Este artigo é parte da nossa nova série "Material em Foco", que pede a arquitetos para refletir sobre o processo de pensamento por trás de suas escolhas de materiais e ilumina os passos necessários para a construção de seus edifícios.
A Loja Outsider, foi projetada pelo escritório BLOCO Arquitetos. O projeto com 400 metros quadrados é uma conversão de um antigo galpão localizado o Setor de Oficinas (SOF), fora da área tombada de Brasília.O galpão foi transformado em uma loja de móveis, galeria de arte, antiquário e oficina gastronômica. Com orçamento limitado o galpão existente recebeu uma nova camada de construção, e manteve a totalidade da estrutura e a maior parte das paredes.O desafio era requalificar o edifício para seus novos usos através da mínima intervenção possível. Nós conversamos com o arquiteto Daniel Mangabeira da Vinha para saber mais sobre as escolhas dos materiais e sobre os desafios do projeto.
Quais são os principais materiais usados no projeto em questão?
DMV: Piso de cimento queimado, bloco de concreto e canaleta de concreto nas paredes. Os andaimes também são parte importante da concepção espacial e foram reaproveitados da obra para expor o mobiliário. Os demais materiais, como azulejo do artista Pedro Verçosa, estante de madeira, piso de borracha, e o portão de ferro (aproveitado da obra), foram utilizados de maneira pontual.
Quais foram suas maiores fontes de inspiração e influência quando estavam escolhendo os materiais empregados no projeto?
DMV: Um grande definidor do emprego de determinados materiais neste projeto foi o custo e o prazo de execução da obra. Além disso, não utilizamos em nossos projetos nenhum material que imite outro material, portanto, jamais utilizamos e jamais utilizaremos materiais imitativos ou que tentem ser semelhantes a um pré-existente. O galpão está localizado em uma área industrial, portanto, também quisemos utilizar materiais brutos que não necessitassem de grandes manutenções ou que atribuíssem um aspecto delicado ao projeto.
Descreva como as decisões relativas aos materiais influenciaram a concepção do projeto.
DMV: Elas sempre influenciam. Na verdade há uma troca de influências, pois a concepção do projeto também orienta a decisão de determinados materiais. Em projetos de baixo custo como este a escolha foi definidora inclusive de soluções construtivas. Utilizamos no projeto o bloco de concreto e a canaleta de concreto (com aspecto idêntico ao bloco) para conseguirmos fazer a parede inclinada da frente da loja. Se não houvesse essa canaleta teríamos que mudar o projeto.
Quais foram as vantagens que este material ofereceu para a construção do projeto?
DMV: Vantagens de custo, facilidade de montagem, não haver necessidade de precisão na aplicação do material (pois a mão de obra era rudimentar) e velocidade na montagem seriam as principais vantagens.
A escolha dos materiais impôs algum tipo de desafio ao projeto?
DMV: Sim. Foi com base na escolha que o projeto nasceu. O projeto dependeu da possibilidade de uso dos blocos de concreto na criação da parede inclinada da entrada da loja. Caso o material não comportasse a inclinação ou caso o material alterasse a proposta, teríamos que alterar o projeto e consequentemente o material. No caso desta loja o material foi condição sine qua non para realização do projeto.
Vocês chegaram a considerar outras possibilidades de materiais para o projeto? Como isso teria alterado o projeto?
DMV: Não. Caso o material principal (blocos de concreto) não pudesse ser utilizado, teríamos alterado o projeto como um todo.
Como vocês pesquisaram os fornecedores e construtores adequados aos materiais empregados no projeto?
DMV: No caso da outsider o que contou foi o prazo de entrega e o preço, portanto, pesquisamos em fábricas locais os materiais que havia disponíveis para compra imediata. Em virtude da pressa da cliente na construção, não poderíamos depender de material de outro estado.