Formas de sombrear as fachadas e impedir a incidência direta da radiação solar nos interiores de um edifício estão presentes até mesmo em arquiteturas ancestrais. No entanto, foi na arquitetura moderna que se difundiu o uso do brise-soleil, um dos mais difundidos dispositivos para controlar de forma passiva o calor em ambientes, ao sombreá-los e permitir a ventilação cruzada quando necessário.
Muitos anos se passaram desde sua invenção e diversas releituras foram criadas. Na América Latina podemos observar exemplos que se apropriam de distintos materiais, se inspiram na arquitetura de povo originários, inovam em suas instalações e alcançam um mesmo objetivo: o conforto térmico ideal aliado de uma forte característica estética ao edifício. Portanto, reunimos abaixo dez residências que demonstram diferentes formas de interpretar tal elemento e como eles foram pensados para cada projeto.
Na Casa Cavalcante (Brasil), realizada por BLOCO Arquitetos, todos os ambientes têm iluminação e ventilação naturais. Eles são protegidos da incidência direta do sol pelo brise com toras de eucalipto natural. Além de ser repelente de insetos, o eucalipto é uma árvore de fácil cultivo. A fachada nascente da residência tem uma faixa mais estreita de proteção, enquanto a fachada voltada para o sol poente tem quase a totalidade da superfície vertical protegida por esse sistema de sombreamento.
O BAAQ' adotou uma estrutura de madeira na Casa Naila (México) ao compor um painel de duas camadas que protege o interior mas permite vistas, luz natural e ventilação cruzada. O ângulo e a separação dos volumes permitem vistas para o entorno e uma integração formal entre a paisagem rochosa e a praia.
Localizada em um clima tropical úmido, a Residência sem impacto (Costa Rica), projetada por A-01, responde ao seu habitat circundante através do controle passivo do clima por meio de ventilação natural e proteção solar gerada por sua fachada. Esta tem sua forma inclinada para diminuir o impacto direto da luz solar e da precipitação, que protege o piso elevado do superaquecimento e respingos de água. Os painéis das fachadas podem ser abertos ou fechados individualmente para regular a vista e a exposição, aumentar ou reduzir o fluxo de ar, criar privacidade e segurança. Eles convertem espaços interiores em exteriores e brincam com a dinâmica entre a natureza e o ambiente construído, uma das principais características da arquitetura tropical.
Gerando um contraste em termos de textura, cor e movimento com o resto dos volumes, a Casa Sol (Chile), realizada por Lorena Troncoso Valencia, gera um espaço que mostra através de suas múltiplas texturas a passagem do sol durante o dia. As sombras sobre os revestimentos e texturas geram uma nova experiência interior que varia em tons e padrões.
A arquitetura de Daniel Moreno Flores foi ainda mais inventiva ao incorporar uma estrutura metálica onde é possível pendurar as telhas, que protegem a Casa das telhas voadoras (Equador) proporcionando maior intimidade aos espaços interiores mas sem afastá-los da paisagem natural.
Na Casa JCA (Brasil), Bernardes Arquitetura priorizou a integração entre exterior e interior através de diversas decisões projetuais, entre elas se destaca a permeabilidade dos fechamentos. Entre eles, um elemento vazado ao estilo de um cobogó de madeira ao longo da fachada de toda galeria de circulação que tem a função de filtrar a iluminação solar ao mesmo tempo em que gera privacidade e permite a ventilação cruzada.
Na Casa L (México), a fachada é constantemente modificada pelo passadiço perimetral, com as varandas que abrem para o pátio ou fecham e filtram as vistas para o exterior. Assim, tactic-a conseguiu manter as áreas privadas do piso superior escondidas por trás de uma treliça de madeira que bloqueia a luz solar e mantém os quartos frescos.
A Sala de Experiência Contree (Colômbia), foi projetada por Ingeniería y Diseño Digital - IDD Conconcreto, e sua estrutura, composta de vários módulos tipo, tornou possível acelerar o projeto, a fabricação e a montagem, graças à padronização das peças. A solução de fechar cada hexágono com elementos verticais de madeira favoreceram o diálogo com o entorno assim como ajudaram a compor um novo ritmo de luzes e sombras no interior de cada ambiente.
Já na Casa Cigarra (Brasil), para proteger os volumes envidraçados, FGMF Arquitetos optou por lâminas de aço corten que criam um brise irregular que os envolve e filtra a insolação.
Por fim, mais próximo da tradição moderna, Luciano Kruk desenhou divisórias verticais de concreto que pendem da laje no primeiro pavimento para proteger igualmente o dormitório principal do sol, bem como das vistas cruzadas desde o deck da Residência Cariló (Argentina), garantindo que a plataforma principal - de orientação dupla e envidraçada do chão ao teto - pudesse manter sua vista em uma direção para o mar, e na outra para o espaço verde privado.
Nota do editor: os textos sobres os projetos foram retirados dos memoriais descritivos enviados pelos arquitetos.