João Filgueiras Lima foi um arquiteto carioca, formado pela Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, mas cujo nome remete a uma série de imagens e obras que há muito ultrapassaram os limites da cidade e suas paisagens referenciais. Lelé, como ficou internacionalmente conhecido, construiu um caminho próprio dentro da profissão, que o faz presente em várias capitais brasileiras, deixando um impressionante legado arquitetônico, manifesto em edifícios públicos e privados, em inovações técnicas sobre processos de produção e numa visão sempre humanizada do ato de construir.
A história de vida deste arquiteto, e suas realizações profissionais, se confundem com a própria história da consolidação de um brasil que se desejava urbano e industrializado. A construção de Brasília, a criação e ampliação de equipamentos públicos, administrativos e educacionais, em diferentes capitais da federação, e a dedicação à indústria da construção civil são apenas alguns traços de sua extensa bibliografia, para qual dedicamos este episódio. O Arquicast convida estudiosos e entusiastas de sua obra para compartilhar com a gente o fundamental conhecimento da contribuição de Lelé. São eles: Ceila Cardoso, doutora, professora da UFBA e pesquisadora da obra de Lelé na Bahia; Jose Fernando Marinho Minho, professor na UFBA e parceiro de Lelé durante vários anos; e André Marques, doutor pela Mackenzie e autor de livro sobre o arquiteto, publicado pela Editora Romano Guerra.
Sua história com Brasília começa logo após sua graduação como arquiteto. Com apenas dois anos de formado, em 1957, muda-se para a nova capital onde abraça o compromisso de criar uma nova imagem de país. Tal compromisso não se deu apenas no campo da concepção arquitetônica, mas especialmente na compreensão e viabilização de processos construtivos condizentes com a intenção modernizadora, a qual esbarrava em dificuldades impostas pela natureza própria de seu hostil e isolado território.
Brasília trouxe para o arquiteto o contato intenso com o canteiro de obras, com a organização da força de trabalho, com as dificuldades em especificar materiais e executar processos num contexto de total ausência de recursos, comuns no mercado da construção civil de outras grandes cidades brasileiras. A inovação tornou-se parte da sua abordagem de projeto e projetar, para ele, envolvia conhecer todas as etapas de realização de uma obra arquitetônica.
Lelé foi pioneiro em diferentes frentes de trabalho no campo da arquitetura, como o ensino e pesquisa, a pré-fabricação em diferentes materiais, soluções construtivas e projetuais para melhor qualidade ambiental e desempenho dos edifícios, e uma sensibilidade pragmática com o bem-estar do usuário, a qual resultou, inclusive, em design para equipamento hospitalar, demostrando o domínio que tinha das diferentes escalas do projeto.
Seu trabalho para a Rede Sarah Kubitschek, centros de saúde voltados para doentes do aparelho locomotor, tornou-o uma referência mundial em arquitetura hospitalar e renovou a percepção de até onde a arquitetura pode contribuir para a qualidade de vida, quando sensível às necessecidades das pessoas. Mas há muito mais a conhecer sobre seu belo trabalho.
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Texto por Aline Cruz.