O IABsp divulgou hoje a equipe vencedora do Concurso de Curadoria para a XII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. A equipe formada pelos arquitetos brasileiros Ciro Miguel, Vanessa Grossman e a francesa Charlotte Malterre-Barthes foram escolhidos pelo juri através da proposta intitulada Todo Dia.
"Hoje, após décadas de questionamento sobre a capacidade da arquitetura de cumprir seu mandato social e resistir às aporias políticas, econômicas e ambientais que a condicionaram historicamente, a despeito da vontade do arquiteto, o receio de que a disciplina seja suplantada pelas novas tecnologias de automação, exacerbam certo sentimento generalizado de impotência. Nesse cenário, arquitetos se voltam para as questões mais básicas sobre a arquitetura, suas técnicas e origens, dando origem a uma nova ética e estética da humildade, nas quais a vulnerabilidade da arquitetura diante das mudanças globais é tomada à letra. Mais de quinze anos depois do manifesto “Junkspace” de Rem Koolhaas, nota-se um movimento contínuo em direção ao ordinário, ao mundano, ao cotidiano, através da noção difusa de como a realidade mais trivial — aquela inscrita no cotidiano, o “todo dia” — pode contribuir para a produção da arquitetura e do urbanismo. Tendo em vista que, ao longo da última década, teorias contemporâneas do cotidiano começaram a impregnar as esferas da prática e da teoria da arquitetura, a proposta curatorial Todo Dia discute o cotidiano como a plataforma privilegiada para a investigação do esforço da arquitetura para permanecer relevante como atividade humana especializada no século XXI." Resumo da proposta Todo Dia apesentado pela equipe vencedora.
O júri composto por Adèle Naudé Santos, André Corrêa do Lago, Carla Juaçaba, Gabriela Leandro, Gloria Cabral, Lu Wenyu, Marisa Moreira Salles, Patricia Anahory, Thiago de Andrade e Wang Shu e, representando o IABsp, Fabiane Carneiro, Marcela Ferreira, Pedro Vada, avaliou as 13 propostas deferidas em duas fases. Na primeira fase, selecionou 4 propostas finalistas e na segunda, a proposta vencedora e a colocação de cada finalista.
As propostas finalistas tiveram a seguinte ordem de classificação:
- Proposta número 24, inscrita sob responsabilidade de Ciro Miguel, com título “Todo dia”
- proposta número 37, inscrita sob responsabilidade de Vanessa Raposo Mendes, com título “No lugar de”
- proposta número 27, inscrita sob responsabilidade de Gabriel Kogan, com título “Radiografias da produção do espaço”
- proposta número 29, inscrita sob responsabilidade de Francesco Perrotta Bosch, com título “[ ] civilização”
O juri avaliou as propostas finalistas da seguinte forma:
"Proposta número 24, inscrita sob responsabilidade de Ciro Miguel, com título “Todo dia”: A proposta tem como virtude trazer a arquitetura a uma perspectiva da vida cotidiana de todos, o que atribui significação e legitimação à arquitetura. O tema proposto prioriza a vivência do espaço e dialoga com o contexto internacional, num processo que se propõe inclusivo, interdisciplinar e transgeracional.
Proposta número 27, inscrita sob responsabilidade de Gabriel Kogan, com título “Radiografias da produção do espaço”: A proposta apresenta um tema relevante ao revelar os processos e etapas de produção da arquitetura de forma integrada. De forma notável, propõe com isso um diálogo com público não especializado, ao mesmo tempo em que problematiza e discute temas críticos à disciplina.
Proposta número 29, inscrita sob responsabilidade de Francesco Perrotta Bosch, com título “[ ] civilização”: A proposta aborda temas de grande relevância na atualidade, que orbitam em torno do tema central “civilização”. A estratégia de localização da Bienal é promissora e os curadores demonstram-se empenhados e cuidadosos com a construção de uma Bienal inclusiva.
Proposta número 37, inscrita sob responsabilidade de Vanessa Raposo Mendes, com título “No lugar de”: A proposta é contundente e crítica ao endereçar temas geradores de grandes tensão no momento atual. Problematiza, no âmbito da disciplina, questões transversais a nossa sociedade. Além disso propõe um interessante diálogo com o público não-especializado."
Saiba mais sobre a equipe vencedora.
Ciro Miguel é arquiteto, artista gráfico e fotógrafo. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e mestrado em Advanced Architectural Design pela Columbia University GSAPP. É professor assistente de projeto na ETH Zurich desde 2013. Foi sócio de Angelo Bucci / SPBR arquitetos nos períodos de 2003 a 2007 e 2010 a 2013, e arquiteto no escritório Bernard Tschumi Architects em Nova Iorque de 2008 a 2010. Como arquiteto e artista, participou de diversas exposições no Brasil e na Europa, incluindo as duas últimas edições da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo e da Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza em 2016.
Vanessa Grossman é uma arquiteta, historiadora da arquitetura, escritora e curadora cujo trabalho se volta para as interseções da arquitetura com ideologia, poder e políticas governamentais. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, mestrado em História da Arquitetura pela Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, e recentemente completou seu doutorado em História e Teoria da Arquitetura na Universidade de Princeton. Atualmente leciona na Universidade de Toronto, e foi selecionada pós-doutoranda em História e Teoria da Arquitetura, como uma dentre os dois primeiros pesquisadores do recém-criado Centro de Estudos Avançados em Arquitetura da ETH Zurich (posição diferida para 2019-2020). Grossman foi curadora assistente de La modernité, promesse ou menace?, o Pavilhão Francês da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza em 2014, que recebeu Menção Especial do Júri, e co-curadora da exposição Une architecture de l’engagement: L’AUA (1960–1985) na Cité de l’architecture et du patrimoine em Paris (2015-2016), ambos juntamente com Jean-Louis Cohen.
Charlotte Malterre-Barthes é arquiteta, designer urbana, e acadêmica contemporânea. Depois de estagiar no Coop Himmelb(l)au, ela completou seu diploma magna cum laude na Escola Nacional Superior de Arquitetura de Marseille com o projeto de um Centro Social para Mulheres em Bagdá, abordando as dimensões políticas e sociais da arquitetura. Membro principal do escritório de design urbano OMNIBUS, Malterre-Barthes é diretora do MAS Urban Design na cátedra de Marc Angélil na ETH Zurich desde 2014. Ela completou seu doutorado na ETH Zurich com uma tese sobre 'Territórios Alimentares' e os efeitos da economia política alimentar no ambiente construído, com foco no Egito. Ela é coautora, com Marc Angélil, de Housing Cairo: The Informal Response (vencedor do prêmio DAM de 2016) e de Cairo Desert Cities (Berlin, Ruby Press). Malterre-Barthes é membro fundador do Parity Group, uma associação de base comprometida com a melhoria da igualdade de gênero na arquitetura.
Segundo consta no edital do concurso, para a decisão do juri ainda cabe recursos em até 5 dias úteis.