a diversidade religiosa do país, composto por muçulmanos sunitas, alauítas e cristãos. Historicamente, Homs sempre foi um lugar diversificado, com várias mesquitas e igrejas históricas por toda a cidade. Mas em meados do século XX, após a França tomar o controle da Síria como parte do acordo Sykes-Picot, Homs foi o palco de um processo de modernização influenciado por Le Corbusier.

Vista de Homs em 2010. Imagem © Flickr user zz77 licensed under CC BY-NC-ND 2.0

Apelidada de "capital caída" da evolução síria, grande parte de Homs permanece em escombros após a retirada das tropas rebeldes da região. Durante Baba Amr, as hostilidades, o governo lançou uma grande ofensiva no distrito de Baba Amr, que era predominantemente ocupado por muçulmanos sunitas, para combater grupos rebeldes. Al-Sabouni cita a condição de favelização dessas áreas como a raiz do conflito em Homs.

À medida que o conflito esfria, o governo da Síria planeja a reconstrução de Homs, e particularmente do distrito de Baba Amr. O plano urbano consiste em altas torres e largas rodovias -- o tipo de urbanismo do Oriente Médio que é melhor exemplificado em cidades como Dubai e ao qual Al-Sabouni se opõe.

Proposta de Marwa Al-Sabouni para Baba Amr. Cortesia de Render (Marwa Al-Sabouni & Khaled Komee)

Em seu esforço para criar uma arquitetura que "retribui" ao público, ela, juntamente com a equipe Render, formulou uma proposta urbana inspirada nas árvores que é capaz de crescer e se espalhar organicamente e que remete aos antigos becos da cidade, incorporando edifícios residenciais, pátios privados, comércios, oficinas, parques, áreas de lazer e esportes e muita vegetação. Embora a proposta de Al-Sabouni tenha sido reconhecida internacionalmente, o governo em vigor rejeitou o projeto para Baba Amr. 

Proposta de Marwa Al-Sabouni para Baba Amr. Cortesia de Render (Marwa Al-Sabouni & Khaled Komee)

Al-Sabouni reconhece que há muitas formas de reconstruir a cidade. Em relação ao seu plano, ela comenta que "está muito longe de ser perfeito, obviamente. Desenhei-o durante as poucas horas em que temos eletricidade. E há muitas formas possíveis de expressar pertencimento e espírito comunitário através da arquitetura. Mas compará-lo com os blocos livres desconectados propostos no projeto oficial de reconstrução de Baba Amr... Podemos aprender com isso. Podemos aprender como reconstruir de outro modo, como criar uma arquitetura que não contribui apenas com os aspectos práticos e econômicos da vida das pessoas, mas também com suas necessidades sociais, espirituais e psicológicas."

Proposta de Marwa Al-Sabouni para Baba Amr. Cortesia de Render (Marwa Al-Sabouni & Khaled Komee)

Sobre este autor
Cita: Doroteo, Jan. "Marwa Al-Sabouni explica como a arquitetura síria estabeleceu as bases para a guerra" [Marwa Al-Sabouni Explains How Syrian Architecture Laid the Foundations for War] 09 Set 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/794952/marwa-al-sabouni-explica-como-a-arquitetura-siria-estabeleceu-as-bases-para-a-guerra> ISSN 0719-8906

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