A Casa Lacerda, um dos principais patrimônios arquitetônicos da região da Lapa (PR), vai ganhar vida nova em breve. O espaço que atualmente funciona como museu e Casa de Patrimônio — com a ambientação que reproduz a casa de uma família tradicional lapeana — será ampliado através da construção de um anexo. Nesta quarta-feira (18), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Departamento do Estado do Paraná do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PR) revelaram os projetos vencedores do concurso público nacional que darão origem à nova construção.
A Casa Lacerda foi construída na década de 1840 para servir de residência do comerciante português Manoel José Corrêa de Lacerda. Até hoje preserva suas características de arquitetura luso-brasileira. Localizada no Centro Histórico, ela tem grande importância histórica para a região: nela foi assinada a ata que pôs fim ao Cerco da Lapa, batalha ocorrida em 1894. Atualmente, ela é propriedade do Iphan e tombada como patrimônio federal e estadual.
Anna Finger, chefe da divisão técnica da superintendência do Iphan no Paraná, explica que o uso duplo da casa criou, ao longo do tempo, uma necessidade de ampliar seu espaço. “Ela funciona como museu-casa, com uma ambientação que reproduz a casa de uma família tradicional da Lapa. Além disso, a gente faz ações educativas e cursos em uma sala aos fundos”, lembra. “Já há algum tempo a gente falava em criar um anexo pra abrigar exposições temporárias e fazer oficinas. A casa tem uma visitação muito intensa, com milhares de visitantes por mês.”
Foram enviadas 72 propostas de 11 estados diferentes. Os vencedores foram selecionados por uma comissão julgadora composta por dois profissionais indicados pelo IAB-PR e um pelo Iphan. Segundo Finger, os principais critérios de avaliação foram o atendimento à proposta, uma boa resolução de fluxo de visitantes e o cuidado com que o anexo se relaciona ao patrimônio. “Não pode brilhar mais que a casa”, ela comenta. “[É fundamental] respeitar a escala, os materiais e dialogar com o conjunto”.
O resultado final será divulgado no dia 26 de dezembro, após a fase de recursos. O primeiro lugar recebe o prêmio de R$ 20 mil e a assinatura de contrato para os projetos executivos no valor de R$ 265 mil, previsto para maio de 2020. O segundo e o terceiro lugares recebem, respectivamente, R$ 10 e R$ 5 mil. A previsão é de que as obras se iniciem em 2021.
Confira abaixo os vencedores:
1º lugar: Figueroa Arq+Urb (São Paulo, SP)
O projeto vencedor tem autoria dos arquiteto Mario Figueroa e Leticia Tamisari, do escritório paulista Figueroa Arq+Urb. O projeto gira em torno do conceito de uma “promenade architectural”: quando o percurso a ser seguido pelos visitantes já está implícito na construção de um espaço. O anexo forma um “L” com relação ao terreno, criando um quintal nos fundos da casa que naturalmente leva ao novo espaço.
O anexo, por sua vez, tem dois pavimentos. São previstos um café, uma biblioteca, um salão multiuso, uma loja, entre outros usos. Os arquitetos também destacam estratégias voltadas à sustentabilidade da edificação, como ventilação cruzada, coberturas verdes, fachadas duplas ventiladas, captação de água pluvial, uso de sistemas construtivos pré-fabricados, entre outros.
Não é a primeira vez que Figueroa fica em primeiro lugar em concursos de arquitetura. Um dos destaques de seu currículo é o Museu da Memória e Direitos Humanos, na capital do Chile. No Brasil, já venceu concursos Em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Rio de Janeiro.
2º lugar: Zanatta Figueiredo Arquitetos Associados (São Paulo, SP)
No projeto do escritório Zanatta Figueiredo Arquitetos Associados, o museu e seu anexo são separados por um Pátio das Tijoleiras, que cria uma convergência entre os edifícios do complexo. Uma alameda atravessa o terreno, conectando os dois espaços com uma escadaria.
O pavimento térreo concentra espaços ‘privados’ como a administração do museu e salas do Iphan, além de uma área de exposição com pé-direito duplo e escadaria central. Na parte superior, concentram-se café, livraria, oficina e varanda. A cozinha, centralizada, atende tanto a área de oficinas como o café.
Entre os materiais escolhidos, estão a tijoleira, concreto aparente e aço, no qual seria gravada a história da Lapa com homenagens aos heróis da cidade. O paisagismo também é destaque do projeto, com espécies que valorizam os espaços conforme as estações.
3º lugar: Conceito Arquitetura (Brasília, DF)
O tijolo cerâmico é um dos pontos principais do projeto do escritório Conceito Arquitetura. Usado no piso da praça, ele se estende como base do novo edifício, criando unidade ao conjunto. A ele, outros materiais se mesclam. O pavimento inferior mistura concreto armado com pilares e lajes aparentes; o superior leva estrutura metálica.
O projeto cria “dois térreos”: um que se liga ao pátio existente, outro que se estende pela nova entrada aos fundos do terreno, na travessa paralela à rua da Casa Lacerda.
Menção honrosa: Mote 85 Arquitetos (Porto Alegre, RS)
A essência do projeto do escritório Mote 85 é uma “passagem-passeio”: um percurso que liga ruas, edifícios e diferentes espaços do complexo. Dois tipos de espaços são propostos: um “núcleo rígido” que concentra espaços como sanitários, vestiários e copa, e espaços livres e fluidos que recebam as funções culturais e administrativas do anexo. A ideia é que novos arranjos possam ser feitos com o tempo. A edificação propõe uso de concreto aparente, alvenarias de tijolos, alumínio, madeira em esquadrias e vidro.
Menção honrosa: Estúdio BG (São Paulo, SP)
O tijolo novamente é foco na proposta assinada pelo Estúdio BG, desta vez criando fachadas translúcidas. A construção valoriza técnicas e elementos tradicionais da construção civil brasileira. No projeto, a edificação fica disposta na lateral do terreno, permitindo duas visões do anexo: uma pela própria Casa Lacerda e seu pátio, e a segunda pela entrada da travessa inferior. “Essa condição cria entre os elementos uma respeitosa competição pelo olhar, além de sobrepor diferentes momentos da história da casa e da cidade”, explica o memorial do projeto.
Menção honrosa: Pagus Arquitetura (Curitiba, PR)
O escritório curitibano Pagus Arquitetura propôs três diferentes níveis de pátios para o complexo. Com entrada para a rua inferior, o pavimento inferior recebe uma praça de acolhimento, do qual já se vê a casa histórica. Nela, pode-se receber exposições ao ar livre e apresentações culturais. O nível intermediário amplia a área do quintal da casa e conta com um mirante para a paisagem. O pavimento superior, por sua vez, tem uma grande varanda. O prédio se liga por uma pequena passarela ao pátio, que por sua vez leva à Casa Lacerda.
Confira aqui os projetos completos dos vencedores.
Via Haus