O escritório português MASS lab, liderado pelos arquitetos Diogo Rocha, Duarte Fontes e Lourenço Rodrigues, foi anunciado como vencedor do Concurso de Ideias para o Antigo Quartel de Monte Pedral, organizado pela Câmara Municipal do Porto, Portugal. O projeto vencedor combina uma nova rede de espaços públicos com uma variedade de tipologias habitacionais, conformando uma espécie de arquipélago no meio da cidade: um conjunto de ilhas urbanas que estruturam a malha urbana e onde a relação de proximidade prioriza o espaço entre - um espaço que será preenchido pelo tempo e pelas pessoas.
"Como podemos gerar uma continuidade urbana na qual o habitante pode mover-se gradualmente entre uma zona e outra? Como encorajar um espaço multidimensional de intensidade e diversidade? Como podemos atingir um espaço público pleno de parques, largos, praças e definido por um programa urbano diversificado?", questionam-se os arquitetos. Buscando responder estas perguntas, o projeto se baseia no equilíbrio morfológico entre público e privado, diversidade de usos, serviços e tipologias e densidade habitacional.
O plano define linhas de continuidade com o entorno, colmatando a malha urbana a oeste e definindo os traçados viários a norte e a sul. A oeste, a frente urbana é definida pelo edifício de interesse patrimonial, isto é, o quartel militar, que por sua vez será ampliado a norte e reestruturado na ala sul, de modo a integrar uma residência estudantil.
A fragmentação dos volumes provoca dinamismo e porosidade ao conjunto. Esta operação é informada por relações de alinhamento e concordância com o entorno. Deste modo, é possível acessar o interior da quadra e usufruir de uma rede de espaços públicos com características variadas.
Como gerar espaço público?
O desenho de espaços públicos qualificados, de características e funções diversas, foi o grande foco e motor do projeto. A análise e categorização dos diversos espaços públicos do porto - praças, largos, jardins, parques e miradouros - permite a compreensão da lógica distributiva e a relação de proximidade entre os espaços e zonas dinâmicas, sendo possível desenhar uma rede de conexão. Monte Pedral encontra-se dissociado desta rede, uma vez que não são identificáveis espaços públicos nesta zona.
Os espaços identificados no mapa surgem da necessidade, ao longo do tempo, em formalizar vazios. Estes espaços, pelo seu valor excepcional na malha urbana, servem como ponto de referência na orientação da cidade. As funções variam segundo as necessidades específicas de cada época, admitindo-se, assim, uma polivalência nos usos. Se por um lado há uma clara definição formal nos espaços públicos de grande dimensão, por outro, é nos espaços informais (geralmente de dimensões menores) que reside o sentido de hospitalidade e vizinhança.
Estes espaços são geralmente pouco definidos em termos formais, uma vez que se desenvolvem de forma orgânica. Adaptam-se à topografia natural da cidade e proporcionam espaços de uso comum. Neste sentido, procura-se uma simbiose entre a definição formal, característica dos espaços de grande dimensão, e o sentido informal dos espaços de desenvolvimento natural.
A identidade do Porto é profundamente assente na situação geográfica e topográfica. O ambiente construído adapta-se ao terreno e são desenvolvidos mecanismos que tornam possível a apropriação do espaço. Deste modo, o projeto procurou sintetizar um conjunto de ferramentas que resolvam diferenças de nível, associados a diferentes funções de acordo com a sua configuração espacial e relação de conjunto.
Qual é o novo padrão de habitação?
As formas adotadas não são diretamente associadas uma tipologia habitacional nos termos comuns, mas antes com a noção de um módulo, uma unidade que se repete e que forma um conjunto. Esta unidade, um quadrado de três metros, gera a matriz reguladora de todo o conjunto. A multiplicação e combinação desta unidade leva à sucessiva criação de apartamentos, espaços partilhados, logradouros coletivos e, finalmente, espaços públicos.
Flexibilidade, partilha e identidade são a base para a produção de habitação no futuro. Um modelo flexível tem que considerar valores como reconfiguração espacial e possibilidade de expansão ou redução. Os modelos de habitação são identificáveis pelo tipo de acesso (vertical, galeria, direto ou híbrido), e os edifícios que formam o conjunto são distribuídos de forma heterogénea e respondem de forma particular à relação interior-exterior ou público- privado.
Como reestabelecer a vizinhança urbana?
A relação entre público e privado ocorre de forma progressiva. Os espaços públicos são caracterizados com diferentes programas e funções e servem tanto a comunidade local como a cidade.
Tendo em conta os padrões de habitação contemporâneos, há cada vez mais a necessidade de espaços compartilhados de uso cotidiano ou esporádico. Estes espaços, quando integrados na arquitetura, aumentam consideravelmente a qualidade de vida dos habitantes. A unidade habitacional pode, deste modo, ser expandida através de espaços funcionais (lavandarias, cozinhas, áreas de trabalho, etc) assim como programas excepcionais à norma de habitação (zonas de lazer, quartos de jogos, eventos, etc).
Ficha técnica
Localização: Quartel Monte Pedral, Porto
Cliente: Camara Municipal do Porto
Tipo: Concurso internacional aberto, - 1o prémio
Categoria: Desenho urbano, Masterplan e arquitectura
Tamanho: 52.000 m2
Arquitetura: MASS lab
Engenharias: A400
Imagens: MASS lab