Caminhar é a forma mais simples, leve, econômica e de baixo impacto para os deslocamentos urbanos, especialmente em trajetos de até dois quilômetros. Mais gente caminhando significa melhor qualidade de vida para as pessoas e suas cidades, com consequente redução dos gastos de governos em saúde pública. Esses conceitos são unanimidade entre urbanistas e outros pensadores contemporâneos.
No entanto, os resultados de um estudo inédito realizado pela organização Mobilize Brasil indicam que nenhuma das 27 capitais brasileiras oferece condições “civilizadas” para a circulação de pedestres e cadeirantes em suas calçadas, ruas e faixas de travessia. Os valentes que insistem em caminhar encontram calçadas estreitas, buracos, degraus, postes, faixas de travessia apagadas, semáforos ausentes ou deficientes, ambientes agressivos e poluídos e nenhum local para descanso em dias de calor ou chuva. Em outras palavras, as cidades brasileiras apresentam baixa caminhabilidade.
Caminhabilidade (do inglês, walkability) é uma medida quantitativa e qualitativa para avaliar quão convidativa uma rua, praça, ou qualquer espaço público pode ser para pedestres, cadeirantes e outras pessoas com deficiência. E avaliar a caminhabilidade de uma rua, um bairro, ou de uma cidade, é o primeiro passo para transformar esse lugar.
Para essa avaliação, a equipe realizou uma ampla pesquisa das experiências internacionais, seguida por uma série de encontros com especialistas de organizações brasileiras que atuam no estímulo à mobilidade ativa. O trabalho resultou em uma metodologia de avaliação simples e intuitiva, que pode ser aplicada em qualquer cidade brasileira, por qualquer pessoa com um mínimo de treinamento.
Com apoio dessa metodologia, foi formada uma rede de colaboradores, nas 27 capitais, que saíram às ruas entre os meses de abril e julho para fazer o levantamento das proximidades de locais com grande circulação de pessoas a pé, como hospitais, escolas, mercados, terminais de transportes, edifícios da administração pública, praças e parques, entre outros espaços.
Os avaliadores visitaram, fotografaram, tomaram medições, e atribuíram notas de zero a dez para cada um dos 13 itens considerados na pesquisa: regularidade do piso, largura da calçada, inclinação transversal da calçada, existência de barreiras e obstáculos, condições de rampas de acessibilidade, faixas de pedestres, semáforos de pedestres, mapas e placas de orientação, arborização e paisagismo, mobiliário urbano, poluição atmosférica, ruído urbano e segurança. Por fim, essas notas foram ponderadas e tabuladas para a geração de dados sobre cada cidade e de todo o Brasil.
Resultados
A média nacional, entre todas as 27 capitais e considerando todos os itens avaliados, ficou em 5,71, uma média baixa, já que os critérios do estudo estabeleciam que o mínimo aceitável seria a nota 8, numa escala de zero a dez.
O mais grave é que todos os 835 locais avaliados estão sob responsabilidade direta dos governos, em seus três níveis. Se os governantes não cumprem as leis e normas, como esperar que o morador zele por sua calçada?
Sobre o Mobilize Brasil
Criado em 2011, por Ricky Ribeiro, como um “portal brasileiro de conteúdo exclusivo sobre mobilidade urbana sustentável”, o Mobilize se tornou uma plataforma para a articulação de diversos atores que trabalham para a melhoria das condições de vida nas cidades. Seu objetivo é contribuir para a melhoria da mobilidade urbana e da qualidade de vida nas cidades brasileiras, em quatro eixos: Prover conhecimento e conteúdo relevante, abrangente e de diversas formas sobre mobilidade urbana sustentável; Fomentar o debate público sobre a temática; Disseminar uma cultura cidadã participativa em prol da melhoria da qualidade de vida nas cidades; Pressionar governos para implantarem políticas públicas efetivas de mobilidade urbana sustentável.