Seis meses após o lançamento do livro Bodybuilding, durante a última edição da bienal, a organização PERFORMA lança a exposição homônima, que apresenta 35 estúdios de arquitetura, que colaboram com a performatividade.
A arquitetura é um ponto ou uma vírgula? As formas construídas são corpos herméticos ou catalisadores de ação? O curador da PERFORMA, Charles Aubin, e o arquiteto Carlos Mínguez Carrascor, publicaram o livro Bodybuilding: Architecture and Performance, durante a edição mais recente da bienal PERFORMA 19, em novembro, na cidade de Nova York. A falta de uma pesquisa abrangente e globalizada sobre o assunto, despertou o interesse da dupla em investigar a maneira como os arquitetos fazem uso das performances, retomando um simpósio, que eles co-organizaram no Performa 17 Hub, em 2017. O livro, que apresenta ensaios de Mabel O. Wilson e Bryony Roberts, Lluís Alexandre Casanovas Blanco e Victoria Bugge Øye, baseou as abordagens fundamentais, agora profundamente enraizadas da exposição on-line: o impacto do movimento na urbanização sistemática, a relação do corpo com os edifícios e monumentos, e o papel da arquitetura em ação, de forma física ou sociopolítica.
De acordo com Aubin, a exposição digital, que exibe um total de 35 trabalhos no site da bienal, acrescenta detalhes aos conceitos e performances, que um livro poderia apenas ilustrar em duas dimensões. "O público pode assistir os vídeos de Hans Hollein demonstrando como utilizar seu Mobile Office inflável, depois de ler sobre isso no livro", diz Aubin à Metropolis. Revisitar o tema, também permitiu à dupla, a oportunidade de expandir o assunto e incluir estúdios de localizações mais distantes. O escritório Wolff Architects, da Cidade do Cabo, por exemplo, foi descoberto nos últimos seis meses, com a performance, Pumflet Luxarama. A apresentação foi uma procissão comemorativa organizada em setembro de 2018, para o antigo Teatro Luxurama, no bairro histórico de Wynberg.
Enquanto arquitetura e performance são duas disciplinas intrinsecamente interligadas, os curadores se concentraram, principalmente, em como os escritórios de arquitetura consideram e fazem uso da representação, como um método pragmático. “Uma performance pode ser apresentada em uma renderização, uma maquete ou em um edifício construído”, diz Aubin. Ele também pontua, que eles estão particularmente interessados nos casos em que a transitoriedade e efemeridade da representação encontram a tatilidade da arquitetura. O próprio repertório da PERFORMA tem sido útil na busca de intervenções voltadas ao público, como a comissão de 2017 de Mabel O. Wilson e Bryony Roberts com a mostra de arte e arquitetura, Marching On, que aconteceu no Marcus Garvey Park, no Harlem. A performance combinou estratégias visuais e teóricas da Marcha silenciosa anti-racista de 1917, na 5ª Avenida de Manhattan, com bandas de faculdades historicamente destinadas à negros e coreografias de hip-hop.
A bienal de 2017 também foi fonte de inspiração para a apresentação de Jimmy Robert, Imitation of Lives, na qual a Glass House, de Philip Johnson, funciona como uma cúpula transparente para os gestos dos ativistas, refletidos na sutileza da estética modernista. Com referências à cantora de cabaré Jimmie Daniels e à escultura de David Hammons, de 1993, a performance In the Hood, imerge o público e incentiva o questionamento de subjugação e direito dentro de um espaço.
A sequência da programação da exposição é determinada ao acaso, com o intuito de Aubin, de estimular a curiosidade do público. Até 15 de julho, a grade horária apresenta tentativas globais de performances, dentro e fora de ambientes construídos, em relação à ou contra seus domínios físicos. Alguns exemplos, como a descolonização da arquitetura da residência artística, em Al Madafeh (2016), documenta o que mais tarde, se transformou em uma série de apresentações e visitas domiciliares com refugiados sírios e palestinos. Já a apresentação Mile-Long Opera, exibe um coral com 1.000 vocalistas, organizada por Diller Scofidio + Renfro, que ocupou o High Line durante seis noites seguidas, em 2018. E a documentação em preto e branco da performance de Didier Fíuza Faustino, sobre a subversão dos códigos arquitetônicos e rituais de brutalidade policial, intitulada Love Songs for Motins (2013).
Cada uma das 35 obras de Bodybuilding apresenta a arquitetura como pano de fundo, uma tela em branco para colorir com ações e inibições humanas, que também problematizam sua onipresença, frequentemente hospitaleira, mas ocasionalmente desprezível sobre o corpo, como uma entidade coletiva e individual.
Este artigo foi publicado originalmente em Metropolismag.com.