Seguindo os temas das edições anteriores do festival que abordaram questões contemporâneas relativas ao ambiente construído, o Arquiteturas Film Festival, que acontecerá entre os dias 1 e 6 de junho em Lisboa, continua a oferecer um fórum aberto para discussão, por meio de histórias audiovisuais pessoais, coletivas e globais vindas de todos os cantos do mundo.
A 8ª edição do Arquiteturas explora o tema Bodies Out of Space através de uma excursão sobre a construção social do espaço conectado a um fio que circula dentro das suas próprias narrativas de dominação. Narrativas também sobre identidade que muitas vezes é retirada ou forçada a representar o nosso corpo. Contra algumas suposições atuais, vemos este paradigma perceptivo — um epítome da visão de nossos tempos — como fundamentalmente social, espacial e corporal.
A arquitetura trabalha com poderes administrativos, econômicos, políticos e estruturais que controlam, segregam e colonizam, mapeando ativamente os territórios espaciais habitados pelos nossos corpos. Agora, para sermos justos, isto não é apenas uma interpretação sombria da disciplina, é um pedido para pensar ativamente sobre a nossa responsabilidade como espectador, enquanto percorremos este labirinto de desigualdades como descendentes diretos da exploração do espaço e dos corpos.
País convidado: Angola
Os angolanos têm vivido experiências extremas como a conquista pela independência, conflitos bélicos de longa duração, amarguras políticas e forte oscilação econômica. Cada dia se acorda numa Luanda de resistência. A confluência de tempos e de regimes é visível na arquitetura: dos sobrados escravagistas ao modernismo tropical, do Português Suave ao vale-tudo neoliberal, com arranha-céus asiáticos nas novas centralidades. Um país com escassa produção cinematográfica que é um viveiro de histórias mirabolantes a serem filmadas. Os ritmos eletrizantes são a trilha sonora da cidade. A festa nunca pára, nem nos momentos de mágoa. Alegria, um modo de luta ou de alienação?
As vozes do cinema angolano, que se tornam cada vez mais proeminentes, têm curadoria da jornalista, escritora e produtora Marta Lança (BUALA). Conheça os filmes do país convidado aqui.
Ciclo de Debates África Habitat
O Ciclo de Debates Africa Habitat, organizado em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, traz reflexões relacionadas com os temas tratados nos filmes do país convidado. Centra-se nas formas de intervenção socio-urbanística e habitacional nas margens urbanas, trazendo olhares e ideias para a melhoria da qualidade do habitat dos grupos de menores recursos. No atual contexto de urbanização acelerada, globalização e aumento das desigualdades socio-espaciais, é urgente refletir sobre o impacto destas intervenções e a construção de cidades mais inclusivas. Os debates acontecem no café do Cinema São Jorge.
Exposição Mukandas da N’Guimbi
Mukandas da N’Guimbi (Recados da Terra, em kimbundu) apresenta criações originais de dois artistas angolanos, Lino Damião e Nelo Teixeira. Com uma diversidade de técnicas, os trabalhos abordam a temática da arquitetura e do espaço urbano e interpretam as experiências e vivências dos artistas em bairros informais da sua cidade-natal, Luanda.
O Arquiteturas Film Festival apresentará, ao todo, 36 filmes divididos em 22 sessões, de países como Portugal, Itália, Israel, Alemanha, França, Bélgica, Países Baixos, Polónia, Ucrânia e Canadá. O júri, que irá premiar os filmes nas categorias de Prêmio Novos Talentos, Melhor Ficção, Melhor Filme Experimental e Prêmio do Público, será composto pela antropóloga visual Inês Ponte, a artista plástica Fernanda Fragateiro, a realizadora Fernanda Polacow, o realizador Richard John Seymour e o arquiteto e fundador da Galeria Antecâmara, Pedro Campos Costa.
O festival é concebido pela Do You Mean Architecture e pelo projeto portuense INSTITUTO, numa co-produção celebrada com a EGEAC e o Cinema São Jorge. A produção do festival conta ainda com parceiros como a Ordem dos Arquitetos de Lisboa e Vale do Tejo, o projeto África Habitat, sediado na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e o Instituto Cultural Romeno. A oitava edição é também apoiada pela Embaixada de Angola.