O inusitado concurso de arquitetura "LA + ICONCOCLAST" acaba de divulgar os seus vencedores. A proposta dos organizadores para o concurso partiu de uma ideia maluca que só poderia acontecer no mundo da ficção: após um ataque eco-terrorista o Central Park de Nova Iorque teria sido completamente destruído, caberia aos participantes então desenvolver uma nova proposta ambiental para um dos mais emblemáticos parques urbanos do mundo. No total, mais de 380 arquitetos de trinta nacionalidades distintas entregaram suas propostas, foram quase duzentos projetos inscritos, cinco deles levaram o grande prêmio em um surpreendente empate técnico.
Equipes do Reino Unido, EUA, China e Austrália foram os vencedores, suas propostas apresentaram desde "mega-estruturas e novos conceitos ambientais até espaços públicos radicalmente democráticos". O presidente do júri, Richard Weller, elogiou os vencedores ressaltando a "capacidade criativa dos arquitetos para imaginar o futuro, ir além daquilo que conhecemos e propor novos desafios para o século XXI.”
Como parte do prêmio, cada equipe recebeu um total de US$ 4.000 em dinheiro e um espaço exclusivo na próxima edição do periódico do LA + ICONOCLAST. Abaixo, apresentamos as cinco propostas premiadas, com uma breve descrição de cada projeto. Para mais informações sobre o inusitado concurso, visite o site oficial do LA + ICONOCLASR.
The Geoscraper of the Captive Biomes / Tiago Torres-Campos (Edimburgo, Reino Unido)
Descrição: Neste mesmo dia de hoje, há cem anos atrás, o Central Park de Nova Iorque foi completamente destruído. Em poucos dias, uma das paisagens mais vibrantes e apaixonantes do mundo desapareceu sem deixar vestígios. Os responsáveis pelo violento crime ambiental queriam chamar a atenção do mundo para o desmatamento e as mudanças climáticas que o ser humano estava provocando naquele momento.
O período de luto e perplexidade que seque este tipo de ataque, são muitas vezes fundamentais na vida social de nossas cidades. É um tempo de reflexão e pesar, tristeza e ausência, mas pouco à pouco é tempo de recomeçar, de ter esperança e fé no futuro. Mas acima de tudo, estes episódios hediondos tem provocado transformações significativas em nossas sociedades.
Mannahatta Plateau for Fredrick Law Olmsted / John Beckmann, Hannah LaSota + Laeticia Hervy (Axis Mundi Design – Nova Iorque, EUA)
Descrição: O MANNAHATTA PLATEAU apresenta um projeto ecológico dinâmico e integrado ao urbanismo. A devastada superfície original do Central Park foi deixada como um deserto em regeneração, um templo para celebrar o poder da natureza. Acima deste terreno desolado foi construída uma mega-estrutura verde, um platô suspenso que abriga um novo parque, uma colcha de retalhos das diferentes zonas ambientais do mundo todo. A estrutura arrojada e linear do platô oferece uma perspectiva sublime sobre este deserto marciano que se revela por entre as suas aberturas e recortes. A estrutura de 60 metros de altura é definida pelas linhas e pela escala da própria cidade - como um típico edifício de Manhattan. A malha urbana de Nova Iorque é celebrada por ser projetada em toda a superfície do parque, mas esta geometria rígida é então atravessada pelas linhas fluidas da natureza. Além disso, a estrutura de suporte do platô foi revestida de vidro, refletindo a luz de volta para a paisagem distópica do deserto urbano de Nova Iorque, ao mesmo tempo que desfoca os limites entre a natureza e a arquitetura.
Central Cloud of Breath / Chuanfei Yu, Jiaqi Wang + Huiwen Shi (South East University – Nanjing, China)
Descrição: Depois de um grande desencanto, quando uma da mais impressionantes estruturas ambientais urbanas do mundo foi destruída, só resta espaço para a incerteza. Seguindo o ataque terrorista que devastou a narrativa deste eterno parque urbano, a única maneira encontrada para reconstruí-lo foi criando um espaço ambíguo - um espaço de névoa e pesar.
Depois deste fatal incidente, o Central Park foi perdendo todas as suas árvores, ocasionado uma mudança completa no microclima natural do parque. Com a falta de retenção de umidade pelas árvores torna-se impossível resgatar esta paisagem natural. Nosso projeto de curto prazo propõe criar uma nuvem artificial que cobrirá toda a extensão do parque enquanto ele se regenera. Este colchão de vapor - destinado a diminuir a evaporação da água e proteger a reconstrução do ecossistema - será criado e mantido por uma infraestrutura de nuvem artificial. Toda a água utilizada no projeto é canalizada dos sistemas de condicionamento de ar da cidade de Nova Iorque - em essência, o vapor de água restituído à atmosfera pelos seres humanos. Dessa forma, todo nova-iorquino faz parte deste grande projeto de reconstrução ambiental.
De(Central)ized Park / Joe Rowling, Nick McLeod + Javier Arcila (e8urban – Sidnei, Austrália)
Descrição: Após o ataque eco-terrorista de 2018 contra o Central Park, as autoridades de Nova Iorque - reconhecendo a preocupação global para com o esgotamento dos recursos naturais - desenvolveram um programa radical com o objetivo de reduzir a pegada ambiental da cidade. Decretou-se que o Central Park deveria se regenerar naturalmente, dentro da estrutura existente proposta por Olmsted. Além disso, foi decretado que, até 2033, todos os veículos utilizados em Manhattan deveriam ser elétricos. Com o passar dos anos, o número de veículos diminuiu drasticamente, liberando de uma vasta área de espaço público anteriormente dominado por carros, ou seja, as suas ruas e avenidas. A cidade converteu a grande maioria da infraestrutura urbana em novos parques urbanos com uma área duas vezes maior que o Central Park original, criando um novo Central Parque descentralizado.
Song Zhang + Minhzi Lin (Song + Minzhi – Chicago, EUA)
Descrição: Nova Iorque é a maior cidade dos Estados Unidos e a gentrificação em se tornado um problema cada dia mais grave e evidente. Quando uma comunidade pobre precisa inevitavelmente de melhorias e investimentos, as consequências podem ser catastróficas. Historicamente, estas melhorias resultam em um aumento desproporcional dos preços das casas e dos aluguéis, fazendo com que a maioria das pessoas que antes viviam nestes lugares não mais possam custear suas casas, sendo obrigadas a sair e procurar outro lugar para morar. Um exemplo típico desse fenômeno pode ser visto nas proximidades do parque High Line de Nova Iorque. Por isso a proposta de reconstrução do Central Park prevê a criação de moradias para populações de baixa renda em pleno centro de Nova Iorque, junto ao novo Central Park.