Lajes planas, telhados inclinados e solucionados em linhas retas são tecnologias muito recentes na história da humanidade. Na arquitetura realizada por povos originários coberturas curvas predominavam. Hoje, apesar de não ser a solução mais comum, alguns escritórios se propõem a pensar como telhados de desenho mais orgânico podem melhor dialogar com o contexto e apresentar em sua solução compositiva fatores funcionais que influenciam a obra desde o canteiro até o conforto final de seus usuários.
Abaixo, selecionamos seis casas brasileiras que adotaram tal partido para exemplificar o motivo pelo qual e como foram realizados os telhados curvos em tais edifícios.
Em busca de um diálogo harmonioso entre arquitetura e seu contexto, assim como a orientação solar e a dos ventos. O volume da Casa Escalada, projetada por Leo Romano, foi definido a partir da escolha do concreto como elemento construtivo principal. O desafio do projeto foi adequar a estrutura à necessidade. A laje curva foi moldada in loco para que o resultado final fosse fiel à proposta. O fato de ser curvilínea tornou o processo mais desafiador, mas cumpriu com a vontade dos proprietários de ter uma morada com personalidade e autonomia estética.
Já na Casa em Samambaia , a estrutura de aço carbono utilizada na maior parte da construção possibilitou grandes vãos com peças de seções reduzidas, permitindo grandes aberturas. Essa solução dada por Rodrigo Simão Arquitetura teve como resultado: fino acabamento, considerável economia e lajes com pouca espessura - o polimento foi a única impermeabilização dos pisos de varandas e terraços. Aqui, as coberturas são de assoalho de madeira de lei cobertos por manta asfáltica e revestido de telha shingle. O desenho curvo do telhado ergue-se na direção do sol nascente, que durante o dia percorre toda a casa através dos painéis de vidro fixo requadrados em ferro e portas de correr de alumínio e vidro transparente, garantindo a incidência solar.
Com foco numa casa oriental moderna, o Studio Rodrigo Ferreira desenhou linhas orgânicas e suaves na Casa Joy, que tem como característica marcante uma cobertura côncava que se assenta sobre seis abóbadas interligadas por uma maciça laje de concreto de espessura variável. As curvas do telhado foram construídas tendo como inspiração o voo de um pássaro.
Vidal & Sant'Anna dispôs a Casa em Itamambuca diagonalmente no rígido terreno regular, explorando os espaços, de forma inusitada, já que inverte a ortogonalidade imposta pelos limites de suas bordas. Além disso, recobrindo tudo, uma cobertura produz de forma sutil e curva a tão desejada sombra para os dias de sol e a devida proteção para os dias de chuva. Um pé direito duplo permite um mezanino de múltiplas funções, dentro do arejado espaço das salas.
No projeto de um anexo da Casa Granja Viana, Gui Paoliello Arquiteto propõe um contraste com o edifício anterior através da curva. A construção nova consiste em uma estrutura arqueada de madeira laminada colada, apoiada em pilares de madeira e travada por tirantes de madeira horizontais. Essa estrutura apoia-se, então, sobre uma base em laje de concreto elevada do terreno, e que conforma um nível térreo, ajustado à edificação anterior. A adaptação deste novo volume ao terreno é feita através de taludes naturais e pequenos muros de gabião. Sua cobertura, acima do barroteamento em madeira laminada e acompanhando a curvatura dos arcos, consiste em forro em tábuas de madeira (como um assoalho) e são revestidas por uma camada isolante e manta impermeabilizante de evalon.
Por fim, a já clássica Casa ARCA, realizada por Atelier Marko Brajovic, teve com inspiração um específico tipo de casa indígena (Asurini, Médio Xingu), e é instalada como objeto autônomo em meio à natureza, com mínimo impacto ao seu ambiente. Para o projeto, foi utilizada uma estrutura em formato de concha que se auto-sustenta solucionando com o mesmo elemento o telhado, as paredes e acabamentos.
Nota do editor: os textos sobres os projetos foram retirados dos memoriais descritivos enviados pelos arquitetos.