Por milhares de anos, o concreto tem sido o elemento base da construção civil: o material mais amplamente utilizado ao longo da história da humanidade. No entanto, à medida que os arquitetos e o público em geral tornam-se cada dia mais conscientes à respeito das causas e efeitos das mudanças climáticas, o impacto ambiental causado pela indústria do cimento torna-se uma das principais questões a ser debatida.
Como bem colocado por Lucy Rodgers em um recente artigo para a BBC News, a produção de cimento é responsável por cerca de 8% das emissões globais de CO2. A alarmante notícia, que muitos já sabiam de antemão, foi publicada paralelamente à realização da conferência das mudanças climáticas COP24 da ONU na Polônia. Isso significa que para cumprir os requisitos do Acordo Climático de Paris de 2015, as emissões anuais resultantes da produção de cimento deverão ser reduzidas em 16% até 2030.
Se a indústria do cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor de CO2 do mundo - atrás apenas da China e dos EUA. A indústria do cimento contribui com mais CO2 do que a queima de combustíveis fósseis pela frota global de aviões (2,5%) e não ficando muito atrás da indústria do agronegócio (12%).
-Lucy Rodgers, BBC News
Embora a história do concreto e do cimento tenha mais de oito mil anos, originado na região que conhecemos hoje por Síria e Jordânia, e posteriormente incorporado pelos romanos que construíram suas magníficas estruturas como o Panteão e o Coliseu, foi mais recentemente, durante os séculos XIX e XX que assistimos uma explosão sem precedentes da indústria do concreto para dar vazão às necessidades da construção civil em expansão ao redor do mundo. Entretanto, a produção de cimento hoje é trinta vezes maior que em 1950, e quatro vezes a produção dos anos 1990. Isso se deve principalmente pelos esforços de reconstrução da Europa durante o pós segunda guerra, e pelo boom na construção civil na China e na Ásia a partir da década de 1990.
Atualmente, mais de 4 bilhões de toneladas de cimento são produzidas todos os anos, liberando mais de 1,5 bilhão de toneladas de CO2. A China é o maior produtor de cimento e não surpreendentemente, o maior emissor de CO2 relacionado ao cimento, seguido pela Índia, pela UE e pelos EUA. No entanto, a estabilização do consumo de cimento na China, por sua vez, fez com que a produção global de cimento finalmente parasse de crescer em 2014, cravando a incrível marca de 4 bilhões de toneladas anuais. À medida que o mercado da construção civil cresce os olhos e avança em direção ao Sudeste Asiático e à África subsaariana, prevê-se que a produção de cimento tenha que aumentar em 25% até 2030 para manter o ritmo esperado.
Mas quais são os verdadeiros motivos que fazem do cimento um vilão tão assustador? A culpa, frequentemente é associada ao processo básico de extração e transporte da matéria prima, mas vale ressaltar que isso representa apenas 10% das emissões totais atribuídas à industria do cimento. Conforme salientado pelo relatório da BBC, mais de 90% das emissões do setor podem, de fato, ser atribuídas ao processo de fabricação do “clínquer” - o elemento-fundamental do concreto.
Para o processo de fabricação do clínquer, as industrias utilizam uma espécie de forno rotativo aquecido a mais de 1400 graus centígrados, o qual é alimentado com uma mistura extraída de calcário moído, argila, minério de ferro e cinzas. O resultado da combustão de tal mistura é dividido em óxido de cálcio e CO2, liberando dióxidos de carbônico para a atmosfera no momento em que o clínquer é então produzido. A matéria prima do concreto é então resfriada, moída e misturada com calcário e gesso para criar o elemento mágico do cimento, o qual está pronto para ser transportado pelo mundo afora.
Cada dia mais, a industria da arquitetura e da construção civil está avançando em direção à materiais de construção mais sustentáveis, como a madeira por exemplo. A conscientização sobre os danos ambientais causados pela industria do cimento fortaleceu a busca por novas alternativas ao "clínquer". Recentemente, pesquisadores da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, revelaram uma nova abordagem para melhorar a qualidade do concreto utilizando elementos extraídos de cenouras e outros vegetais. Outra tendência pode ser chamada de “concreto biorretivo”, desenvolvido pela Dra. Sandra Manso-Blanco, um revestimento para o concreto onde é possível incentivar o crescimento de musgos e líquens que podem absorver CO2 em grandes quantidades.
A abordagem criada por Taktl, por outro lado, concentra-se no conceito miesiano de "menos é mais". Embora esse concreto de desempenho ultra-alto ainda seja concreto, sua produção libera muito menos CO2 do que o concreto tradicional, utilizando menos água em sua produção e com resistência mais elevada, o que significa que é preciso menos matéria prima para alcançar uma maior resistência.
Para reduzir ainda mais as emissões de CO2, a empresa de materiais de construção sediada na Califórnia, Watershed Materials, está desenvolvendo alternativas ao tradicional bloco de concreto, reduzindo drasticamente a emissão de dióxido de carbono durante a sua produção; eles lançaram até um produto alternativo ao bloco de concreto que não usa cimento e tem praticamente as mesmas qualidades construtivas.
Você pode ler o artigo de Lucy Rodgers para a BBC na íntegra aqui.
Publicado originalmente em 15 de janeiro de 2019. Via: BBC News