Sou Fujimoto esteve em São Paulo no último mês de março, para dar uma palestra na Expo Revestir 2019. Tivemos a oportunidade de entrevistá-lo e conversamos um pouco sobre sua abordagem projetual, trabalhos passados e futuros, exposições, entre outras coisas. Nascido no ano de 1971, na ilha de Hokkaido, no Japão, ele fundou seu escritório no ano de 2000, em sua cidade de formação. Possui obras em países como Estados Unidos, Reino Unido, China, Espanha, Grécia e Chile, além de diversas obras no Japão. Confira a entrevista a seguir:
ArchDaily: A maioria dos seus projetos tem uma aparência etérea e leve e parecem se desmaterializar no contexto. O que você leva em conta ao escolher os materiais e produtos para cada projeto?
Sou Fujimoto: Às vezes nosso projeto parece branco e desmaterializado, mas todas as vezes eu gosto de repensar o que é bom para todo o contexto, o histórico do projeto, a cultural local, as condições climáticas e, finalmente, pensar nos produtos finais e materiais. Um bom ponto sobre os materiais brancos é algo além da materialidade, em um sentido, porque as cores e o acabamento mudam com a luz, com o tempo, então é como um espelho, num certo sentido. É por isso que eu gosto da cor branca, não apenas por sua brancura, mas por causa dessa delicada reflexão do entorno, da mudança dos tempos, das estações, as cores do céu, todas aquelas mudanças que afetam o ambiente também afetarão a fachada. Mas às vezes, eu opto de usar os materiais locais. Por exemplo, estamos fazendo um projeto na França, que é como um Spa e Hotel, e não está longe da cidade medieval feita de pedras, como um calcário. Neste caso, propusemos usar esse tipo de pedras, por causa da ligação com o patrimônio cultural. Por isso, gosto de ser muito sensível para escolher as cores, ver o contexto, o entorno, para depois decidir.
AD: Seu escritório passa muito tempo procurando por inovação, novos materiais ou em pesquisas?
SF: Sim, na verdade, toda vez que gostaríamos de ver algo diferente do normal tentamos buscar algo novo. Até mesmo usando os materiais normais, gostamos de usá-los de uma maneira diferente. Às vezes funciona. Mas, claro, às vezes precisamos equilibrar o custo. Tentamos encontrar, sempre, algo interessante para nós.
AD: Então, a experimentação é uma grande parte do seu trabalho?
SF: Isso é verdade. Experimentar não só nos materiais, mas nos programas, composições, estruturas, pois às vezes a situação muito especial do projeto pede algo novo, e precisamos inventar algo que se encaixe nessa situação. Também representa como uma nova tipologia daquela especialidade projetual. E, claro, é muito divertido para nós sermos inventivos. Eu não gosto de repetir as mesmas coisas. Se você observar com cuidado cada projeto é diferente, as características são tão diferentes, e novas inspirações vêm disso. Então é um processo interessante. Toda vez é uma nova aventura.
AD: Sua exposição “Futures of the Future” foi um grande sucesso, transformando objetos do cotidiano em arquiteturas. Como isso influencia seu trabalho?
SF: Essa série de peças foi como uma boa representação de nossos desafios diários, porque mostra como podemos ver algo arquitetônico em coisas não arquitetônicas. Significa abrir as possibilidades para a arquitetura. Gostamos de abordar a arquitetura como algo sério, mas ao mesmo tempo ir além do entendimento arquitetônico normal para ampliar o pensamento da arquitetura. Era como se aquelas coisas mundanas, quando você coloca as pessoas, de repente transforma elas em arquiteturas. Claro, metade delas são grandes brincadeiras, mas ao mesmo tempo podem ser muito sérios, para entender as novas possibilidades da arquitetura em um sentido. Quando eu pensei sobre essa série de exposições, achei que parecia divertido, como uma brincadeira de crianças, mas que ao mesmo tempo parece uma declaração arquitetônica séria, importante e fundamental. É por isso que gosto disso, desse tipo de mentalidade. Mesmo que você veja o lote, ou o programa, como um hotel ou um escritório, sempre gostamos de vê-los de uma maneira diferente, de um ponto de vista diferente. De certo modo, esse tipo de brincadeira é sempre parte do pensamento diário, e é como o espírito da arquitetura, eu acho. Trazer diversão, mudar o ponto de vista e, em seguida, encontrar novas definições da arquitetura.
AD: A natureza também é uma fonte de inspiração para sua arquitetura?
SF: A natureza é uma parte fundamental do nosso mundo, e nossos entornos não são feitos apenas por edifícios, por arquiteturas, mas também por ar, vento, luz solar, vegetação, água. E todas essas coisas naturais são parte muito importante da nosso vida. Então, eu gosto de trazer a natureza para a arquitetura, não apenas trazendo o verde, mas tentando misturá-la em um nível fundamental. A arquitetura deve ser mudada para se aproximar da natureza e a natureza poderia ser mais próxima da arquitetura. Então, algo entre a natureza e a arquitetura pode acontecer, eu acredito. Para esse tipo de propósito, eu gosto de repensar sobre as regras ou as ordens da arquitetura, quebrando, por exemplo, em pedaços menores e depois buscar harmonizar a arquitetura com a natureza, ou tentar criar boas interações entre o interior e o exterior, com limites borrados. Então, eu diria, como re-entender ou recriar a arquitetura de uma forma natural? É um bom desafio repensar sobre arquitetura. Não apenas decorar a arquitetura com o verde, mas pensar nessa relação entre natureza e arquitetura.
Eu gosto de entender o que é natureza, e depois gosto de entender o que é arquitetura também. Portanto, é necessário um entendimento mais aprofundado. Eu sinto, em um nível muito fundamental, que a natureza e a arquitetura não são coisas tão diferentes. Acredito na busca por um espaço onde a natureza e a arquitetura se derretessem mais como nosso ambiente de vida. É isso que gosto de buscar na minha arquitetura.