Este artigo faz parte de nossa série "Material em Foco", onde pedimos aos arquitetos que compartilhem mais sobre seu processo criativo, o qual através da escolha dos materiais são definidas partes importantes da construção de suas obras.
A Fazenda Niop, de AS Arquitectura e R79 é um projeto de regeneração arquitetônica que dialoga com uma construção história por meio da reconversão de um espaço abandonado de caráter industrial a um conjunto turístico de alto nível na região sudeste do México. O respeito pelo contexto do lugar influencia a nova escolha de materiais (como o aço, a pedra, o chukum, a madeira e o vidro) para criar novos espaços de uso público e privado que dialogam com o pré-existente. Nesta entrevista, conversamos com Roberto Ramirez de R79 que nos explica mais sobre como a eleição de materiais do projeto contribuiu com o processo de projeto e construção.
Quais foram os principais materiais utilizados no projeto?
Chukum, Madeira, Vidro, Aço, Concreto, Pedra, Mosaicos de Pasta, Bambu (Bahareque)
Em termos de materiais, quais foram as maiores fontes de inspiração e influência ao selecioná-los?
Foram utilizados materiais neutros, atemporais, que de acordo com o enfoque dado a eles, pudessem falar de modernidade e história ao mesmo tempo.
Descreva como as decisões dos materiais foram consideradas dentro do projeto conceitual.
Pudemos montar uma paleta ou gama ampla, de modo que o que usamos na intervenção de nenhuma maneira ofuscaria a ruína existente, mas em vez disso daria mais força, caráter e a preencheria com um glamour revitalizado.
Quais foram as vantagens que ofereceram esses materiais na construção?
Cada material oferece várias vantagens, por vezes o aço, por sua leveza e facilidade construtiva nos ajudou a tomar uma postura na nossa intervenção. Em outras, a pedra, agora apresentada como tapetes, cortada em uma forma regular nos ajudou a dar sentido de pertencimento e revitalizar a rocha existente. O vidro nos ajudou a fornecer uma relação estreita entre o exterior e o interior, e através de alguns elementos de madeira, esta relação pôde ser controlada ou enquadrada. O concreto ajudou a dar-nos rédea livre às lajes e níveis de construções emergentes para a atenção, servindo como uma base neutra para o que deve se destacar. O chukum foi um dos elementos que mais sacudiu as coisas, esta antiga técnica de mistura de resinas para conseguir uma espécie de gesso vivo, pois depois de aplicado envelhece de uma forma muito genuína; ele nos permite cobrir algumas das superfícies que estavam em melhor forma, fazendo com que as áreas circundantes que tinham perdido o seu acabamento se destacassem como cicatrizes de tempo, com um apelo novo e maravilhoso.
Houve algum desafio enfrentado devido à seleção de materiais?
Muitos, o principal foi trabalhar com materiais locais, no que toca especialmente respeito à pedra e à madeira, que foram extraídos e cortados na zona ao redor. Também, certas proezas como a utilização de elementos metálicos que estavam abandonados para formar mesas ou móveis, ou treinar pessoas com uma preparação menos assertiva para uso em um nível bastante artesanal.
Considerou-se algum outro material possível para o projeto? Se sim, como isso mudaria o projeto?
Não foi considerada outra paleta de materiais.
Como foram pesquisados e selecionados fornecedores e mão-de-obra para os materiais utilizados no projeto?
Em relação aos fornecedores, o Chukum foi um fornecedor de Mérida que detém a patente na área e tem comercializado com sucesso o produto, e já havíamos trabalhado com ele em vários projetos. Gostamos da atenção pessoal e a supervisão que faz a sua equipe nos projetos que participa e temos tido uma relação de amizade interessante. Para as demais seleções dos empreiteiros, o cliente envolveu-se fortemente no trabalho, nos apresentou a muitos artesãos locais de madeira, com os quais, através de reuniões e croquis na obra buscamos a maneira de ir compreendendo-os e complementando-os na busca de soluções relacionados. Foi um grande esforço de equipe, onde os planos eram apenas diretrizes, a vontade e o sentimento de pertencimento eram o motor, que até agora tem nos dado grandes resultados.
* Recentemente o projeto da Fazenda Niop recebeu o Prêmio Obras CEMEX 2016 na categoria Edificação da Edição México.