A cidade de São Paulo ganhou, no último dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra – uma estátua em homenagem a Joaquim Pinto de Oliveira, arquiteto negro escravizado no século XVIII conhecido como Tebas. Localizada na Praça Clóvis Beviláqua, face leste da Praça da Sé, no centro da cidade, a escultura foi projetada e desenvolvida pelo artista plástico Lumumba Afroindígena e pela arquiteta Francine Moura.
A obra tem o objetivo de firmar o legado de Tebas, revelar sua produção tecnológica sofisticada para a época e propor, acima de tudo, uma reflexão que recobra a relevância da ocupação territorial preta na área central da cidade que foi fragmentada ao longo dos séculos.
Coube à paulistana Rita Teles, do Núcleo Coletivo das Artes Produções, alinhavar a produção executiva e artística da obra:
A ideia principal desta empreitada é afastar, de uma vez por todas, a aura de invisibilidade que repousava sobre a história de Tebas. Um monumento que projeta, em grande escala, a contribuição negra para a cidade em que uma criança, ao passar no local, possa se sentir representada com aquela escultura que pode remeter a um super-herói ou, simplesmente, a um homem importante que existiu e lutou dignamente por sua afirmação e espaço.
Tebas "foi um construtor que chegou a São Paulo escravizado, vindo de Santos, trazido por um mestre pedreiro português que identificou na cidade uma oportunidade de trabalho", afirma o jornalista Abilio Ferreira, organizador do livro Tebas: um negro arquiteto na São Paulo escravocrata. Quando conseguiu liberdade, aos 58 anos, fez da habilidade em talhar blocos de rochas um ofício na construção de edifícios.
Especialista nesta arte, Tebas teve decisiva influência na arquitetura paulistana, até então caracterizada pelo uso da taipa, técnica que impossibilitava arrojos estéticos. Seu trabalho era requisitado, sobretudo, pelas ordens religiosas presentes na cidade desde a fundação, vindo a trabalhar nas fachadas das igrejas da Ordem 3ª do Carmo e das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, bem como na ornamentação do Mosteiro de São Bento e da Catedral da Sé.
Apenas em 2018 – mais de 200 anos após sua morte, em 11 de janeiro de 1811 – a profissão de Tebas foi reconhecida. Com base em documentos oficiais reunidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp) reconheceu que Joaquim Pinto de Oliveira fora, de fato, um arquiteto, e homenageou sua contribuição à história da arquitetura paulistana.