O sonho de construir uma casa em um jardim com cerquinha branca parece não ser mais tão apelativo quanto outrora. Entre crises econômicas e habitacionais, o sonho da casa própria está cada dia mais distante do alcance do cidadão comum de classe média, uma retração global que resultou consequentemente em um acanhamento do próprio espaço habitável. Neste contexto, o movimento 'Tiny Houses' vem ganhando força no cenário internacional. Mas esta apologia ao espaço mínimo tem feito arquitetos e autoridades do mundo todo levantarem uma série de questões, perguntando se estas 'micro-arquiteturas' seriam capazes de resolver as questões mais urgentes em relação ao acesso à propriedade ou se servem apenas para glorificar e mercantilizar condições precárias de moradia.
Ao longo de 2018, Tiny Houses foi um dos tópicos mais recorrentes nas pesquisas realizadas por nossos usuários do ArchDaily, com um aumento de 75% em relação ao ano anterior, levando-o a assumir o primeiro lugar na nossa lista de tendências da arquitetura para o ano de 2019. De uma hora para a outra passamos a nos questionar se a simples redução do espaço habitável é de fato uma solução viável e ambientalmente correta à falta de moradia. Este movimento, por assim dizer, minimalista, também tem sido associado à uma suposta mudança de comportamento, uma oposição a ostentação e o materialismo. A procura por espaços mais compactos e eficientes tem crescido assustadoramente tanto na cidade quanto no campo. Mas a pergunta que não quer calar é: seria esta busca fruto de uma mudança consciente do estilo de vida ou de uma imposição do mercado?
Para o mercado, reduzir significa diminuir custos e muitas vezes, aumentar a lucratividade. É como uma faca de dois gumes, e não é por acaso que em alguns países, casas muito pequenas podem ser consideradas ilegais. Nos Estados Unidos por exemplo, rígidas normas de segurança e conforto fazem com que casas muito pequenas sejam inaceitáveis legalmente. Nos termos da lei, as Tiny Houses ficam em algum lugar entre trailers e residências unifamiliares: elas podem ser consideradas como micro-apartamentos (sobre fundações) ou motor-homes (sobre rodas). Isso significa que, para ser classificada oficialmente como "pequena", uma casa deve ter no máximo trinta e sete metros quadrados, de acordo com o International Code Council.
Ainda assim, devemos atentar ao fato que casas pequenas também podem oferecer uma série de benefícios, desde um estilo de vida minimalista e uma maior mobilidade até custos mais baixos de construção e manutenção se comparadas à casas unifamiliares tradicionais. Mas as Tiny Houses teriam surgido como uma resposta à falta de moradias e a crise habitacional ou como uma ferramenta de capitalização que explora uma população com necessidades cada dia mais urgentes? Os artigos a seguir exploram variados temas relacionados com o fenômeno das 'Tiny Houses', oferecendo-nos diferentes pontos de vista para melhor comprendê-lo.
Um pequeno luxo: o que as "Tiny Houses" realmente dizem sobre arquitetura?
Depois do lançamento bem sucedido de seu projeto piloto em Boston e mais de um milhão de dólares investidos, a startup Getaway decidiu avançar sobre a maior cidade dos Estados Unidos. Em Nova Iorque, a empresa disponibilizou uma série de “pequenas casas” para alugar - localizadas em meio à natureza em ambientes rurais isolados ao norte da cidade. Com uma faixa de preço a partir de US$ 99 por noite, a Getaway procura oferecer um alternativa para os nova-iorquinos que procuram desconectar-se da grande cidade por alguns dias. A empresa foi fundada pelo estudantes Jon Staff e Pete Davis, ambos alunos da Universidade de Harvard, depois de muito debater com seus colegas à respeito de soluções alternativas relacionadas à moradia e a necessidade de se criar novos conceitos de moradia voltados à população mais jovem. A partir disso, surgiu a ideia de promover a 'Tiny House' como uma experiência temporária voltada às novas gerações que vivem em áreas densamente urbanizadas.
5 coisas que a arquitetura pode aprender com o movimento "Tiny House"
Com o crescimento incerto da economia global, algumas pessoas estão investindo na criatividade para melhor ocupar seus reduzidos espaços residenciais. O movimento Tiny House tem recebido adeptos de todas as partes do mundo, incentivando a construção de casas com menos de 14 metros quadrados de área útil. Lares para moradores de todas as idades, estas pequenas casas evoluíram para muito além dos estacionamentos de trailers de décadas atrás e estão se tornando uma solução muito popular para enfrentar a crise econômica, acarretando em mudanças para todo o campo da arquitetura.
Comunidades Tiny-House: paraísos seguros para sem-teto
À medida que a procura por soluções inteligentes para o mercado da habitação cresce, o movimento Tiny Houses desponta como uma das principais soluções, se consolidando não apenas como abrigo temporário para situações emergenciais, mas como uma forte tendência para o futuro da arquitetura residencial unifamiliar. O artigo publicado por Tim Murphy no BuzzFeed intitulado, Are Tiny-House Villages The Solution To Homelessness?, faz uma análise minuciosa dos aspectos positivos e negativos dessas comunidades controversas, bem como suas ramificações sociais e políticas até então. Por meio de entrevistas com moradores, Murphy investiga os impactos destas comunidades de 'Tiny Houses' nas populações em situação de rua das principais cidades americanas, questionando como este 'estilo de vida' poderia evoluir no futuro. Leia o artigo completo aqui.
Micro-arquiteturas: 40 grandes ideias para pequenas casas
Apesar de sua aparente simplicidade, cabanas sempre foram um desafio em termos de projeto, no qual escala, materialidade e habitabilidade devem ser resolvidas para aproveitar ao máximo os pequenos espaços. Talvez o mais famoso exercício desse tipo, o cabanon de 16 m² projetado por Le Corbusier reuniu um apanhado de ideias em que o arquiteto suíço explorou o "modulador" - uma compreensão da fundamentalidade da escala humana. No meio século que se seguiu, muitos arquitetos proeminentes se aventuraram no projeto de cabanas, tanto experimentalmente quanto primitivas, buscando um pequeno refúgio em harmonia com o contexto natural.
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