Este artigo é parte da nossa nova série "Material em Foco", onde os arquitetos compartilham conosco o processo de criação através da escolha de materiais que definem parte importante da construção de seus projetos.
O volume construído em betão à vista na Quinta do Carregal, projetada pelo ateliê português WAATAA_we are all together around architecture estabelece e molda uma fronteira que toma forma recorrendo a pátios definidos pelos espaços interiores da habitação. É o espaço vazio recortado e subtraído ao construído. Este desenho favorece a organização e hierarquia dos espaços inerentes à habitação, e ainda o aumento do perímetro de contacto com o bosque, o que potencia a criação de cenários onde acontece a fusão entre habitante e natureza, onde a experiência visual, táctil, auditiva e olfactiva é estimulada de forma a proporcionar uma sensação de conforto e bem-estar a quem ali vive.
Conversamos com um dos arquitetos do projeto, Lucas Diz, do ateliê WAATAA_we are all together around architecture para descobrir a relação da escolha dos materiais no desenvolvimento do conceito do projeto. Leia a entrevista a seguir:
Quais são os principais materiais usados no projeto em questão?
LD: Neste projecto, os materiais utilizados foram reduzidos ao mínimo. Apostámos claramente nas potencialidades do betão aparente e da madeira.
Quais foram suas maiores fontes de inspiração e influência quando estava escolhendo os materiais empregados no projeto?
LD: Para nós todos os projectos assentam numa base disciplinar estável e transversal, em que o entrelaçamento do contexto, da ideia e da experiência, materializa cada obra arquitectónica. É precisamente do contexto, do que identificamos no lugar, que advém a maior fonte de inspiração. Neste projecto em particular, é evidente a relação com o território, com a mancha verde envolvente. Simbolicamente, o betão assemelha-se aos elementos pétreos, o ritmo dos troncos das árvores é transposto para a textura dos paramentos em betão que por sua vez aguardam o envelhecimento e a apropriação por parte da natureza, e o conforto da madeira aplica-se nas zonas íntimas da habitação.
Descreva como as decisões relativas aos materiais influenciaram a concepção do projeto.
LD: É importante referir que neste projecto, a escolha do material esteve sempre em paralelo com a concepção do projecto. Já para não dizer que inclusivamente possa ter estado também antes. Pensámos na ideia que queríamos proporcionar, isto é, na ideia de um habitar austero, de um abrigo, e que material poderia transmitir essa mesma ideia, e só depois passámos para o processo de decisão formal por assim dizer. Para dar um exemplo bastante claro desta influência, e partindo do elemento pétreo dado pelo betão, projectámos pátios recortados e subtraídos ao construído como se fossem os pequenos orifícios escavados nas pedras devido à exposição aos elementos da natureza. Este desenho favorece a organização e hierarquia dos espaços inerentes à habitação, e ainda o aumento do perímetro de contacto com o bosque, o que potencia a criação de cenários onde acontece a fusão entre habitante e natureza, onde a experiência visual, táctil, auditiva e olfactiva é estimulada de forma a proporcionar uma sensação de conforto e bem-estar a quem ali vive.
Quais foram as vantagens que este material ofereceu para a construção do projeto?
LD: Podemos dizer que a grande vantagem que os materiais ofereceram para a construção, resume-se à rapidez do processo construtivo, já que o mesmo material é responsável pela estrutura, acabamentos exterior e interior, e pelo menor número de intervenientes na obra, tornando a sua gestão mais eficiente.
A escolha dos materiais impôs algum tipo de desafio ao projeto?
LD: Não propriamente à fase de projecto mas durante a construção da obra. Exigiu uma maior presença e planeamento no acompanhamento da mesmo e um maior rigor de todos os intervenientes em obra. O exemplo maior deste desafio foi claramente durante o processo de instalação das infra-estruturas da habitação no interior dos elementos de betão. Este necessitou de uma perfeita comunicação, planeamento e rigor de e entre todos para não haver falhas, já que o betão ficaria aparente.
Você chegou a considerar outras possibilidades de materiais para o projeto?
LD: No início do processo de concepção, chegámos a considerar, no interior, a aplicação do "branco" como material. O resultado seria um interior mais plástico e mais abstracto, o que não favorecia tanto a ideia de abrigo que pretendíamos.
Como você pesquisou fornecedores e construtores adequados aos materiais empregados no projeto?
LD: Como é natural, o principal critério de selecção do empreiteiro baseou-se na forma como este trabalhava o betão. Assim, reuniu-se um conjunto de construtores com base em contactos anteriores e sugestões de colaboradores. A todos foi fornecido um mapa de medições comum e posteriormente realizadas visitas a obras, de forma a verificar o trabalho in loco. Foi em consequência de uma destas visitas que resultou a escolha final.
Veja aqui o projeto completo:
Quinta do Carregal / WAATAA_we are all together around architecture