A Systematica acaba de divulgar um estudo de caso sobre as áreas verdes, públicas e lugares de encontro da cidade de Milão. Particularmente relevante neste momento — em que as pessoas estão voltando a tomar as ruas da capital lombada depois de meses de isolamento em uma das regiões mais afetadas pela recente crise sanitária—, a pesquisa oferece um panorama global da atual situação das áreas de domínio público na cidade, assim como destaca uma série de parques e praças de Milão que costumam ser menos procurados e portanto, mais seguros e convidativos.
Com mais de trinta anos de experiência no âmbito do planejamento e mobilidade urbana, a Systematica é uma empresa dedicada à pesquisar e desenvolver soluções inovadoras para o futuro das cidades no mundo todo. Através de sua unidade de pesquisa TransformTransport, a Systematica procura compreender como a tecnologia pode ter um impacto positivo em nossas vidas, nossos edifícios e nossas cidades. Neste momento de retomada do espaço público e da vida social, as pessoas estão redescobrindo a importância das áreas de encontro e convívio para as nossas cidades. E mais do que isso, elas estão compreendendo a importância destes espaços em suas vidas e a falta que eles fazem.
Na cidade de Milão, por exemplo, metade da população vive em áreas densamente ocupadas e carentes de espaços públicos acessíveis. Desta maneira, muitas destas pessoas estão se deslocando para outras áreas da cidade, ou até para fora dela, para poder aproveitar o dia ao ar livre sem se preocupar com a sua saúde. O estudo recentemente publicado pela Systematica chama a atenção para este fato, reforçando que “grande parte dos moradores de Milão vivem em áreas onde há uma enorme escassez de áreas verdes e espaços públicos a uma distância caminhável de suas casas.” Como resultado, a pesquisa aponta para a necessidade urgente de “promover e facilitar o acesso à espaços públicos nas áreas mais críticas da cidade,” um diagnóstico que vem ao encontro do ambicioso plano Strade Aperte divulgado recentemente pelas autoridades locais, uma inciativa que procura favorecer os pedestres e ciclistas em detrimento dos veículos motorizados no centro da capital lombarda. Para saber mais sobre a pesquisa realizada pela Systematica acesse aqui o site oficial do projeto.
Pesquisa de campo e levantamento de dados
Para o desenvolvimento da pesquisa sobre os espaços públicos da cidade de Milão, a Systematica organizou uma série de dados quantitativos coletados em diversas fontes e plataformas oficiais da cidade, cruzando estas informações com dados qualitativos especialmente levantados com esta finalidade. Como principal resultado desta pesquisa, a Systematica apresentou uma espécie de atlas dos espaços públicos da cidade de Milão, hierarquizando-os em diferentes categorias como parques, jardins, praças e calçadões. Além disso, a pesquisa revela que a capital lombarda conta com cerca de 21.000.000 m2 de áreas verdes e espaços públicos — com parques e jardins ocupando um 11% da área total do município.
Acessibilidade às principais áreas de encontro e convívio
Através de uma ampla análise dos principais deslocamentos e pesquisas de origem e destino realizada com os moradores, o estudo identificou as áreas da cidade onde os moradores vivem a menos de 15 minutos a pé de um espaço público ou área verde acessível. A partir deste mapeamento, a Systematica pôde então quantificar o número de habitantes que contam com acesso direto à estes espaços — e quantos vivem em regiões desprovidas de áreas verdes e afins. Neste gráfico é possível ver que a atual distribuição de parques de médio e grande porte no tecido urbano de Milão não é de foram alguma homogênea.
O processo de avaliação de uma cidade se inicia com a identificação de todos os seus espaços públicos, posicionando um circulo de raio compatível a 15 minutos de deslocamento médio à pé. Esta metodologia nos permite criar uma imagem bastante clara e legível da distribuição dos espaços públicos em uma cidade. Este mapa pode então ser comparado a outros gráficos como o de densidade populacional, permitindo identificar rapidamente as áreas mais vulneráveis na cidade. De forma complementar, uma escala de cores nos ajuda a melhor visualizar a densidade destes espaços acessíveis — uma solução que imediatamente nos mostra que as zonas mais críticas estão localizadas nas proximidades do anel rodoviário periférico (no caso de Milão), com alguns casos pontuais ao longo das principais rodovias axiais nordeste, sudeste e oeste.
Mas os dados acessíveis não param por ai. Além dos gráficos de disponibilidade e acessibilidade das áreas verdes e espaços públicos, estes mapas nos fornecem ainda informações à respeito do risco de aglomerações – com os grandes parques públicos desempenhando um importante papel neste sentido. O mapa de risco surge de um cruzamento de dados referentes à área do espaço público e do número de habitantes residentes em um raio de 15 minutos à pé. Quando esta relação é menor do que dois metros quadrados por habitante uma luz vermelha se acende, indicando o risco de potenciais aglomerações.
Em busca de equilíbrio
Como resultado da atual condição imposta pela recente pandemia da COVID-19, os espaços públicos passaram a ser vistos com outros olhos — lançando uma nova luz sobre a importância destes espaços para a vida em sociedade. Durante o auge da pandemia em Milão, uma das cidades mais afetadas pelo surto de COVID-19 no mundo todo, as autoridades recebiam cotidianamente inúmeras denúncias de pessoas utilizando estes espaços quando a recomendação era evitar ao máximo estas áreas. Situações como esta não podem ser desconsideradas, mostrando claramente a importância deste tipo de espaço até mesmo em situações emergenciais como a que a cidade de Milão passou ao longo dos últimos meses.
Finalmente, o processo analítico desenvolvido pela Systematica é capaz de hierarquizar as áreas da cidade em relação à disponibilidade e acessibilidade de espaços públicos e áreas verdes. No caso de Milão, o mapa conta com oito zonas especificas, as quais abrangem 25 bairros milaneses. Para cada uma destas zonas, o estudo sugere uma série de medidas responsivas que procuram equilibrar o acesso e a disponibilidade de espaços de encontro e convívio abertos à comunidade local. Como principal resultado da pesquisa, a Systematica definiu um critério específico para a cidade de Milão, definindo um padrão ideal onde há no mínimo 1000 metros quadrados acessíveis de áreas verdes e de uso público à uma distância de 15 minutos à pé de qualquer ponto da cidade. De acordo com os resultados do estudo, algumas áreas da cidade já atendem este critério como é o caso de Porta Lodovica, Porta Ticinese e Porta Vigentina.
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