O Pavilhão de Barcelona, icônico projeto de Mies van der Rohe, está sendo transformado em uma "maquete 1:1" de si mesmo, através de uma intervenção proposta por Anna & Eugeni Bach intitulada "Mies missing materiality".
A partir da próxima semana, a estrutura temporária de maior duração na história da arquitetura moderna - será completamente coberta de vinil branco, dissimulando toda a sua materialidade e seus elementos característicos de mármore, travertino, aço, inox e vidro.
A intervenção procura estabelecer uma reflexão sobre a importância dos materias no projeto original, bem como do simbolismo da superfície branca na arquitetura moderna.
A intervenção começou a ser instalada no dia 8 de novembro e deve ser concluída no próximo dia 16, quando está prevista à abertura ao público além de uma mesa redonda com Anna e Eugeni Bach, María Langarita (vencedora da menção honrosa para Arquitetos Emergentes do Prêmio da União Européia para a Arquitetura Contemporânea - Prêmio Mies van der Rohe de 2013) e Carlos Quintáns (vencedor do Leão de Ouro na Bienal de Veneza do ano passado) com o tema central a ser discutido a partir das reflexões propostas pelo renomado arquiteto e teórico Juhani Pallasmaa.
Pallasmaa descreveu a intervenção como "uma proposta extraordinária que trará a luz muitas ideias a serem discutidas: um projeto excepcionalmente rico em associações, memórias, lembranças e referências".
A instalação permanecerá em exibição até o dia 27 de novembro, quando o pavilhão projetado por Mies van der Rohe deverá retomar sua materialidade característica.
Leia a seguir a declaração completa dos arquitetos convidados pela Fundação Mies van der Rohe, o quais projetaram a atual intervenção no pavilhão da mesma maneira que já o fizeram anteriormente SANAA, Jeff Wall, Ai Weiwei, Enric Miralles, Andrés Jaque e Antoni Muntadas:
Vestir o Pavilhão Mies van der Rohe de branco para subtrair toda a sua materialidade. Com esta simples ação, o Pavilhão se converte em uma maquete em escala 1:1, uma representação de si mesmo que sugere múltiplas interpretações sobre diferentes aspectos do edifício, como o valor de sua originalidade, o papel da superfície branca na imagem da arquitetura moderna e a importância da materialidade na percepção do espaço.
"O Pavilhão de Barcelona no qual estamos interferindo, é uma reconstrução, uma réplica tão fiel ao projeto original que muitas vezes é difícil lembrar de sua verdadeira natureza. Um edifício que deveria ter sido temporário e acabou imortalizado, em primeira instancia pela descrição feita pelo movimento moderno e, mais tarde, por sua própria reconstrução".
Transformar o Pavilhão em uma maquete, com todas as superfícies revestidas pelo mesmo material, tão branco quanto indefinido, evidencia o papel representativo do edifício - tanto do original, como um símbolo nacional, quanto o da réplica, representando o outro. O Pavilhão se tornará, durante um certo período de tempo, uma maquete em escala 1:1 do pavilhão temporário mais duradoura da história da arquitetura moderna. A subtração de toda a materialidade do Pavilhão também levanta outras interpretações relacionadas à historiografia da arquitetura do século XX.
O Pavilhão de Barcelona foi exaltado como ícone da modernidade na exposição 'Arquitetura Moderna' do MoMA em Nova Iorque em 1932. O catálogo da exposição apresentou vários edifícios de arquitetos como Mies van der Rohe, Le Corbusier, Richard Neutra, Frank Lloyd Wright, Jacobus Oud, Walter Gropius entre outros através de uma seleção de fotografias e ensaios críticos em que Philip Johnson e Henry-Russell Hitchcock definem os critérios utilizados para apresentar todos os projetos sob um mesmo ponto de vista. Em tais critérios está a superfície branca, como a representação de uma nova arquitetura, que se apresenta de forma insistente em muitos dos projetos selecionados.
Transformar o Pavilhão de Barcelona em uma homogênea superfície branca significa definí-lo a partir de uma das características fundamentais da historiografia moderna (e não da modernidade), ainda que ao mesmo tempo, significa também subtrair do Pavilhão a sua própria materialidade e consequentemente, suas características únicas; mais especificamente aquele que foi enaltecido como o ícone do movimento moderno.
A instalação transforma este paradoxo em uma experiência espacial única, permitindo aos visitantes considerarem essas idéias e muitas outras através de suas próprias experiências em um pavilhão que perderá todo e qualquer vestígio de sua materialidade por alguns dias, assumindo todo o seu potencial representativo.
- Anna & Eugeni Bach