... não é apenas um convite ao projeto arquitetônico, mas também para refletir e questionar nosso compromisso profissional com o desenvolvimento dos locais mais vulneráveis e a criação de cidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.
Uma forma de tornar as cidades visíveis é intervindo nos setores esquecidos ou periféricos da cidade, bem como respondendo às necessidades mais básicas, tornando-as visíveis e fazendo um chamado de urgência. Há alguns meses anunciamos a chamada para este concurso e hoje estamos surpresos com a variedade de respostas. Também é interessante ver como participantes de outros países vêem o Peru de fora e o que eles propõem à realidade. Uma grande contribuição, pois dessa forma ampliamos as possibilidades de intervir com múltiplas perspectivas na construção de projetos com/para a sociedade.
CIUDADES [en] VISIBLE é um concurso que convidou arquitetos, engenheiros, estudantes ou profissionais, a projetar de comum acordo com as famílias beneficiadas: a família Salazar, a família Acarraz, a família Teccse, a família Huamán, a família López. Cinco famílias, cinco casas. Habitação é em si uma necessidade básica, no qual este concurso é ao mesmo tempo um laboratório para a cidade em busca de outras soluções para a construção planejada de habitação em um país como o Peru, onde cerca de 70% das casas são auto-construídas. O lugar de intervenção é a Comunidade 3 de dezembro, localizada ao sul da cidade de Lima, no distrito de Lurin.
Após este empreendimento, encontramos a organização MUTUO que busca impactar positivamente sobre a situação da habitação autoconstruída no Peru através da integração coletiva da comunidade de arquitetos na problemática. Ao mesmo tempo, busca colocar à disposição dos cidadãos uma ferramenta que nos convide a tomar consciência de nosso ambiente e a envolver-nos na construção de uma mudança para a melhoria das condições de vida dos setores menos favorecidos. Esta convocatória recebeu 108 propostas, entre as quais muitas eram internacionais. Após uma análise minuciosa, três propostas vencedoras e cinco menções honrosas foram destacadas.
O júri, composto por David Barragán (representando o AlBorde Arquitectos), Marianela Castro de la Borda, Miguel Cruchaga Belaunde, José Garcia Calderón, Marta Maccaglia e Manuel de Rivero, atribui o primeiro prêmio à proposta OASIS da Oficina Latinoamericana de Arquitectura. Da mesma forma, resolve reconhecer os seguintes projetos apresentados:
VENCEDORES
PRIMEIRO LUGAR
Santiago Nieto Valladares EQUADOR
Alfredo Ramírez Rozas PERU
Oswaldo Orbegoso Pinto PERU
"É uma proposta que se destaca por alcançar, a partir de um conceito simples de relações interno-externas que partem do uso do vazio, uma empatia especial com as necessidades específicas levantadas por cada uma das famílias. A espacialidade dos espaços interiores é nutrida principalmente pela relação pátio-interior, mas não deixa de lado a relação com o exterior, criando momentos permeáveis que estabelecem e comunicam uma relação urbana”, enfatiza o júri.
O júri destaca: "A coerência e o respeito pelos usos e modos de vida que os programas individuais propõem, tornam possível imaginar que os usuários desejem e se sintam à vontade vivendo nesse espaço, que abriga e reconhece suas necessidades. Alerta para um crescimento progressivo de seus espaços, mas não padroniza as necessidades de seus habitantes".
"A proposta também faz uma seleção coerente do sistema construtivo, pensando na viabilidade e eficiência construtiva de um sistema que está socialmente assimilado. Tem também a virtude de alcançar uma linguagem coletiva sem perder as características mais representativas dos terrenos individuais", diz o júri.
SEGUNDO LUGAR
Alberto Espinosa García ESPANHA
Gemma Fornós Fabregat ESPANHA
Conrado Miralles Martinez ESPANHA
Rubén Ruberte Casanova ESPANHA
Víctor Ruiz Vinué ESPANHA
"Um projeto que se destaca em sua busca por compreender materiais e sistemas construtivos fora do padrão, o que permite reduzir custos e pensar na eficiência dos recursos. É uma proposta que abre novamente o debate sobre a retomada dos sistemas construtivos que fazem parte da identidade do nosso país e os vincula ao sistema convencional de alvenaria", destaca o júri.
"Além da reavaliação dos métodos construtivos tradicionais, apresenta uma racionalidade modular e sensível, muito bem alcançada, que se expressa também na eficiência e simplicidade construtiva. Aproveita a verticalidade do espaço da escada para gerar uma espacialidade interessante que liga todos os níveis", conclui o júri.
TERCEIRO LUGAR
Daniel Sánchez Gómez COLÔMBIA
Sebastián Bayona Jaramillo COLÔMBIA
"Destaca a exploração tipológica do projeto. Atingir uma sensação de profundidade com a alternância de pátios, concebendo relação de cheios/vazios nas plantas. Isso gera na atmosfera das casas uma percepção espacial de amplitude que aumenta os domínios visuais dos ambientes ", destaca o júri.
"Os valores tipológicos da proposta se expressam na racionalidade no qual se propõe a distribuição arquitetônica, que permite organizar os espaços interiores otimizando o uso do vazio, incluindo-o no programa como uma extensão dos espaços interiores e ligando-o à rua", conclui o júri.
MENÇÕES HONROSAS
Menção Honrosa
Cristian Palomino Carbonel PERU
Peggi Palomino Carbonel PERU
Juan Jhoel Rodríguez Gamarra PERU
Edgar Torre Romaní PERU
Jesús Céspedes PERU
"Proposta onde os cinco projetos refletem uma identidade de conjunto muito forte, bem consolidada. Torna-se reconhecível no território em que há uma intervenção ali. Destaca-se também sua flexibilidade espacial, que oferece a oportunidade para o crescimento futuro"- diz o júri.
Menção Honrosa
Kevin Baum Rivera ARGENTINA
María Sol Hernández ARGENTINA
Guido Mezzera ARGENTINA
Alina Paludi ARGENTINA
Facundo Trebino ARGENTINA
"Consegue resolver o programa em volumes isolados que estão ligados com muito pouca circulação, minimizando o desperdício de área. Apresenta uma lógica particular dos pátios que é replicada nos cinco casos, criando um sistema! - diz o júri.
Menção Honrosa
Jimmy Liendo Terán BRASIL
Germán Biglia ARGENTINA
Kátia Fernanda de Oliveira Vieira BRASIL
Paula Izzo BRASIL
"Destaca-se sua busca por inovar com estruturas leves e econômicas, propondo o uso de sistemas construtivos não convencionais e não padronizados, tendo um valor experimental na exploração de novas alternativas e soluções potencialmente replicáveis no futuro" - o júri.
Menção Honrosa
Fredy Calderón Melgarejo PERU
Víctor Failoc Su PERU
Justiniano Irigoin Delgado PERU
"Tem uma vocação para tornar todos os espaços públicos da casa em espaços de pé direito duplo muito ventilados incorporando um sistema de construção leve. Busca sempre produzir vida ao exterior estando dentro da casa" - o júri.
Menção Honrosa
Mario Peltroche Sánchez PERU
Francis Rivera Ramirez PERU
"Resolve de forma notável, e diferente entre todas as propostas, o comércio proposto para a casa Acarraz. Torna-se uma peça chave para resolver o projeto, alcançando uma relação muito interessante entre as vinhas e rua Landázuri" - o júri.
Um concurso que levanta (e questiona) três eixos muito importantes da realidade arquitetônica peruana. Por um lado, fala da integração dos arquitetos como cidadãos, cujo papel social é imprescindível. Da mesma forma, na mesma linha, aumenta a visibilidade dos setores esquecidos da cidade (e seus habitantes) para intervir neles - com eles - unindo forças entre profissionais (conhecimento/experiência) e famílias (idéias/necessidades). E, por fim, o problema não menos importante, mas o grande enigma: a habitação social, precária e ausente no país, cujas oportunidades de relação com o espaço público estão latentes. Após essa união de visões, há uma mensagem muito sensível, que é expandir nossa visão para questões realmente fundamentais a serem abordadas a partir da arquitetura, em favor de ter cidades visíveis.