Mais uma vez, quem estiver passando pela movimentada rua Araújo Porto Alegre, na esquina com a Avenida Graça Aranha, no centro do Rio de Janeiro (RJ), vai poder se encantar com a imponência do Palácio Gustavo Capanema e entender porque ele é um ícone do Modernismo, para o Brasil e para todo o mundo. Mais de 70 anos depois da inauguração do edifício, em 1946, toda a inovação de suas fachadas - trazida pelos mestres da arquitetura e das artes dos anos de 1930 -, foi restaurada e será entregue pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no próximo dia 20 de setembro.
O Palácio Gustavo Capanema é resultado do encontro de nomes como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernany de Vasconcelos e Jorge Machado Moreira, com a consultoria de Le Corbusier. Pela primeira vez no Brasil, um edifício reuniu as principais características da arquitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita. Somados a eles, também estiveram Burle Marx, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus, Celso Antônio e Jacques Lipchitz, consolidando o time responsável pelas artes integradas, com pinturas, esculturas e paisagismo. Nascia então, o Palácio Gustavo Capanema, idealizado para sediar o Ministério da Educação e Saúde do Governo Vargas.
A restauração completa de suas fachadas é uma etapa fundamental de uma série de obras que vem sendo realizadas no local desde 2014. Com isso, recupera-se a integridade de uma das principais características do edifício que é símbolo do modernismo mundial. Desde o início da intervenção já foram investidos cerca de R$ 42 milhões, com ações como a restauração dos revestimentos de pedra dos pilotis; impermeabilização do terraço-jardim e da cobertura do bloco de auditórios; modernização dos elevadores; substituição de esquadrias nobres e revestimentos de alguns pavimentos e do teto dos pilotis; além da total restauração das fachadas. Uma próxima etapa de obras também será anunciada na ocasião, com cronograma previsto para 30 meses a partir de seu início. Nela, serão realizadas a restauração, conservação e modernização de toda a parte interna do edifício, englobando toda a parte de infraestrutura; sistema de detecção e combate a incêndio; sistema de ar condicionado; modernização dos auditórios; conservação dos jardins do térreo; e restauração de todo o mobiliário de madeira e dos painéis de azulejos de Portinari.
Congresso Mundial de Arquitetos
O evento de entrega da obra das fachadas do Palácio Capanema contará com a presença da presidente do Iphan, Kátia Bogéa, e do Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, além de representantes da diretoria do Iphan e de outras instituições sediadas no edifício. A cerimônia também vai destacar o valor do edifício como exemplar notável da história da arquitetura, ao formalizar a cessão de seu uso para o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, que será realizado na cidade do Rio de Janeiro em 2020. Promovido pela União Internacional de Arquitetos (UIA), o encontro acontecerá pela primeira vez no Brasil e volta à América Latina após 42 anos, com a expectativa de receber mais de 15 mil arquitetos de todo o mundo.
Por meio da parceria com o Iphan, a UIA pretende utilizar o Palácio Gustavo Capanema para a realização de eventos, workshops, exposições e palestras que irão integrar a programação do evento durante todo o ano. Como a obra de restauração das partes internas do prédio ainda estará em execução, o acordo prevê a utilização de áreas específicas, que já estarão concluídas, como o pavimento de acesso e o auditório.
As inovações do Modernismo
A reunião de tantos mestres da arquitetura na década de 1930 trouxe muito mais que um edifício alto e imponente. A construção se destaca pela introdução dos princípios do conforto ambiental, com o aproveitamento da ventilação e iluminação naturais por meio de soluções inovadoras em suas fachadas: a utilização de lâminas horizontais móveis - os chamados brises soleils, sistema criado por Le Corbusier e ali utilizado pela primeira vez em larga escala, para sombreamento e redirecionamento da luz na fachada norte do edifício, que recebe maior incidência solar. O prédio também foi um dos primeiros arranha-céus construídos no mundo com fachada curtain wall – uma fachada envidraçada, adequadamente orientada para receber menos exposição ao sol. A disposição das esquadrias em fachadas opostas - norte e sul - e a planta livre permitem ainda a permeabilidade aos ventos através da ventilação cruzada.
Para resgatar todas essas especificidades, os técnicos do Iphan tiveram que enfrentar diversos desafios durante as obras de restauração. Um dos maiores foi restaurar os sistemas de engrenagem, com contrapeso, para movimentação de cerca de 1,1 mil conjuntos de esquadrias, produzidas especialmente para o edifício. Outra ousadia foi substituir todos os brises soleils, originalmente compostos de amianto, por peças em fibrocimento.
Outro ponto de grande curiosidade foi restabelecer o aspecto original da fachada norte recuperando o tom azul original dos brises soleils, chamado azul Lucio Costa. A tonalidade possui um código do Sistema de Cor de Munsell, que foi especificado pelo próprio Lucio Costa, e registrado por ocasião do Projeto de Restauração e Preservação do Palácio da Cultura, na década de 1980. A escala de Cor Munsell é utilizada universalmente pela indústria de tintas para a construção civil e a engenharia, e não possui variação. O registro histórico, assim como a cartela com a indicação da cor e sua referência, encontra-se no Arquivo Central do Iphan e foi consultado para embasar a intervenção.
Entrega da obra de restauração das fachadas do Palácio Gustavo Capanema
Assinatura do Termo de Autorização de uso do edifício para o 27º Congresso Mundial de Arquitetos
Data: 20 de setembro, 16h
Local: Rua da Imprensa, nº 16, Centro - Rio de Janeiro/RJ
Texto publicado originalmente na página do Iphan