A construção da Sagrada Família, a inconclusa obra prima de Antoni Gaudí em Barcelona, ao longo de seus 134 anos, havia evitado três conflitos: a ausência da permissão de construção (atualizado), o pagamento de impostos, e a incerteza se seria ou não construída a grande explanada sudoeste idealizada por Gaudí, que atualmente exigiria a desapropriação de 3 mil moradoras próximos à fachada da Glória da Sagrada Família.
Nos últimos dias, os três problemas eclodiram quase que simultaneamente. Amargurado por este que, segundo sua visão, é "um projeto sem planejamento em nome de Gaudí", o conselheiro de Arquitetura, Paisagem Urbana e Patrimônio de Barcelona, Daniel Mòdol, classificou a Sagrada Família como "uma mona de páscoa gigante".
Suas palavras, divulgadas pela imprensa há três semanas, ofuscaram uma (já aprovada) proposta municipal que exige que a comissão dê seguimento às obras do templo "se pensa modificar o planejamento dos arredores da basílica", em um prazo máximo de seis meses. Esta medida diz respeito à grande explanada projetada originalmente por Gaudí em frente à fachada da Glória (entre Mallorca e Aragó): um passeio de 60 metros de largura que conectaria a basílica com a avenida Diagonal.
A Prefeitura de Barcelona anunciou a criação de uma Comissão de Qualidade da Arquitetura, assim como já ocorre com as demais construções na cidade, porém, esta será exclusiva para a Sagrada Família. Por sua vez, o Conselho do templo reagiu solicitando uma reunião com as autoridades para explicar como está sendo planejada a delicada construção das seis torres finais do projeto: a de Jesus Cristo, com 172,5 metros de altura, a da Virgem Maria (140 metros), e outras quatro dedicadas aos Evangelistas (135 metros cada), todas produzidas fora de Barcelona e montadas no canteiro.
Em relação à permissão de construir, o Conselho da Sagrada Família explicou à imprensa espanhola que a construção se apoia em uma petição de permissão solicitada à Prefeitura de Sant Martí de Provençals em 1885, 12 anos antes de sua anexação administrativa à Barcelona. Nesse sentido, Jordi Faulí, arquiteto chefe da basílica, explicou ao El País o posicionamento do Conselho diante da ausência de uma permissão de construir:
"Vocês encontram as portas abertas [para fiscalizar], porém, não se trata de uma obra nova, mas seguimos avançando com o projeto original que conta com a licença pedida na época ao município de Sant Matí de Provençals."
Além dos tramites de permissões para a obra -- um tema postergado por todas as administrações da Prefeitura -- o atual governo exigirá que o templo pague impostos. O presidente da Fundação Sagrada Família, Esteves Camps, explicou ao jornal La Vanguardia que a basílica "está disposta a pagar os impostos que lhe corresponda pagar segundo a lei", sem especificar se se tratam dos impostos da permissão de construir ou sobre Bens Municiais.
Fontes: El País, ABC.es, eldiario.es e La Vanguardia.