Em um ano profundamente marcado pelas relações virtuais, uma temporária supressão dos espaços públicos das cidades e uma profusão de mostras e exposições em meio digital, foi inaugurado o Virtual Online Museum of Art (Voma), primeiro museu de arte totalmente virtual do mundo. Localizado em um contexto tão intangível quanto toda a proposta – pode ser às margens de um lago ou uma enseada, não se sabe ao certo – o edifício virtual tem uma arquitetura peculiar, composta por volumes complexos não muito claros e uma materialidade simulada que faz lembrar concreto pigmentado.
Idealizada pelo artista plástico inglês Stuart Semple ainda nos anos 1990, a proposta do museu de arte virtual só pôde ser levada a cabo por meio de tecnologias mais recentes. À diferença de museus reais, que durante a pandemia de Covid-19 adaptaram seus acervos para visitas virtuais (seja de maneira interativa, imersiva ou apenas em bancos de imagens), o Voma oferece uma experiência completamente digital que permite que o espectador caminhe pelos espaços expositivos e se aproxime das obras de arte – uma experiência muito semelhante àquela proposta pelo projeto Cabana de Arte, desenvolvido pelo Grupo Banga de Angola, porém, em maior escala.
O projeto foi realizado em parceria com a arquiteta Emily Mann, responsável pelo projeto arquitetônico do museu, e com o consultor Lee Cavaliere, ex-curador da London Fair Art e responsável por reunir as obras expostas no Voma. O contato com instituições do porte do Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova Iorque, o Art Institute de Chicago e o Museé d'Orsay de Paris permitiu trazer ao museu virtual obras de artistas como Hyeronimus Bosch, Henri Matisse, Édouard Manet, Li Wei, Paula Rego, Jasper Johns, Henri de Toulouse-Lautrec e dos brasileiros Luiz Zerbini e Lygia Clark.
O acervo do Voma é composto por versões digitais de obras que compõem museus, galerias e coleções particulares reais. Na experiência virtual, o visitante pode deambuar entre as obras, ampliar as pinturas, assistir aos vídeos, acessar as fichas técnicas de cada peça e ler os textos informativos da exposição. Além disso, espaços de apoio, como num museu real, se colocam à disposição do espectador – uma cafeteria funciona como uma sala de bate-papo on-line e áreas ao ar livre ficam à mercê das intempéries do clima.
Voma é mais um passo na digitalização das relações sociais e humanas, mais uma dessas iniciativas que só precisavam de um empurrãozinho para serem trazidas ao mundo real e que, por sua vez, capturam as pessoas, transportando-as ao mundo virtual. Ademais, pode ser visto como mais um passo na "democratização" do acesso à arte e cultura – ou, se isso não se concretiza, resta a lojinha, também virtual, onde os visitantes podem comprar lembranças como camisetas e calendários.
Fonte: O Globo.