Nos próximos dias 17, 18 e 19 de novembro, a Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura inaugura, numa grande celebração, as suas novas instalações no Quarteirão da Real Vinícola, em Matosinhos, Portugal.
Para assinalar a abertura de portas de uma instituição que se pretende de referência para a arquitetura, a Casa programou três dias de celebração com um programa intenso e contínuo de atividades.
A Casa terá duas exposições abertas ao público em simultâneo nos seus espaços dedicados.
“Poder Arquitectura” é a exposição inaugural da Casa da Arquitectura. Comissariada pelos arquitetos Jorge Carvalho, Pedro Bandeira e Ricardo Carvalho, vai ocupar os cerca de 800 metros quadrados da Nave Expositiva com uma proposta de reflexão em torno de “oito poderes que se alinham, infletem e divergem entre si”, envolvendo 40 projetos de cerca de 30 autores distintos de todo o mundo.
A exposição vai estar patente até março de 2018 e em torno dela serão organizados, ao longo dos meses, vários debates com figuras nacionais e internacionais relacionadas os poderes que convoca e retrata.
Na Galeria da Casa, aberta às propostas vindas de fora da Casa, estará patente a X BIAU – Exposição da Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo que premiou o arquiteto Souto de Moura com o Prémio Ibero-Americano de Arquitetura e Urbanismo na sua 10ª edição. São 26 obras selecionadas, entre as quais 4 portuguesas.
Uma parcela do acervo do arquiteto Souto de Moura, ao cuidado da Casa da Arquitectura, estará disponível para visita no Arquivo da Casa. Souto de Moura é um dos convidados para as conversas que vão ter lugar durante a abertura da Casa.
Comissariado pelo arquiteto Roberto Cremascoli, o 3º Ato do Programa inaugural Please Share! propõe duas conferências em torno dos temas da Curadoria e Edição em Arquitectura com um eclético painel de convidados,
“Porque é que os arquitetos desenham mobiliário?” é o mote de uma conversa que assinala a abertura ao público da Loja da Casa da Arquitectura.
No global, serão três dias de festa com visitas guiadas, performances, conversas, música e filmes. “Tudo é Projeto” de Joana Mendes da Rocha e Patrícia Rubano, produzido em colaboração com a Casa da Arquitectura, é exibido publicamente.
Ao longo do fim de semana, um surpreendente programa educativo estará a decorrer envolvendo realidade virtual e aumentada em parceria com a DFL – Digital Fabrication Lab da Faculdade Arquitectura Universidade do Porto (FAUP). Simultaneamente, acontece um programa intensivo de visitas orientadas à Casa da Arquitectura, Arquivo e Exposições, bem como várias estações lúdico-pedagógicas dedicado às crianças e famílias.
A Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura
Criada em 2007, a Casa da Arquitectura é hoje uma referência incontornável no universo da criação e programação de conteúdos para a divulgação nacional e internacional da Arquitetura.
Com uma ação diversificada, a Casa envolve pessoas e organismos de várias áreas e latitudes culturais, empenhadas em defender o interesse público da arquitetura. Como entidade programadora mas, sobretudo, como criadora de propostas, a Casa produz e acolhe conteúdos desenhados para circular em itinerância numa rede consolidada de parcerias nacionais e internacionais.
Contando com as Câmaras Municipais de Matosinhos, Porto e Vila Nova de Gaia para além da Ordem dos Arquitectos, Administração dos Portos do Douro e Leixões e Associação Empresarial do Porto na sua Direção, a Casa é atualmente a única entidade cultural sem fins lucrativos exclusivamente dedicada à arquitetura que, em território português, congrega, num só espaço, área de arquivo e área expositiva.
Ocupando parte do quarteirão da Real Vinícola, recuperado pela Câmara Municipal de Matosinhos com projeto do arquiteto Guilherme Machado Vaz, a Casa ocupa uma área de 4.700 m2 onde as áreas públicas destinadas a exposições e apresentações, com auditório, biblioteca e loja, representam 36% do espaço e as de conservação e manutenção do arquivo e acervos 38% da sua superfície.
Possui hoje no seu arquivo para cima de 500 maquetes, painéis, desenhos, serigrafias, DVD’s, livros e outros materiais do acervo e espólio de diversos arquitetos, entre os quais Souto de Moura, Álvaro Siza, João Álvaro Rocha, Paulo Mendes da Rocha e Fernando Távora, entre outros.
Aberta ao público e disponível para acolher propostas de programação externas relacionadas com a arquitetura, a Casa trabalha para a criação de uma rede de arquivos nacionais que estimule a investigação e divulgação arquitetónica, assumindo-se como palco privilegiado de reflexão e debate sobre as temáticas e problemáticas da arquitetura e das artes.
A Casa da Arquitectura é um local de encontro, de pedagogia, de aprendizagem, de conhecimento, aberto ao lúdico e ao científico, uma tão necessária ponte de aproximação entre a arquitetura e os cidadãos.
A presença do Brasil na Casa da Arquitectura
A constituição da Coleção Arquitectura Brasileira, acervo de projetos representativos realizados no arco de noventa anos entre 1927 e 2017, vai desdobrar-se numa exposição aberta ao público, constituída no seu essencial por uma seleção e organização concetual do material já recolhido e presente na Coleção.
A exposição “Exposição Arquitetura Brasileira Moderna e Contemporânea”, que tem como curadores Fernando Serapião e Guilherme Wisnik, proporá diálogos transversais entre os projetos e obras apresentados, colocando em relação programas funcionais diversos, tais como residências unifamiliares, edifícios de escritórios, pavilhões industriais, edifícios culturais, religiosos e simbólicos, sedes de poder político, além, também, de projetos na escala do mobiliário, da arquitetura cénica e do urbanismo.
O ponto fulcral (e intermédio) da exposição, é o projeto e construção de Brasília, no final dos anos 1950 e início dos 60, que revela uma grande sinergia da arquitetura com outras importantes produções artísticas do período, como a bossa nova, no campo da música popular, formulando o ideal palpável de um país tropical e moderno que saltava por sobre os estigmas do passado colonial e escravista, assim como da sua condição de país “subdesenvolvido”, ocupando uma posição de protagonismo no campo cultural.
Tematicamente, a exposição está organizada em quatro blocos segundo um critério cronológico:
1) Futurismo nos trópicos (1927 – 1951)
Período de formação, que inclui as primeiras casas de Gregori Warchavchik, o edifício do Ministério da Educação e Saúde (Palácio Gustavo Capanema), e os conjuntos da Pampulha e Pedregulho. Nesse momento é realizada a importante exposição Brazil Builds, no MoMA de Nova York (1943), e a arquitetura brasileira é objeto de consagração na maioria das revistas especializadas no mundo;
2) O monumento no Planalto Central do país (1951 – 1970)
Período de apogeu, com a construção da nova capital do país, combinado abrupto corte de perspectivas advindo com o golpe militar de 1964, ocasionando prisões, cassações e exílios. O bloco temático se inicia com as importantes obras para a comemoração do 4o Centenário de São Paulo, por Oscar Niemeyer, e se encerra com a construção do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Osaka, Japão, por Paulo Mendes da Rocha;
3) Crise e reestruturação (1970 – 1992)
O terceiro período se inicia no auge da repressão militar no país, com a cassação, a prisão e o exílio de arquitetos importantes, o desmonte de algumas universidades e a extinção de revistas especializadas. Ao mesmo tempo, realizam-se grandes obras de infraestrutura, incluindo cidades novas. Com a distensão política e o lento retorno à democracia surgem obras marcantes, que de certa forma alegorizam o nexo rompido com aquela tradição, tais como o Centro Cultural São Paulo, o Museu Brasileiro da Escultura e os hospitais da rede Sarah Kubitschek.
4) Repensando as metrópoles (1992 – 2017)
Com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello inicia-se um período de consolidação democrática do país, que se desdobra em significativos programas de reurbanização de favelas, práticas de construção participativa em mutirões autogeridos, e sistemas pré-fabricados de construção para a rede de escolas CEU, em São Paulo. Outras obras marcantes, no campo cultural, também sinalizam uma retomada da importância da arquitetura no Brasil no período recente, tais como os pavilhões de Inhotim, a Praça das Artes, o Sesc 24 de Maio e a sede do Instituto Moreira Salles, feitos já em um contexto produtivo digital, e não mais à mão livre.
A exposição faz-se acompanhar de uma ampla Programação Paralela, que procura aproximar o público em geral – não apenas de arquitetos – do contexto das artes brasileiras. Haverá uma programação de shows musicais, de conferências, de exibição de filmes (documentários e ficcionais), e de eventos literários, tendo como núcleo temático a referência espacial e urbana. O substrato concetual dessa programação é a ideia de “síntese das artes” proposta pelo grande crítico Mário Pedrosa por ocasião da construção de Brasília.
Como se verá, as diversas produções artísticas no Brasil são marcadas por diálogos e cruzamentos entre as disciplinas, criando um campo fértil de comunicação cruzada, que tem a arquitetura como uma de suas espinhas dorsais.
Toda a informação em www.casadaarquitectura.pt