- Ano: 2017
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Fotografias:Lukas Ildza, Fabrice Fouillet
Descrição enviada pela equipe de projeto. Moravské Náměstí é uma praça bastante movimentada no centro de Brno, por onde circulam milhares de pessoas todos os dias. De todos aqueles que por ali passam, no entanto, poucos percebem a complexidade histórica deste grande espaço aberto bem no coração da cidade, parte remanescente do seu antigo sistema de fortificações. O último evento recente em sua história aconteceu no verão passado, quando a praça foi transformada temporariamente para abrigar um grande festival multi-gênero, o Meeting Brno. O tema principal do evento circulava em torno da ideia de um Europa unida, atualmente ameaçada pelos crescentes movimentos de extrema direita e grupos radicais. O lema do festival - Unidade na Diversidade- parafraseia o lema oficial da União Europeia, o qual foi adaptado em uma intervenção física concebida pelo escritório de arquitetura de Brno, Chybik + Kristof. A instalação chamava a atenção para uma série de marcos históricos da cidade, bem como criava conexões inesperadas entre eles com o objetivo de realçar o sentido de solidariedade, unidade e tolerância, abrindo espaço para debates sobre as questões sociopolíticas contemporâneas.
A história do lugar
Em 1243, foi concedido à cidade de Brno o direito de econstruir um sistema de fortificações ao longo de seus limites urbanos. Como resultado deste complexo sistema de defesa, a cidade nunca foi tomada ao longo de toda a sua história. Durante a revolução industrial, as muralhas da cidade já não desempenhavam fundamental e transformavam-se em um estorvo para o seu desenvolvimento urbano. Assim como a famosa Ringstrasse de Viena, toda esta faixa perimetral se transformou em um grande anel viário que logo se tornaria um vibrante centro da vida social de Brno. Uma dos elementos mais significativos dentro deste novo sistema foi a implantação do parque Moravské Náměstí e a manutenção da casa alemã que ali existia, complementada por uma escultura do imperador Joseph II, construída entre 1890 e 1891. A Casa Alemã serviu de centro cultural para a população alemã de Brno e mais tarde, isto é, durante a Segunda Guerra Mundial e a ocupação alemã da Checoslováquia, como sede do partido nazista de Brno. O monumento foi removido em 1919, pouco depois da criação do novo Estado soberano da Checoslováquia, enquanto a Casa Alemã, símbolo da ocupação dos alemães, foi demolida logo após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Posteriormente, o espaço aberto em frente ao edifício foi transformado em um parque público e abrigou, por um curto período de tempo, um memorial onde os soldados caídos do Exército Vermelho foram enterrados. Simultaneamente, foi lançada a pedra fundamental do novo Memorial Thomas Garrigue Masaryk, o qual nunca foi terminado, ainda que fosse um marco comemorativo em homenagem ao primeiro presidente da Checoslováquia unificada. Em 1968, a Checoslováquia foi ocupada pelas forças do Tratado de Varsóvia, o que resultou na solidificação do socialismo no país. Moravské Náměstí foi transformada para se adequar à ideologia da época - uma fonte com cinco pontas que lembrava a Estrela Vermelha, um dos símbolos do comunismo, foi instalada no seu centro e um grupo escultórico do escultor comunista Miloš Axman foi erguido logo atrás. Após a Revolução de Veludo de 1989, um evento que trouxe mudanças sociais e políticas substanciais, somente a fonte foi mantida. Como resultado, a praça foi devastada, transformando-se apenas em uma conexão viária e deixando para trás seu passado como um centro cultural e social importante para a cidade e seus cidadãos. Em 2016, foi realizado um concurso público de arquitetura com o intuito de escolher um projeto adequado de revitalização da área para fins recreativos.
Verão de 2017
Durante o verão de 2017, foi construído um pavilhão temporário para abrigar o festival de verão, incluindo um palco, um bar com terraço e uma galeria externa com todas os serviços necessários. O pavilhão foi concebido para acolher uma série de atividades urbanas a céu aberto, um espaço para a diversidade cultural e de gênero e que pudesse acolher os eventos sociais e gastronômicos propostos pelo festival.
O pavilhão concebido por Ondřej Chybík e Michal Krištof buscou inspiração no esquema da planta original da Casa Alemã. Uma construção de 78 metros de comprimento, 39 metros de largura e 18,5 metros de altura, executada em estruturas tubulares de andaimes e um peso total de 50 toneladas. O painel da fachada expressava orgulhosamente, nas línguas de todas as nações representadas na praça, o lema do festival - Unidade na Diversidade. A parte central do pavilhão servia de palco, a ala direita abrigava o bar com terraço e a ala esquerda foi dedicada ao espaço expositivo. Uma estrela vermelha pintada no chão definia a área central da instalação, assim como a antiga fonte, enquanto um monumento criado pelo escultor Pavel Karous fazia referencia à antiga escultura comunista, pirâmides de concreto instaladas no eixo principal da praça em direção ao centro da cidade, como memória aos soldados caídos do Exército Vermelho. Os elementos históricos mais sutis e esquecidos, as muralhas medievais da cidade, foram transformados em uma estrutura visível e simples, onde também havia painéis informativos descrevendo fragmentos da historia do lugar.
Moravské Náměstí as a manifesto of Czech history
A instalação procurava resgatar as histórias esquecidas de Brno, as culturas e nacionalidades que deixaram suas marcas ao longo do tempo na estrutura da cidade e de todas as terras checas. São eventos que ocasionaram transformações sociais dramáticas que refletiam diretamente na configuração espacial daquele lugar. Podemos dizer, até com bastante tranquilidade, que Moravské Náměstí é um manifesto oculto da historia dos povos europeus que ilustra a diversidade cultural que sempre esteve e estará presente entre nós.