- Área: 8309 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Delfino Sisto Legnani e Marco Cappelletti
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Fabricantes: Buroproject, KaiserKraft, Kinnasand, La Cividina, Marzais Créations bpss, Nyta, Roxo Lighting, Viccarbe, fr-one
Descrição enviada pela equipe de projeto. Inspirado no aclamado livro de Thomas More “Utopia”, impresso pela primeira vez em Aalst pelo seu mais famoso cidadão, Diral Martens, o novo edifício da Biblioteca da Universidade de Artes Cênicas foi inserido no tecido urbano de forma a realçar e valorizar as características singulares das suas ruas irregulares e espaços públicos. Três novas praças foram criadas em frente à três das mais importantes vias urbanas de Aalst: a Esplanadestraat, a Graanmarkt e a Peperstraat.
Carinhosamente chamado de Pupillenschool, o antigo edifício de 1880 foi no passado uma escola de ensino fundamental para filhos de militares. Incorporado ao projeto da KAAN Architecten ele é o principal elemento do conjunto de edifícios da Universidade. Tanto externamente quanto internamente, as fachadas e seus elementos históricos combinam perfeitamente com a generosidade de seus espaços, assim como os tijolos das paredes de alvenaria fazem um diálogo franco com os novos elementos em concreto aparente.
Na Utopia de More, a cidade e seus moradores estão inexplicavelmente conectados, assim como os espaços internos e externos deste edifício, os quais e integram através das grandes aberturas recortadas nas antigas paredes de alvenaria. A entrada da Universidade está localizada em uma praça acolhedora entre o café e o auditório. Atravessando o grande hall de acesso, a paisagem interior do edifício desdobra-se em todas as direções. As enormes lajes de concreto parecem flutuar em meio a este salão que parece um pátio aberto e coberto. A partir dos balanços generosos destas lajes, é possível descansar enquanto se observa este imenso átrio cercado pelas fachadas de tijolos do edifício pré-existente. Além disso, uma enorme estante de livros de 11,50 metros de altura ocupa todo o espaço em sua dimensão vertical acolhendo os milhares de livros doados pelos moradores de Aalst.
Neste espaço mágico, as estruturas de concreto parecem apoiar-se sobre os livros. As estantes estão limitadas pelos pés direitos dos pavimentos, revestindo a robusta estrutura que permitem balanços generosos sem a necessidade de estruturas secundárias. Os degraus denteados das escadas fazem que a mesma se apresente como uma grande escultura de concreto à margem deste amplo átrio público. O forro translúcido incorpora elementos de iluminação natural e artificial, passando quase desapercebido em um primeiro momento. Todos os sistemas técnicos encontram-se ocultos atrás desta malha metálica que filtra a luz do sol durante o dia criando uma atmosfera agradável e acolhedora.
Além do auditório no térreo, a Academia de Artes Cênicas ocupa os dois primeiros pavimentos do novo edifício, justamente ao lado deste grande átrio central. Esta nova estrutura abriga a sala de balé, os estúdios de ensaio e os espaços de ensino, todos com enormes aberturas, proporcionando perspectivas deslumbrante para a cidade e seus arredores. Utilizando esta mesma lógica, as grades e montantes das antigas janelas da Pupillenschool foram removidas revelando enormes aberturas que acolhem a paisagem urbana no interior do edifício.
A acústica foi uma ferramenta fundamental no desenvolvimento deste projeto. Os arquitetos da KAAN Architecten tinham algumas importantes questões a considerar: as aulas de música e ensaios de peças não poderiam atrapalhar o silêncio na sala de leitura da biblioteca ao lado. Os pisos flutuantes sobre as lajes de concreto substituíram os pisos originais de madeira, as portas foram transformadas em barreiras acústicas e as janelas de vidro duplo permitem uma perfeita estanqueidade do edifício.
A volumetria do novo edifício é amplamente visível a partir de qualquer ponto no entorno da Universidade. As cores predominantes na cidade histórica foram catalogadas e estudadas pelos arquitetos, auxiliando na escolha do tijolo utilizado na obra, o “Red Aalst”. Para acentuar ainda mais a dualidade desta Utopia, esses tijolos especiais (50 x 10 x 4 centímetros) foram utilizados no sentido horizontal, em contraponto a estrutura histórica onde os mesmos foram empregados no sentido vertical.
Esta nova interpretação da Utopia também incorporou elementos de sustentabilidade. O edifício recebeu uma excelente classificação BREEAM: materiais e mão de obra local foram utilizados no projeto, durante a construção foram empregados apenas equipamentos de baixo consumo energético além da instalação de painéis fotovoltaicos, estratégias de aquecimento geotérmico e iluminação em LED, a água da chuva é filtrada e armazenada, sem contar com os 230.000 tijolos recuperados de demolição.
O maior desejo dos arquitetos, integrar esta nova estrutura na vida e no tecido urbano da cidade, parece ter sido alcançado: a Utopia é agora o novo ponto de referência no centro da cidade de Aalst, para onde todos os cidadãos se deslocam para celebrar a vida e a arquitetura.