Ao longo de 2019, o grupo mineiro de arquitetos Micrópolis se juntou ao Museu Paulista e ao SESC Ipiranga para realizar o projeto Refundações — uma série de ações abertas ao público que criam novas leituras e sentidos para o acervo do museu a partir de desejos e reivindicações presentes na prática urbana de ativistas e pensadores contemporâneos de São Paulo.
O projeto teve como ponto de partida três pinturas do acervo do Museu Paulista que narram momentos importantes do desenvolvimento urbano de São Paulo — Fundação de São Paulo, de Oscar Pereira da Silva, finalizada em 1909; Avenida Paulista no dia da inauguração, realizada por Jules Martin em 1891; e Rua do Rosário, de José Wasth Rodrigues, datada de 1855.
Pinturas históricas como essas foram vistas de maneira recorrente como representações da “verdade” e, dessa maneira, absorvidas pelo imaginário coletivo da sociedade a que pertenciam. Quando musealizadas e posteriormente vinculadas em livros didáticos de história, tornavam-se “janelas para o passado”, cumprindo uma missão didática ao permitir a visualização do passado a milhares de cidadãos.
São obras que muitas vezes podem realçar alguns fatos em detrimento de outros ao narrar e registrar uma história, colocando em relevo a subjetividade e as intenções daquele que a conta. Essas pinturas representam, antes de mais nada, projetos políticos que, ao serem cristalizados como ícones e documentos oficiais, podem acabar encobrindo críticas, ideias e protagonismos de outras vozes, corpos e narrativas que estiveram presentes nos acontecimentos retratados. Diante da constatação de que uma pintura, assim como qualquer outra expressão artística, veicula os valores sociais, políticos e culturais de quem a concebeu, assim como os pensamentos de sua época, qual seria então a narrativa dos fatos se essas pinturas, em especial a pintura da Fundação da Cidade de São Paulo, fossem realizadas nos dias de hoje?
A partir dessa reflexão, o projeto realizou uma série de oficinas sobre essas pinturas, convidando grupos feministas, artistas negros, lideranças indígenas, jovens refugiados, ativistas LGBTQI, funcionários do Museu Paulista, moradoras de ocupações urbanas e o próprio público espontâneo do SESC para imaginar como esses grupos teriam criado suas próprias narrativas para uma nova e futura fundação da cidade de São Paulo se fossem eles os narradores da história da cidade.
As oficinas contaram com a participação, entre outros, dos arquitetos Nabil Bonduki, Marcos Rosa e Maria Claudia Levy; do curador Hélio Menezes e da artista Rosana Paulino; das ativistas feministas Amelinha Teles e Maria Clara Araújo; das lideranças Guarani Davi Popygua e Sonia Ara Mirim; e de representantes do Museu da Diversidade e da Casa 1 de acolhimento à população LGBTQI.
O resultado desses encontros foi a emergência e o compartilhamento de diversas reflexões sobre as pinturas e a produção de outras narrativas sobre diferentes (re)fundações possíveis para a cidade de São Paulo — não no sentido de buscar uma reparação histórica, mas de usar os quadros como ponto de partida para pensar novos imaginários urbanos. Essas narrativas foram gravadas em áudio e posteriormente enviadas a outros colaboradores que se encarregaram de representá-las através de pinturas, desenhos, colagens e outras tantas linguagens imagéticas. Tanto os áudios quanto essas novas imagens estão em exposição na Parede em Arco do SESC Ipiranga até 01 de março de 2020.
Exposição Refundações
- Local: Sesc Ipiranga - Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo
- Horário de funcionamento:
- Terça a sexta 7h às 21h30 Sábados 10h às 21h30
- Domingos e Feriados 10h às 18h30 Em cartaz até 01/03/2020