A pandemia da Covid-19 veio a exacerbar as várias deficiências sanitárias e de infraestrutura nos países em vias de desenvolvimento, em particular Angola, que já carrega o fardo de sucessivas recessões econômicas.
As periferias dos principais polos urbanos, tendo Luanda como caso paradigmático, são territórios críticos para a doença. Com quase um terço da população do país, em que 80% vivem em condições urbanas muito precárias, a mistura de condicionantes – a saber, a falta de saneamento básico, altas densidades construídas e populacionais, sobrelotação das moradias (3 pessoas por cômodo), inacessibilidade para serviços urbanos (bombeiros, recolha de resíduos sólidos, polícia), falta de espaço público e áreas verdes, condições internas de insalubridade, forte dependência do sector informal e dificuldade de acesso à segurança alimentar e aos serviços sanitário – constitui um cenário bastante complexo.
Com todos estes ingredientes, o confinamento e distanciamento social, afigura-se como “missão quase impossível”, apresentando complexos desafios para tornar resilientes os agregados mais vulneráveis e evitar a todo custo a contaminação comunitária.
As medidas impostas pelas autoridades sanitárias para a redução de infecções têm um componente espacial muito forte que modifica a maneira de habitar os espaços.
Por sua vez, nestes contextos extremamente precários, as medidas de confinamento domiciliar são uma utopia que a população dos bairros suburbanos não pode alcançar. A explosição a novas vulnerabilidades diante da ameaça biológica representada pela Covid-19 completa o quadro de condições socioeconômicas preocupantes, tendo implicações negativas diretas que aumentam ainda mais as fortes desigualdades sociais existentes.
Nessa perspectiva, e aproveitando o confinamento mas promovendo uma aproximação social nas redes virtuais de diálogo, um grupo de especialistas multidisciplinares abordou de forma holística algumas medidas de mitigação do impacto da Covid-19, com o propósito de formular algumas reflexões e recomendações de curto médio e longo prazo em diferentes temáticas, como: planeamento e gestão urbana, habitabilidade básica, comércio informal, segurança alimentar, governança, e saúde e cuidados de higiene.
A publicação destas recomendações, que pode ser acessada gratuitamente aqui, assume-se como marco e registo desta colaboração multidisciplinar inédita que se pretende profícua e eficiente em parceria com as instituições afins.
Além disso, nesta quinta-feira, 15 de outubro, o coordenador da publicação, Iídio Daio, será o moderador de um debate entre arquitetas, arquitetos, engenheiros, agrônomos e juristas de Angola. O evento acontecerá de forma online, às 17h de Brasília (21h em Angola), no canal do Circuito Urbano da ONU Habitat no Youtube.