Este projeto é o resultado do quinto Laboratório de Intervenção em Arquitetura in situ/, um projeto de investigação coordenado, desde 2012, pelo CEACT/UAL (Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa) que se propõe investigar temas da cidade em transição. Através de projeto e construção, os Laboratórios in situ/ intervêm, de forma exploratória e temporária, como formas de ação/investigação.
O Laboratório foi realizado em formato de workshop com alunos de arquitetura e propôs o desafio de desenhar, projetar e construir em apenas duas semanas. O objetivo é que os estudantes elaborem uma reflexão sobre a realidade construída e experimentem construir, com as próprias mãos, aquilo que desenharam.
Lugar/programa
O projeto realizou-se no Presídio da Trafaria, em Almada, Portugal. O Presídio é composto por um conjunto de edificações, com um grande interesse histórico e arquitetônico, que se implantam no lugar que deu origem à pequena vila da Trafaria e que, ao longo da sua história, foi tendo diversos usos e construções, até, por fim, ser uma prisão militar que agora se encontra devoluta.
O desafio lançado foi o de pensar uma intervenção que permitisse a apropriação desse espaço, agora devoluto, como contentor de iniciativas culturais. Para isso foi necessário, por questões de segurança, definir os espaços que estavam em risco de ruína e aqueles aos quais se podia aceder. Esta condição gerou a necessidade de criar um sistema que, por um lado, construísse bloqueios e, por outro, assinalasse possibilidades de acessos a espaços que fossem seguros e, ainda, que o percurso fosse de fácil leitura visual, construindo uma relação com o existente.
Os materiais de que a equipe dispunha em maior quantidade eram tubos metálicos e placas de OSB. As características físicas destes materiais geraram a pragmática decisão de usar os tubos metálicos no exterior e a madeira de OSB no interior dos edifícios.
Projeto
Exterior – tubo de aço dobrado, soldado e pintado. Pensou-se numa linha contínua, feita de tubo dobrado e soldado, que começaria na entrada do edificado e seguiria para o seu interior, marcando todo o perímetro do pátio central, de forma a conduzir os visitantes desde a entrada até à saída, assinalando – no decorrer da visita - todos os possíveis acessos e bloqueando todos os caminhos interditos.
A linha contínua começa num terreiro fora do edificado do presídio, sinalizando simbolicamente a implantação de uma antiga capela. Esta marcação serve para o projeto como forma de criar uma primeira frente de comunicação com o exterior, convidando e convocando as pessoas para aquele lugar. Assinalando a ideia de que algo aconteceu naquele espaço devoluto e em ruínas.
Esta linha ergue-se e faz-se ver, numa primeira fase, em forma de arquétipo implantado no lugar de uma antiga capela, segue por baixo do pórtico de entrada, evitando o portão, e emerge, sempre em forma de linha contínua, para fazer a marcação das entradas possíveis nos edifícios, bloquear as passagens para os espaços em risco de ruína e, outras vezes, criar prosaicas narrativas com alguns elementos existentes, como bancos, muros ou buracos nas fachadas.
O caráter performativo desta operação teve como objetivo criar uma maior diferenciação com o edificado existente, para que esta estrutura pudesse comunicar de forma rápida e direta com o visitante. A linha constrói, no exterior, uma sinalização e a definição de um percurso, garantindo a possibilidade de uso deste edificado em segurança. Esta operação permitiu a este espaço receber uma série de exposições e eventos de caráter cultural: a trienal de arquitetura de Lisboa, exposição sobre os 500 anos do Presídio da Trafaria, e ainda algumas festas.
Interior – módulos em madeira de OSB cortada em CNC e envernizada. Para o interior dos edifícios foi desenhado um sistema modular móvel que se permite adaptar a múltiplas situações, podendo funcionar como mobiliário de sala ou/e de bloqueio, de forma a limitar circunstancialmente o acesso a determinadas áreas e espaços interiores, dependendo da necessidade de cada evento.
A sua forma em L permite que se adapte facilmente aos degraus das escadas, bloqueando, assim, este tipo de acesso, bem como, à construção de bancos, plintos, palcos, ou bancada para suporte de informação ou de peças expositivas.
Este sistema permite também a construção de um pequeno auditório fazendo uma bancada de dois níveis. Todas estas possibilidades podem ser usadas de forma estratégica, para poder bloquear o acesso a um qualquer espaço. Esta versatilidade permite que assim que o edifício for sendo recuperado estes módulos possam assumir outras funções.
Créditos
- In situ/ 5 – um laboratório de intervenção em arquitetura
- Promotor: CEACT/UAL e CMAOrganização: Filipa Ramalhete, José Castro Caldas, Sérgio Silva
- Arquitetos Tutores: Gonçalo Duarte Pacheco, José Castro Caldas, Sérgio Silva
- Estudantes: Alessandro de Campos Vilas Boas, Ambra Orlandelli, Ana Luiza Andrade Araújo, Anna Cavenago, Aurora García Lanzas, Beatriz Gomes Pedro de Oliveira Morgado, Bianca Salmoiraghi, Claudia Rosete, Constança Maria da Silveira V. Souza Lino, Elena Inoriza Nadal, Eleonora Causin, Elisa Bosi, Else Anne Widengren, Federica Chea, Felisberto Lopes da Veiga Cortês, Gabriele Paravati, Hugo Henrique de Oliveira C. Falcão de Lima, José Francisco dos Santos Cordeiro Lopes, Luca Salerno, Marianna Angelucci, Mário Alexandre Martins de Carvalho, Michele Chiesa, Mónica Palfy Alonso-Alegre, Paulo César Alcantara Monteiro dos Reis, Valentina Riverso, Vera Maria Abecassis Antunes da Cunha
- Historiador: Francisco Silva (Centro de Arqueologia de Almada)Engenharia: Rita Gonçalves e Pedro ClaraApoio à construção: Serviços técnicos da Câmara Municipal de Almada e Ribaminho
- Fotografias: Gonçalo Duarte Pacheco
- Texto por: In situ/ 5
- Localização: Trafaria, Almada, Portugal
- Ano do projeto: 2016
- Cliente/parceiro: Câmara Municipal de Almada
- Parceiros: Vitruvius FabLab / ISCTE-IUL