A indústria dos videogames é uma das mais lucrativas do mundo e envolve uma constante busca por inovação e criatividade. O campo conhecido como Game Design envolve a criação e o planejamento dos elementos, regras e dinâmica dos videogames. Faz parte deste processo pensar nos ambientes virtuais onde a ação do jogo se desenrola, posicionando o jogador em contextos virtualizados ricos em detalhes e cheios de personalidade. Seja na reprodução minuciosa de cidades reais e conhecidas, seja na criação de lugares totalmente novos, a arquitetura e o urbanismo são aliados do profissional que desenha estes produtos, o game designer.
O arquiteto, por sua vez, tem a tecnologia como ferramenta de trabalho. Muitas vezes uma ferramenta nova altera as formas de pensar e fazer arquitetura e há bons exemplos de aparatos digitais, provenientes do universo gamer, que hoje fazem parte da prática so arquiteto, no processo de assimilar novas tecnologias para representar e estudar cidades e arquiteturas, como softwares de renderização e realidade virtual.. E é por isso que o Arquicast desta semana convidou o game designer João Marcelo Beraldo, da INSANE Games para conversar sobre afinidades entre esses diferentes profissionais.
Dar forma ao ambiente virtual onde o jogo acontece é crucial no desenvolvimento de games. O espaço do jogo é onde o jogador está e é necessário que este espaço o ajude a compreender os desafios que terá que enfrentar, participando ativamente da narrativa por trás da ação em si. Este contexto virtual dá o tom da história a ser contada e influi psicologicamente nas decisões que o jogador tomará em diferentes momentos. Assim como num livro, onde o escritor, através do texto escrito, envolve os personagens descrevendo os lugares suportes da história, o game designer também precisa transmitir determinada ambiência que o ajude a organizar espacialmente o roteiro previsto para o jogo. Este processo envolve decisões relativas tanto ao conteúdo do jogo, quanto aos recursos mecânicos que irão viabilizá-lo.
Este equilíbrio entre a história do jogo e os recursos técnicos empenhados culmina na criação de cenários usados como dispositivos psicológicos que direcionam o jogador no desenvolvimento das tarefas necessárias à conclusão de cada fase. Como na vida real, reagimos instintivamente a determinados estímulos e somos influenciados pelo ambiente. No videogame, os espaços induzem comportamentos sem tutoriar excessivamente as escolhas de cada jogador, mantendo sua autonomia na partida.
Há vários tipos de jogos e o uso de dispositivos arquitetônicos varia de acordo com o objetivo. E mesmo dentro de um único jogo, há diferentes dimensões que precisam ser contempladas em paralelo à ambientação dos cenários em si, como aspectos econômicos, relativos a formas de monetização, ou critérios de nivelamento das fases na medida que se progride dentro do jogo.
Na busca por ambientar os diversos desafios e sustentar a atenção dos jogadores num mercado extremamente competitivo, a pesquisa histórica se torna uma aliada, na medida em que oferece farto conteúdo imagético sobre lugares reais e ativos na memória coletiva de determinada cultura. É o caso do recurso às cidades e obras greco-romanas ou medievais, e os valores com as quais são associadas. Sem o compromisso de reconstruir fielmente os ambientes, o game designer atua com grande liberdade, lançando mão de referências arquitetônicas de distintos momentos históricos para a criação de contextos completamente novos. Também as cidades e suas lógicas de crescimento são objeto de interesse para o designer, na medida em que é preciso programar como os vários usuários podem construir suas realidades dentro de uma mesma plataforma.
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Texto por Aline Cruz.