Na cidade do Porto, no Bairro das Campinas, os trabalhos seguem com grande entusiasmo.
Estamos a dois dias da inauguração e, depois de muito trabalho pesado a abrir valas, carregar blocos de concreto para fundações, errar e corrigir, errar e improvisar, já é possível ter uma visão do que será o resultado final.
Os moradores, que de início nos observavam das janelas de suas casas, já desceram para satisfazer a sua curiosidade, aproximando-se com cautela. Algumas crianças começaram a participar nos trabalhos de pintura e alguns adultos são nossa companhia durante todo o tempo de trabalho. Vigiam o canteiro durante a pausa para almoço e já reclamam para si parte da construção: o mais presente colocou um cartaz dizendo “Zé” junto de uma parte que pode servir como mesa para almoçar, por estar mesmo em frente à entrada do seu bloco.
Já dissemos anteriormente, não podemos ambicionar a responder às aspirações de uma comunidade com cerca de 2000 habitantes, mas é gratificante ver que o trabalho é acarinhado e entendido na sua dimensão simbólica de proposta de repensar estes espaços para todos.
O “teatrinho” começa também a ganhar forma. O esqueleto da plataforma que servirá de palco para a festa de sexta feira está pronto, assim como os pilares, que já nos permitem confirmar que esta forma, que evoca a “Ghost House” de Venturi e Scott Brown, tem a medida justa do caráter festivo que projetámos para este jardim. O azul elétrico do teatrinho quadrado, em conjunto com o amarelo do “bicho” que serpenteia entre as árvores e com o vermelho vivo da marcação do círculo da fogueira, têm uma presença quase irreal sobre o verde do gramado. Temos repetido frequentemente que “a cor ganha sempre”!
A experiência, para alunos e coordenadores, tem sido extraordinariamente rica. Num curtíssimo espaço de tempo, foi possível fazer um projeto, marcá-lo no terreno, ter assistência de um engenheiro de estruturas, com fabricantes de materiais e com profissionais da construção civil. Este contacto com a realidade, a passagem da escala de desenho para a escala real, de ter um cliente real, de saber o peso de um bloco de concreto, resolver a torção de uma viga de madeira, etc. são realidades que dificilmente se conseguem simular num ambiente académico convencional.
A arquitetura é, de fato, uma forma de conhecimento partilhado. O verdadeiro “lugar de partilha”.
Texto por Ivo Poças Martins