Formado por cinco profissionais das áreas de arquitetura e artes visuais, o coletivo Barragem propõe reflexões sobre temas urbanos como território, limites, barreiras, memória, arqueologia, patrimônio, deslocamentos, mudanças climáticas e manejo inconsequente dos recursos naturais.
Para a exposição BARRAGEM///SP, foram produzidas representações ficcionais de uma São Paulo submersa e cercada por um monumental muro de concreto. Combinando dados da grande enchente de 1929, do rompimento da barragem em Mariana (MG) e de análises visuais do modelo 3D de São Paulo no Google Earth, o projeto modifica o território e reorganiza sua geografia e sociedade. A cartografia da urbe se deteriora em ilhas isoladas.
Neste cenário distópico, a água atinge o nível da piscina do estádio do Pacaembu, produzindo um alagamento de proporções atlânticas. Bairros em antigas várzeas (como Barra Funda e Itaim Bibi) desaparecem. Sobram picos e espigões como o da Av. Paulista, a colina histórica do Pátio do Colégio e uma sequência fragmentada de bairros e morros periféricos. A enchente ficcional invadiria a nave da Catedral da Sé, num finíssimo espelho d'água sobre o piso do altar. Sua praça desapareceria e as escadarias afundariam dentro da água turva. Anhangabaú, Tamanduateí, Tietê e Pinheiros fundiriam-se em um imenso lago, com dutos e tubulações cruzando a paisagem. O Parque do Ibirapuera estaria submerso e seu Obelisco, em ruínas, seria convertido em farol.
De dentro de um escritório central, entre estruturas abandonadas, interesses burocráticos apagam e reescrevem o mapa da cidade como um palimpsesto. Manutenção e infra-estrutura sofrem toda sorte de improvisos: entre empenas, puxados, pontilhões, andaimes e roldanas presas por redes surgem emaranhados de cabos e cordas – uma arquitetura precária. TVs obsoletas monitoram a cidade por câmeras de segurança. Os cidadãos-mergulhadores sobreviveriam em palafitas e construções tomadas por umidade e cracas. Nesta super-Veneza tropical, enfrentaríamos o permanente estado de "acqua alta".
BARRAGEM///SP nos provoca com uma inquietante metáfora: para além da possibilidade do descontrole climático, o que de fato representa a água turva que verte e faz a cidade desaparecer?
A exposição, que acontece na Oficina Cultural Oswald de Andrade, é gratuita e vai até 28 de outubro.
FICHA TÉCNICA
- Coordenação: Nivaldo Godoy
- Projeto Gráfico: André Lenz
- Realização: Coletivo Barragem
- Colaboradores (workshop): Felipe Mendes, Tamires Tofano e Yamê Cherici
- Aquário: João Pires – Aquaproject
- Serralheria e montagem cenográfica: Manguinha
- Assessoria de imprensa: Luciana Cassas e Lica Nielsen – Macaco Press
- Musicista convidada (performance “Rádio///”): Ana Eliza Colomar