Basta olhar para a longa lista de obras registadas por Miguel De Guzmán e Rocío Romero, diretores do conceituado estúdio de fotografia e vídeo de arquitetura Imagen Subliminal, com sede em Madrid e Nova Iorque, para perceber que têm realizado um bom trabalho captando e divulgando as mais diversos projetos e espaços. Uma tarefa importante que reside no valor de dar a conhecer ao mundo obras e atmosferas, para que todos possamos, de alguma forma, habitá-las
Em celebração ao Dia Mundial da Fotografia, realizamos uma entrevista com Guzmán sobre seus anos de prática e as mudanças no papel do fotógrafo de arquitetura diante das novas formas de comunicação.
ArchDaily: Miguel, em uma entrevista anterior você nos contou sobre o início de sua carreira, inspirações e formas de trabalhar. O que mudou ao longo dos anos? Como a tecnologia mudou sua prática de fotografar arquitetura?
Imagen Subliminal (IS): A evolução desde a entrevista anterior, de 2013, penso que não tem a ver com a tecnologia, mas com o fator humano. A mudança mais importante foi a incorporação de Rocío Romero, que começou a colaborar comigo em 2013 e se tornou sócio do Imagen Subliminal em 2016.
Foi este trabalho em equipe que mais nos fez avançar nos últimos anos, tanto no domínio da fotografia como do vídeo de arquitectura. Além de ter a possibilidade de trabalhar juntos e paralelamente a partir de diferentes localidades, acredito que foi muito importante o compartilhamento de ideias e processos de trabalho, a discussão interna sobre as formas de abordagem dos projetos e a possibilidade de abrir campos de experimentação em termos de equipamento. Isso também nos forçou a desenvolver uma filosofia de trabalho comum, a fim de gerar uma imagem coerente que nos permita considerar o Imagen Subliminal uma unidade coesa. Acho que isso nos fortalece e nos ajuda, somando ao todo as descobertas e avanços que cada um de nós faz de forma independente.
No que diz respeito à tecnologia, não acho que nos últimos anos tenham ocorrido mudanças revolucionárias como anteriormente, quando a passagem da fotografia analógica para a digital, o surgimento de câmeras de vídeo de qualidade a preços acessíveis e os drones fizeram repensar os sistemas de trabalho e trouxeram novas ferramentas para o dia da dia dos profissionais. Recentemente, houve uma evolução e aprimoramento das ferramentas, tanto câmeras quanto softwares, mas nada revolucionário. Talvez pudéssemos falar de novidades como sistemas de realidade virtual, que atraíram nosso interesse, mas ainda não chegaram a cativar nosso público.
Em todo o caso, sempre gostamos de experimentar novas ferramentas e formas de comunicação, por isso procuramos nos manter atualizados quando o assunto é tecnologia.
AD: Naquela época, Carlos Arroyo comentava seu trabalho referindo-se à sua capacidade de capturar uma atmosfera e mostrá-la ao mundo para que todos possamos vivenciá-la. Em relação a isso e às novas formas de comunicação, o que você pensa sobre o papel contemporâneo do fotógrafo de arquitetura, já que frequentemente são os próprios arquitetos e usuários que fazem e compartilham fotos das obras em suas redes sociais?
IS: É verdade que, graças às redes sociais e à acessibilidade às ferramentas de criação de imagens, o fotógrafo de arquitetura perdeu aquele papel quase exclusivo de comunicador que tinha no passado. Não consideramos isso algo negativo em si, visto que oferece uma grande multiplicidade de pontos de vista sobre as obras de arquitetura.
Consideramos que o nosso papel continua a ser importante, pois oferecemos nossa experiência para desenvolver imagens que ajudam a comunicar o projeto e as ideias que geraram a obra. Por este motivo, atribuímos especial importância à colaboração com os estúdios em todo o processo de trabalho, desde o planejamento dos registros até a pós-produção e difusão. Nosso objetivo não é apenas capturar uma atmosfera, mas ir além e tentar fazer dessa atmosfera aquela que o arquiteto tinha em mente ao desenvolver o projeto.
Acreditamos que a vantagem do fotógrafo profissional de arquitetura não se baseia apenas no conhecimento e domínio da técnica fotográfica, mas também na vontade de compreender o projeto e na capacidade de colaborar com o estúdio para oferecer uma narrativa que ajude a transmitir os valores e ideias da maneira mais atraente possível.
AD: Hoje, junto com Rocío Romero, vocês realizam filmagens e fotografias arquitetônicas a partir de Madri e Nova Iorque. Nesse sentido, imagino que a situação de confinamento global tem lhe dado muito o que pensar sobre o trabalho com fotografia de arquitetura, pode nos contar como foi sua experiência com isso? Que desafios eles encontraram?
A situação de confinamento, mais severa em Madri do que em Nova Iorque, nos obrigou a parar para tirar fotos. Nosso trabalho é estritamente presencial, evidentemente. Pudemos, então, reservar um tempo para nos atualizar, nos organizar e pensar um pouco sobre a nossa atividade. No que diz respeito à colaboração digital, não houve muitas surpresas, já que fazemos esse trabalho remotamente há anos e temos um sistema bastante organizado.
O desafio mais importante não é o tempo que passamos até agora, mas as incógnitas sobre o que virá nos próximos meses: a dificuldade de viajar, a possibilidade de crise em todo o setor de arquitetura e construção...
Por outro lado, desafios e oportunidades vão se abrindo à medida que os meios de comunicação digital e a necessidade de buscar novas linguagens e ferramentas para compartilhar ideias ganham mais importância – campos nos quais podemos contribuir muito.
AD: O trabalho do fotógrafo de arquitetura parece não estar isento de posicionamentos e modos de pensar o mundo. Mas parece um problema pequeno em um planeta que enfrenta diversos desafios e crises de ordem econômica, sanitária e social. Como você acha que a fotografia de arquitetura pode ajudar a melhorar a qualidade de vida nas cidades? Qual o futuro reservado para a fotografia de arquitetura?
IS: A fotografia de arquitetura, como forma de comunicação, pode ajudar a transmitir ideias, abrir debates, tornar visíveis as situações e formas de enfrentamento dos problemas. Não acho que por si só possa melhorar a qualidade de vida nas cidades, mas pode ajudar a difundir ideias que o façam. A comunicação por si só não é suficiente, mas pode ajudar a mobilizar agentes que podem articular mudanças reais.
Em relação ao futuro, pensamos que a nossa especialidade deve ser enriquecida deixando-nos contaminar e incorporando formas de comunicação que vêm de diferentes meios como as linguagens das redes sociais, da arte, do cinema, dos jogos de videogame, da publicidade...
Flexibilizar a linguagem, não deixar de experimentar e adotar as ferramentas disponíveis com o objetivo de transmitir ideias e valores arquitetônicos. Desta forma pensamos que o nosso papel continuará a ser relevante e poderemos contribuir com algo útil ao mundo da arquitetura.