E se você pudesse enviar uma mensagem de WhatsApp e uma van verde colorida entregasse mudas de árvores nativas diretamente para você? Em Salvador, a prefeitura faz exatamente isso. Pintada com a imagem de uma floresta brasileira biodiversa, esta van verde faz parte do programa "Disque Mata Atlântica". Desde que foi lançado em 2017, o programa já entregou 4.500 árvores para os moradores que desejam plantar em casa.
Esse é um dos muitos programas inovadores promovidos pela Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador para aumentar a conscientização sobre o papel crucial que as árvores desempenham nas cidades – não apenas as árvores urbanas, dentro dos limites da cidade, mas também as florestas distantes.
A cidade de São Paulo também trabalha para plantar árvores e preservar florestas. Embora muita coisa pareça separar essas duas cidades – da disparidade de riqueza até os partidos políticos completamente diferentes que as governam – elas estão conectadas por um dos ecossistemas mais ameaçados do Brasil.
Estamos falando da Mata Atlântica. Até mesmo as árvores urbanas das cidades fazem parte desse ecossistema florestal.
Salvador e São Paulo se comprometeram a proteger e restaurar a Mata Atlântica, que vêm sofrendo com desmatamento severo. Hoje, menos de 20% da floresta original permanece em pé. As duas cidades reconhecem os benefícios da floresta para as pessoas, como garantir um abastecimento de água consistente e limpo, regular a temperatura, purificar o ar, melhorar a geração hidrelétrica, limitar as inundações, salvaguardar espécies vegetais e animais exclusivas e estimular o desenvolvimento econômico local.
Salvador e São Paulo já são obrigadas pelo Código Florestal brasileiro e por uma lei federal de 2006 a proteger a Mata Atlântica, mas também desenvolveram estruturas locais para ir além das exigências nacionais. De árvores urbanas em parques e ruas, passando por áreas próximas de florestas que protegem o abastecimento de água, até áreas distantes que armazenam carbono e salvaguardam a biodiversidade, essas cidades estão apoiando a grande Mata Atlântica da qual dependem.
Árvores urbanas em parques e nas ruas
Além do programa Disque Mata Atlântica, Salvador já plantou mais de 51.230 árvores, revitalizou e expandiu parques e áreas protegidas e criou manuais simplificados sobre manejo para o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica em áreas urbanas.
Em 2016, São Paulo lançou uma análise aprofundada da área de Mata Atlântica da cidade. Para melhor conectar esses espaços verdes, a capital paulista expandiu seus parques e áreas protegidas para cobrir mais de um quinto de sua área total. E os esforços não param por aí. Nos últimos três anos, a cidade plantou uma média de 59 mil árvores por ano. Em agosto, autoridades publicaram online planos adicionais para melhorar alguns dos parques da cidade, a fim de receber comentários e contribuições da população – incluindo o parque do Ibirapuera, que atrai 14 milhões de visitantes por ano.
Árvores revitalizam bacias hidrográficas das cidades
O ecossistema da Mata Atlântica fornece água para mais de 63 milhões de pessoas dentro e fora de São Paulo. De acordo com novos dados do Aqueduct Mapa de Risco de Água, do WRI, A cidade está sob alto estresse hídrico. No entanto, um relatório recente descobriu que a restauração de 4 mil hectares na bacia hidrográfica próxima a São Paulo, a Cantareira, poderia melhorar a qualidade da água, reduzir a poluição a um terço e aumentar o fornecimento de água durante a estação seca, gerando um retorno de 28% do investimento para a companhia de água local. Como resultado, as principais partes interessadas estão trabalhando juntas para obter financiamento para restaurar a bacia hidrográfica. Há grande potencial para passos semelhantes também na bacia hidrográfica de Salvador.
A sociedade civil e as empresas sustentáveis também estão liderando o caminho. Por meio da Iniciativa 20x20 (um esforço liderado pelo país para restaurar áreas degradadas em toda a América Latina e o Caribe), a Symbiosis Investimentos está protegendo florestas naturais e limitando a erosão do solo no estado da Bahia. A empresa administra uma operação madeireira de biodiversidade, plantando uma variedade de árvores nativas e restaurando terras adicionais fora das áreas que colhe. Perto de São Paulo, o Floresta Viva está cultivando o palmito sustentável, substituindo as plantações de palmeiras que fazem uso intensivo de produtos químicos pela diversidade restauradora do solo que imita o ecossistema da floresta.
Protegendo e restaurando a Mata Atlântica do Brasil
A Amazônia tende a atrair mais atenção da mídia global, mas a Mata Atlântica também oferece serviços ecossistêmicos cruciais para São Paulo, Salvador e cidades ao redor do mundo. A floresta é o lar de mais de 20 mil espécies de plantas, incluindo centenas de espécies de árvores. A Mata Atlântica contribui intensamente para o combate às mudanças climáticas, armazenando uma quantidade de carbono equivalente ao o que os Estados Unidos emitem a cada ano.
Hoje, apenas 7% da Mata Atlântica permanece em boas condições, mas estão sendo feitos esforços significativos para restaurá-la. O governo do estado de São Paulo se comprometeu a restaurar 300 mil hectares de terras degradadas na Mata Atlântica. O Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – movimento com diversos atores composto por ONGs, universidades, empresas como a Suzano, de papel e celulose, e órgãos do governo, como a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo – mostrou que vários grupos restauraram cerca de 700 mil hectares de florestas nativas entre 2011 e 2015. Até 2020, um total de 1,4 milhão de hectares poderá ser recuperado.
Este sucesso se deve em parte a um movimento que envolve e desenvolve a capacidade de atores locais e regionais em torno de um objetivo comum. Se cidades com fortes políticas públicas, como Salvador e São Paulo, continuarem se unindo a municípios rurais para proteger e restaurar a Mata Atlântica, o futuro da floresta é promissor.
O poder das cidades para proteger as florestas
Trabalhando juntas, as cidades podem implementar estratégias locais que ajudem a cumprir metas globais e nacionais para acabar com o desmatamento, restaurar florestas e combater com êxito a mudança climática no solo. Como Salvador e São Paulo contam com a mesma floresta para o ar que respiram, a eletricidade que consomem e a água que bebem, as duas cidades têm em mãos uma oportunidade significativa para colaboração.
Além de Salvador e São Paulo, outras sete cidades brasileiras se uniram ao Cities4Forests, uma iniciativa internacional voltada a ajudar as cidades a conservar, manejar e restaurar florestas. Esforços como esses contribuem para as metas nacionais de restauração florestal e de paisagens no Brasil sob a Iniciativa 20x20 e o Desafio de Bonn. No nível regional, os serviços que a Mata Atlântica oferece serão um importante tópico de discussão durante a Semana do Clima da América Latina e Caribe de 2019, realizada em Salvador de 19 a 23 de agosto.
As abordagens inovadoras de Salvador e São Paulo sinalizam que, diante da crise climática e dos múltiplos desafios ambientais, envolver cidades pode ser a melhor oportunidade para proteger e restaurar ecossistemas críticos.
Via WRI Brasil.