Tradicionalmente, estádios projetados para as Olimpíadas de Inverno são cobertos e fechados, um ambiente artificialmente controlado com o objetivo de proteger os expectadores das condições climáticas extremas que são essenciais para que os jogos sejam realizados nestas localidades. Nesta edição de 2018, o comitê organizador das Olimpíadas de Inverno de Pyeongchang quis tentar algo diferente. A cerimônia de abertura de três horas será realizada no Estádio Olímpico de PyeongChang - completamente ao ar livre.
Pyeongchang, localizada não muito longe da fronteira com a Coréia do Norte, é conhecida como uma das cidades mais frias do país. As temperaturas em Pyeongchang chegam facilmente na casa dos -10ºC, em grande parte devido aos fortes ventos norte oriundos da Sibéria e da planície da Manchúria. A tendência é que esta seja a Olimpíada mais fria desde àquela realizada em 1994 em Lillehammer, na Noruega. Surpreendentemente, o estádio a pleno céu aberto deixará os cerca de 35 mil espectadores completamente expostos ao rigoroso inverno sul coreano.
Todas as estruturas projetadas para abrigar as Olimpíadas de Inverno de Sochi em 2014 eram completamente cobertas; assim como aquelas no Canadá, utilizadas para as Olimpíadas de Inverno de 2010.
O Estádio Olímpico de Pyeongchang, custou ao governo sul-coreano cerca de US$ 109 milhões (ou 116 bilhões de Wons coreanos). Durante o processo de aprovação do projeto ainda em 2015, as autoridades levantaram múltiplas questões à respeito da falta de proteção contra as intempéries do clima sul coreano. No entanto, devido principalmente à questões orçamentárias do Ministério da Cultura, estas preocupações foram deixadas de lado. A ausência de um sistema de aquecimento central também é decorrente do limite orçamentário para a execução do projeto.
Entretanto, a medida que a data para inauguração do evento se aproxima, as condições climáticas extremas preocupam cada vez mais os organizadores. Podemos dizer que motivos não faltam para justificar esta apreensão. Durante o evento de abertura do estádio em novembro do ano passado, sete pessoas precisaram ser internadas com hipotermia. Tudo o que foi feito até agora se resume à construção de um simples "para-brisa" em parte do estádio. Além disso serão distribuídas mantas e almofadas térmicas além de aquecedores para as mãos e os pés para que os expectadores possam sobreviver à extravagante cerimonia de abertura de mais de três horas.
Cerca de 160 convidados de honra, incluindo o Presidente sul-coreano Moon Jae In, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, deverão ocupar seus acentos nos níveis mais altos do estádio, completamente expostos ao terrível vento norte siberiano. Além de mantas maiores e mais quentes, os organizadores estão pensando em oferecer protetores de orelha. Outra estratégia que vem sendo cogitada é incentivar a "participação do público" para manter as pessoas em movimento.
Para piorar ainda mais as coisas, o Estádio Olímpico de Pyeongchang será utilizado em apenas quatro ocasiões - durante a cerimônia de abertura e para o subsequente evento Paralímpico - quando deverá ser finalmente demolido. Os altos custos de manutenção do estádio tornam inviável a continuidade da faraônica estrutura. Talvez, esta enorme sequencia de absurdos em relação à esta estrutura de mais de 100 milhões de dólares, descoberta e temporária, seja a prova mais concreta da enorme pressão imposta sobre os governos dos países sedes das Olimpíadas. Pelo que se pode observar, a consequência disso é a falta de consideração com a própria arquitetura destas estruturas, e principalmente em como mante-las no futuro. Exemplo disso é a Vila Olímpica do Rio 2016, abandonada parcialmente apenas poucos meses após o término dos jogos.
Via The Straits Times e Korea Times