Marcelo Ferraz, sócio fundador, juntamente com Francisco Fanucci, do Brasil Arquitetura, escritório que vem acumulando prêmios nacionais e internacionais, frutos do reconhecimento por seus projetos extremamente sensíveis ao lugar, e ainda sim, contemporâneos em sua essência, é o convidado da semana no Arquicast.
Marcelo é personagem ativo na produção e valorização da arquitetura e do urbanismo no Brasil. Mineiro, formou-se pela FAU/USP e traz em seu currículo e prática projetual a notável contribuição de mestres como Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer, com quem teve o privilégio de trabalhar. Esta influência se faz perceber no imponente repertório de projetos realizados, muitos de caráter institucional e público, focados em programas culturais de diversas escalas e em diferentes partes do país, mas sempre contextualizados com as tradições e características locais. Para citar alguns projetos que ilustram o trabalho da equipe, destacamos o Conjunto KKK, em Registro, SP; o Museu Rodin, em Salvador, BA; o Museu do Pão, em Ilópolis, RS; a Villa Isabella, na Finlândia; e a premiadíssima Praça das Artes, em São Paulo.
O Brasil Arquitetura destaca-se por uma abordagem projetual, uma personalidade, como nos conta Marcelo, muito influenciada pela pesquisa cuidadosa de cada um dos programas a que se dedicam, o que se reflete no envolvimento dos arquitetos em questões decisórias que vão além do escopo tradicional do projeto. Muitas vezes, a sugestão do projeto partiu dos próprios arquitetos, sempre atentos ao patrimônio material e imaterial que compõe a paisagem cultural brasileira.
O comprometimento com cada projeto e o entendimento da arquitetura como mecanismo de mudança social é fruto, também, da própria formação de Marcelo e Francisco, ambos ex-alunos da FAU/USP, num contexto de luta por direitos e liberdades como reação à ditadura militar. Apesar da ausência de nomes como Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, cassados pelo regime à época da graduação, os ensinamentos sobre o rigor – metodológico, construtivo, formal -, como postura ética do arquiteto frente ao projeto, influenciaram a visão dos sócios sobre seu papel na sociedade.
O interesse em explorar as relações entre preservação e contemporaneidade se manifesta nas soluções espaciais que enfatizam o diálogo entre o novo e o antigo, na compreensão do programa arquitetônico como um elemento agregador de valor ao projeto e na materialidade genuína, transmitida no tratamento dos volumes e nos processos construtivos, empregados com conhecimento e respeito à tradição.
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Texto por Aline Cruz