A 6º edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa, que acontecerá em 2022, traz como tema Terra. Com diferentes significados consoante a escala e o observador, Terra expressa o território, a urbe, a paisagem, o lugar ao qual pertencemos ou um continente visto do mar. Pode ser um planeta habitável ou matéria para cultivo. Pode estar em excesso ou fazer falta e pode ser um obstáculo ou um elemento na construção de comunidades. E é com o sentido de emergência que a Trienal 2022 convoca a reflexão sobre todas estas dimensões que estão intimamente relacionadas com a arquitectura.
O programa é composto por quatro exposições, quatro livros, três prêmios, três dias de conferências e uma seleção de Projectos Associados independentes. O desenho desta edição é liderado pela curadoria geral de Cristina Veríssimo e Diogo Burnay, dupla portuguesa fundadora do atelier de arquitectura CVDB que iniciou em 2020 o trabalho de pesquisa.
Como fórum internacional que promove o questionamento em torno da investigação e da prática, Terra incorpora uma declaração de intenção e um apelo à ação. Propõe-se a evolução do atual modelo de sistema fragmentado e linear, caracterizado pelo uso excessivo de recursos, para um modelo de sistema circular e holístico, motivado por um maior e mais profundo equilíbrio entre comunidades, recursos e processos. Terra sugere que, após um contexto de fechamento em resultado da pandemia, se reequacione o futuro a partir do cruzamento e intercâmbio de saberes e fazeres que possam coexistir, contribuindo para um futuro mais sustentável do planeta e de quem o habita.
A premissa da Trienal 2022 é colocar questões em torno do futuro das ecologias em arquitectura no seu sentido mais amplo. A reflexão desdobra-se em quatro exposições centrais, que através das suas diferentes perspectivas e olhares convocam um vasto leque de participantes para apresentar um panorama global feito de uma pluralidade de geografias e culturas. Neste espaço construído confluem assim múltiplas oportunidades de olhos postos no horizonte da disciplina de arquitetura.
Linhas curatoriais
A Trienal 2022, Terra, explora como os paradigmas recentes estão a mudar a nossa forma de criação de lugares num planeta globalizado. Nessa conjuntura crítica, a arquitetura pode ligar-nos ao chão tanto quanto pode elevar-nos. É este olhar constante para o futuro entendendo o passado que ajuda a arquitetura a explorar as relações e sistemas que permitem a mudança em contextos socioeconômicos diversificados em todo o mundo.
Terra aborda como as (alter)ações climáticas, a pressão sobre os recursos e as desigualdades socioeconômicas e ambientais estão profundamente interligadas. Compreender estas situações complexas requer uma mudança de paradigma de modelos de crescimento linear (cidades-máquina) para modelos de desenvolvimento circular (cidades-organismo). A Trienal 2022 visa criar um fórum aberto onde múltiplas vozes e perspectivas podem coexistir para lá das suas aparentes dualidades e, simultaneamente, celebrar a vida diária, bem como as aspirações de muitos futuros num mundo de diversidade.
As exposições centrais
O programa de exposições da Trienal 2022 engloba temáticas complementares e interligadas a partir de uma pluralidade de abordagens. São elas:
Visionárias
Culturgest
Anastassia Smirnova com SVESMI
As pessoas visionárias vivem e trabalham entre nós. No entanto, muitas vezes não as distinguimos na multidão. Ou preferimos não o fazer, pois qualquer encontro com elas coloca-nos em risco. Podemos ser confrontados com o desconhecido, sentirmo-nos ameaçados pelo carácter inortodoxo ou ser abalados por ideias que consideramos "excessivas" ou "irrealistas". As visões também nos podem conduzir a futuros sombrios; muitas vezes o fizeram no passado. Ao mesmo tempo, as visões são uma necessidade absoluta. Sem elas, talvez não conseguíssemos sobreviver.
Esta exposição explora a natureza das visões contemporâneas no campo da arquitectura, concebidas não apenas por profissionais da arquitectura e urbanismo, mas também por outros de áreas adjacentes. O foco está apontado a projetos a serem realizados agora ou que podem vir a ser realizados – construídos – nas próximas décadas. A exposição conta as histórias das ideias e, ao mesmo tempo, tenta discernir o próprio processo de materialização de conceitos e como as visões radicais se transformam nas novas normas.
Multiplicidade
MNAC - Museu Nacional de Arte Contemporânea
Tau Tavengwa, Vyjayanthi Rao
Uma convergência dinâmica, quase alquímica, de densidade, camadas e congestionamento de corpos, materiais e ideias é o que define muitos contextos urbanos em todo o sul global, em situações que exigem e activam respostas, reflexão e compreensão que espelhem esses contextos.
Um novo tipo de instituição e formas inéditas, mas instrutivas, de agir emergem como resposta a essas condições. Na sua essência, elas são especulativas, abraçam a incerteza e pensam continuamente através da acção. São profundamente conjecturais e não se baseiam em códigos de permanência nem na certeza dos resultados. Enquanto trabalham para confrontar e enfrentar os desafios planetários em diferentes escalas, juntam ativamente a arquitetura a outras disciplinas e práticas culturais, questionando os seus limites e criando algo de novo pelo meio.
Essas organizações, formas de atuação e métodos, bem como as questões que colocam para o futuro da arquitectura, são trazidos para Multiplicidade.
Ciclos
Garagem Sul - CCB
Pamela Prado, Pedro Ignacio Alonso
Ciclos descreve a exploração do enredo entre a arquitetura e as economias circulares. Evitando o uso excessivo de termos como ecologia, sustentabilidade ou resiliência, a exposição tem como foco os ciclos de arquitetura e de construção.
Se uma mudança radical vier a acontecer no paradigma econômico nos próximos anos, ela trará novos desafios para as práticas materiais juntamente com contextos políticos, culturais e artísticos mais amplos. Dentro das noções do reutilizar, cuidar e reparar, mas também para além delas, a exposição motiva também debates sobre a ideia de re-design. Todo o design é re-design: todo o bom design deve ser re-ciclado. Este mote pretende proporcionar uma visão crítica sobre a inovação.
Ciclos revê, assim, a posição atual de quem opera em arquitetura, já não dentro de hierarquias lineares ou piramidais, mas integrando novos tipos de circuitos transdisciplinares.
Comum pelo Desenho
MAAT
José Pablo Ambrosi, Loreta Castro Reguera
Núcleos urbanos recém-formados, que nascem das necessidades prementes de pessoas à procura de melhores oportunidades, agravam problemas como a falta de serviços e de infraestruturas, a vulnerabilidade a desastres naturais ou violência. Enfrentamos uma quebra dos laços entre esses bairros e a cidade formal. A arquitetura deve abordar essas questões para construir as pontes em falta.
Que projectos são comuns pelo desenho? São os que pertencem à comunidade, capazes de integrar os valores da arquitetura estabelecendo um diálogo com outras questões e atores do ambiente construído. Usam a metodologia projectual como ferramenta para fornecer alternativas mais eficientes, substituindo a vigilância, os muros ou os canos por qualidade espacial.
A exposição pretende descobrir as arquiteturas que devolvem a dignidade e o pertencimento comunitário a um local, estruturando as necessidades e os serviços básicos através da concepção de equipamentos públicos em espaços residuais. Estes reconciliam necessidades de diversos âmbitos, tornando-se infraestruturas retroativas para a cidade desfeita.
Livros
Visando uma disseminação mais ampla do discurso arquitetônico contemporâneo, as publicações constituem um legado de longo prazo. Para a 6ª edição da Trienal, será publicada uma coleção de livros de bolso. Como edições únicas de arquitetura que resultam de mais de três anos de investigação, esta coleção limitada é dedicada aos temas das quatro exposições principais, com textos da equipe curatorial e de colaboradores convidados.
Talk, Talk, Talk
Fundação Calouste Gulbenkian
As exposições principais são o ponto de partida para uma série de conferências de três dias, que será o segundo destaque da programação da Trienal. Esta série tem como objetivo criar uma composição entrecruzada de conferências, reunindo pensadores, investigadores, acadêmicos e arquitetos do panorama internacional para discutir prioridades temáticas em ações futuras. Um momento para trocar experiências em várias áreas de especialidade, partilhar reflexões e estimular um debate ampliado sobre os temas explorados pela mostra principal, que termina com um encontro mais informal aberto ao confronto de ideias entre os convidados e o público.
Prêmio Concurso Universidades
O Prêmio Concurso Universidades Trienal de Lisboa Millennium bcp convoca universidades de todo o mundo numa perspectiva transversal. Pela primeira vez, o prêmio assume dois níveis de participação, através dos mestrados
e através dos centros de investigação das faculdades. Além disso, juntam- se à arquitetura outras disciplinas conexas nas vertentes do projecto, da tecnologia ou das humanidades, como as mais próximas arquitetura paisagista, urbanismo e gestão territorial, ou outras como as tecnologias de materiais e de construção, a sociologia urbana e a geografia ambiental.
Pretende-se deste modo estimular a participação individual e colectiva para a produção de conhecimento em, para e sobre arquitetura. O Concurso agrega centros de produção de conhecimento em instituições dentro e fora da Academia em várias tipologias de projecto que se pretende que sejam de resposta prática arquitetônica, mas que podem passar igualmente por projetos de investigação não necessariamente presentes nas exposições.
Com quatro possíveis temáticas associadas às exposições centrais – Visionárias, Multiplicidade, Ciclos e Comum pelo Desenho – o júri composto pela equipa curatorial vai seleccionar as melhores propostas para integrar um núcleo em cada uma das exposições da Trienal 2022. As candidaturas abrem em Junho de 2021.
Prêmio Début
O Prêmio Début Trienal de Lisboa Millennium bcp reconhece um jovem arquiteto ou ateliê, celebrando suas conquistas e promovendo sua carreira. Com este prêmio a organização busca apoiar novas vozes e novas práticas. Espera-se também que o prêmio contribua para o crescimento criativo, intelectual e profissional de jovens profissionais numa fase crucial
e potencialmente transformadora das suas carreiras. O concurso mundial está aberto a jovens arquitetos com menos de 35 anos ou a qualquer ateliê de arquitetura com idade média inferior a 35 anos. O vencedor é escolhido pelos membros do júri a partir de uma lista apresentada por nomeadores influentes portugueses e internacionais.
Prêmio Carreira
O Prêmio Carreira Trienal de Lisboa Millennium bcp distingue o atelier ou pessoa no ativo cujo trabalho e ideias tenham influenciado e continuem a ter um impacto profundo na prática e no pensamento arquitetônico atuais, sem colocar a ênfase no final de uma carreira, mas antes na ousadia da sua prática.
O prêmio é atribuído após uma seleção independente que passa por duas fases distintas. Primeiro, arquitetos internacionais são convidados pela Trienal para eleger até três nomes que considerem merecedores do prêmio. A lista resultante é então entregue a um júri constituído por sete personalidades de todo o mundo para selecionar o vencedor, que recebe uma obra de arte original feita por um artista convidado.
Projetos Associados
Os Projetos Associados constituem um programa paralelo com propostas nacionais e internacionais independentes e autofinanciadas que complementam de forma articulada a 6ª edição da Trienal. São eventos que vão desde exposições, instalações, workshops, conversas, lançamentos de livros, intervenções em espaço público, eventos de cinema ou música, até projetos online com interesse na efervescência do debate acerca do futuro das ecologias em arquitetura.
O open call é lançado em Junho de 2021 convocando agentes de programação e criação a apresentar propostas que se realizem durante o período da Trienal 2022 em Lisboa e arredores.
Para mais informações sobre a Trienal de Arquitectura de Lisboa de 2022, acesse o site do evento.