Estamos vivendo uma época de intensa migração do campo para as cidades. Nossos centros urbanos estão cada dia mais saturados e superpovoados, fazendo com que o tema da moradia mínima volte a ser um recorrente tópico no discurso e na prática da arquitetura, levantando importantes questões à respeito do futuro das nossas cidades. Neste contexto, a Bienal de Arquitetura do País Basco MUGAK está apresentando uma instalação chamada "Nakagin 1:1", uma réplica em escala real de um dos apartamentos “cápsula” projetados por Kisho Kurokawa para a Nakagin Capsule Tower de Tóquio, Japão. A capsula de Kurokawa estará aberta à visitação na sede do Clube Náutico Donostiarra, implantada em um dos espaços mais emblemáticos do País Basco, a Bahía de la Concha de San Sebastián. A reprodução da estrutura mínima concebida por Kurokawa permitirá aos visitantes experimentar a sensação de viver em uma destas unidades, um micro-apartamento de apenas dez metros quadrados.
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A “Nakagin Capsule Tower”, ícone do movimento metabolista na arquitetura japonesa, foi projetada pelo arquiteto Kisho Kurokawa no início dos anos setenta e inaugurada finalmente em 1972 no bairro de Ginza, em Tóquio. O movimento metabolista partia da compreensão da arquitetura como um organismo vivo e em constante transformação, refutando a ideia de arquitetura - e consequentemente de cidade - como uma entidade estática. O edificio projetado por Kurokawa se destaca por sua concepção estrutural inspirada no corpo humano, com o núcleo central de concreto funcionando como uma coluna vertebral onde se acoplam as micro capsulas pré-fabricadas com seus dez metros quadrados de área útil. O edifício hoje é visto como um protótipo, um modelo de uma nova tendência que começava a se desenhar na segunda metade do século XX: a arquitetura sustentável. Isso porque as cápsulas pré-fabricadas foram concebidas para ser facilmente substituídas ou recicladas, permitindo ainda adicionar novos módulos ou adaptá-los segundo as necessidades dos usuários. A ideia do projeto de Kurokawa foi desenvolvida com a intenção de servir de abrigo para uma nova classe de trabalhadores que estava surgindo, aqueles que passavam o dia inteiro trabalhando fora de casa no centro de Tóquio.
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Ainda que tenha sido projetado a quase cinquenta anos, o edifício parece lidar uma série de questões cada dia mais atuais. Quais são os limites da mobilidade na arquitetura? Seriam nossos edifícios capazes de se adaptar às diferentes mudanças de nossa sociedade? Como serão as moradias nas cidades do futuro? A habitação mínima é de fato, sustentável? estas são apenas algumas das perguntas que a equipe da MUGAK está levantando com este projeto. A ideia é aprofundar a discussão sobre o tema da habitação mínima em um contexto completamente novo, proporcionando um ponto de partida para reflexões conjuntas entre a comunidade local e a comunidade de arquitetos que estará participando da segunda edição da Bienal do País Basco.
A partir disso, a arquitetura japonesa desempenhará um importante papel no contexto da Bienal Internacional de Arquitetura do País Basco MUGAK (literalmente "fronteiras" em basco), que este ano celebra sua segunda edição e é co-organizada pelas três capitais do País Vasco: Bilbao, San Sebastián e Vitória. A edição deste ano contará com uma centena de atividades que buscam aproximar a arquitetura da comunidade local além de explorar os limites entre a arquitetura, a arte e a cultura. Paralelamente, entre os dias 22 de outubro e 12 de dezembro de 2019, terão lugar nas três cidades sede uma série de conferências e oficinas sobre arquitetura japonesa e habitação mínima.
Organizada pela Associação Cultural Atari ("portal" em basco), com o apoio do Governo Basco e a Câmara de Gipuzkoa, assim como a participação da Embaixada Japonesa na Espanha e a Fundación Japón, o ciclo de palestras sobre a Nakagin Tower contará com visitas guiadas à capsula de Kurukawa e a exibição de vários documentários: ‘Kisho Kurokawa: From Metabolism to Symbiosis’, no dia 22 de outubro, ‘Nakagin Capsule Tower: Japanese Metabolist Landmark on the Edge of Destruction’, no dia 5 de novembro, e ‘Kochuu’, encerrando o ciclo no próximo dia 12 de novembro.
Além disso, o arquiteto Yoshihiko Ito, professor titular do Departamento de Arquitetura da Universidade de Tokai, dará uma conferência no dia 22 de novembro além de uma oficina no dia seguinte sobre o movimento metabolista e as dificultades de manutenção desta que é uma das mais icônicas obras de arquitetura de Tóquio. Ito ainda organizará uma oficina-taller na qual ele convidará os participantes a refletir sobre os espaços mínimos em distintos contextos históricos e culturais, enquanto o arquiteto italiano Antonio Scarponi ministrará no próximo dia 28 de outubro, uma conferência e oficina (29 de outubro) sobre os limites, ou a necessidade da falta deles, na mobilidade das estruturas arquitetônicas contemporâneas.
O estudio Husos, por sua parte, discutirá sobre os desafios dos projetos de moradias sociais durante sua conferência no dia 30 de outubro, levantando questões à respeito da especulação imobiliária e novas maneiras de habitar. David Ribera, para o fechamento da Bienal no dia 8 de novembro, apresentará uma reflexão sobre o patrimônio moderno e os desafios de sua conservação, focando na atual situação da Torre Nakagin, entre todas as incertezas sobre seu futuro.
'Nakagin 1:1' faz parte de um extenso programa expositivo, de conferências e atividades que compõe o programa da MUGAK, realizada entre os dias 10 de outubro e 12 de dezembro de 2019. Promovida pelo Departamento de Meio Ambiente, Planejamento Territorial e Habitação do Governo Basco, a Bienal procura aproximar a arquitetura da comunidade local e criar um ponto de encontro e diálogo entre cidadãos e arquitetos do mundo todo, promovendo o debate e a reflexão como ferramentas para a construção de cidades melhores, mais equitativas e justas. A programação da Bienal acontece em três cidades diferentes e conta com o auxílio de outras trinta organizações colaboradoras.