Embora fundado a pouco mais de dez anos, o Airbnb tem provocado uma profunda transformação na maneira como nos relacionamos com os edifícios e também com as nossas cidades. Criada em 2008, esta plataforma digital utiliza a tecnologia para criar novas redes e proporcionar novas experiências de vida a seus usuários. O conceito chave por trás do Airbnb é fazer com que as pessoas se sintam em casa seja onde for que elas estiverem. Por isso a empresa decidiu investir em suas próprias equipes de arquitetura e design, como a Samara e a Airbnb Environments, sub-divisões do Airbnb que estão dando forma a novas maneiras de viver e habitar as nossas cidades.
Em entrevista exclusiva ao ArchDaily, Rachael Harvey, co-fundadora e produtora executiva da equipe de criação da Airbnb Environments, falou sobre o seu papel dentro da sub-divisão da empresa e em como o Airbnb está provocando uma transformação sem precedentes na maneira como habitamos nossos edifícios e cidades. Lançada em fevereiro de 2014, a Airbnb Environments é responsável pela imagem institucional dos escritórios do Airbnb, um conjunto de mais de 20 edifícios e escritórios ao redor do mundo.
EB: De onde vem seu interesse pela arquitetura; por que você escolheu estudar arquitetura?
RH: Meu interesse pela arquitetura surgiu depois que eu comecei a me interessar por design de interiores, enquanto eu ainda estava em na faculdade estudando Antropologia Cultural - sempre fui fascinada por como a cultura, o espaço e as pessoas interagem e influenciam umas as outras. Eu passei a procrastinar nos meus afazeres enquanto me divertia redesenhando os espaços da casa para a qual eu acabara de me mudar. Esse foi o meu momento de 'eureka', mas é claro que não foi algo que eu descobri do dia para a noite, meus pais eram designers e durante a minha infância brincávamos fazendo buracos nas paredes de nossa casa vitoriana para construir esconderijos secretos.
EB: Você é co-fundadora da equipe do Airbnb Environments, um grupo de designers de interiores e arquitetos responsáveis pela criação da imagem institucional do Airbnb. O que há de diferente neste trabalho com as suas experiência prévias no Myriad Harbour e na IDEO?
RH: Trabalhar como o designer de interiores da casa onde você mora é diferente de projetar espaços para as casas dos outros não é mesmo? Muitas coisas podem até parecer iguais, mas são duas realidades completamente diferentes. Partindo de um entendimento mais amplo do significado do Airbnb, passamos a projetar e construir espaços que sejam capazes de fazer que qualquer pessoa se sinta em casa em qualquer lugar. Isso é, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade e uma enorme responsabilidade. Nossos projetos não terminam com a seção de fotos - as pessoas habitam os nossos escritórios todos os dias.
EB: Trabalhando para o Airbnb você já acompanhou a execução de mais de trinta mil metros quadrados de espaços de escritórios ao redor do mundo. Na sua opinião, quais são as principais tendências que você vê surgindo nesta área?
RH: Primeiramente, eu vejo uma busca por espaços cada vez mais acolhedores e aconchegantes (também em projetos coletivos de habitação). Esta busca está implícita na maneira que projetamos nossos espaços e também no desenho de mobiliário, na proliferação e na importância que estamos dando aos espaços de socialização dentro de um ambiente de trabalho. Ainda que não tenhamos abandonado de todo a ideia de "autoatendimento", os espaços coletivos estão cada dia mais carregados de nuances que buscam favorecer o dialogo e as trocas entre as pessoas.
Em segundo lugar, notei também um amadurecimento da compreensão da necessidade de espaços de trabalho abertos e integrados. Como geralmente acontece no mundo das idéias, tudo começa com algo relativamente simples e, com o tempo, passamos a refinar as suas formas. Aqui no Airbnb, abordamos o espaço de trabalho como algo fluido, um espaço dinâmico pelo qual as pessoas circulam e interagem. Por exemplo, projetamos nossas mesas de café com tomadas integradas para que as pessoas possam trabalhar com seus laptops de forma confortável.
EB: Na sua opinião, qual o papel do Airbnb no desenvolvimento urbano?
RH: A maioria dos arquitetos e urbanistas do mundo trabalham remotamente, com pouco contato direto com o local específico de seus projetos. Segundo nossos relatórios sobre o impacto econômico do compartilhamento de espaços em cidades ao redor do mundo, o resultado nos informa que o Airbnb tem causado um impacto considerável na economia local em diversos níveis.
EB: A missão da equipe do Airbnb Environments é promover os valores da marca, comunicando e divulgando a cultura do Airbnb. Como vocês abordam esta questão, ou seja, quais são os princípios de projeto utilizados e de onde eles vem?
RH: Os princípios que guiam os nossos projetos vêm diretamente do feedback que recebemos de nossos anfitriões assim como da própria missão do Airbnb: fazer com que as pessoas se sintam em casa em qualquer lugar do mundo. Nosso principal objetivo é criar espaços que sejam acolhedores, agradáveis, familiares e, contando com um pouco de sorte, espaços que possam transformar a vida das pessoas. Eu vejo o design como uma ferramenta capaz de criar confiança nas pessoas e, consequentemente fazer com que elas se identifiquem com estes lugares e se sintam seguras para sair e explorar o mundo.
EB: Considerando as mudanças climáticas, os avanços tecnológicos e suas consequentes repercussões na industria da construção civil, como você acha que os arquitetos irão se adaptar para responder à estas questões?
RH: Valorizando e desenvolvendo projetos que priorizem espaços de vida agradáveis que façam as pessoas se sentirem bem - e que possam colaborar e até se sentirem responsáveis pela manutenção destes espaços. Todos queremos criar projetos bonitos, mas o mais importante é como as pessoas se sentem nestes espaços.
EB: Em que tipo de projetos você mais gosta de trabalhar?
RH: Projetos que têm um objetivo claro. Um designer trabalha para solucionar problemas, portanto, ter clareza de qual é o problema com o qual estamos lidando é um importante passo para o sucesso de um projeto.
EB: Em sua opinião, qual é o grau de relacionamento e interesse do Airbnb com as equipes de arquitetura do Samara e do Airbnb Environments?
RH: Altíssimo, o Airbnb se preocupa com a qualidade do ambiente construído, com os lugares onde as pessoas vivem ou visitam. Nossa equipe foi criada para dar forma a esta preocupação, divulgando a imagem institucional do Airbnb, seja em seus espaços de escritório ou através de outros projetos colaborativos em parceria com nossos empreendedores.
EB: O que você espera para o futuro da Environments?
RH: Eu acredito que o ambiente construído desempenha um importante papel na vida das pessoas e na maneira como elas experimentam o espaço; por um lado ele funciona como um porto seguro (abrigo) e, por outro, promove o bem-estar e a qualidade de vida destas pessoas. O Airbnb nos apresentou uma nova maneira de ver o mundo e a Environment é o instrumento utilizado para ampliar e promover esta visão. O que eu espero com este trabalho é aproximar a experiência digital da vida real. Às vezes, só precisamos dar o primeiro passo, se importando com as pessoas ao nosso redor e com o nosso ambiente de vida.