A maioria das paisagens urbanas que marcam nossas vidas é feita de casas populares, aquelas construídas no século 20 por imigrantes, artesãos e construtores anônimos. Porém, essa arquitetura vernacular cheia de afetividade, bons projetos e detalhes riquíssimos não é objeto de estudos tão frequentes como deveria. Mas isso começa a mudar. Pelo menos em Curitiba.
Os arquitetos Fábio Domingos Batista e Paula Domingos Fraiz Morais passaram meses se debruçando sobre a arquitetura residencial da capital paranaense e lançam agora um box de dois livros, o "Inventário de Arquitetura Residencial Curitibana", voltados ao grande público com detalhes da arquitetura de aproximadamente 160 casas de Curitiba, construídas de 1920 a 1960.
O lançamento oficial da obra será de forma digital no dia 8 de julho, às 19h, com a participação dos autores, o arquiteto e ceramista Rômulo Lass, responsável pela capa dos livros, e a arquiteta Elisabete França, que assina o prefácio. A mediação será feita por HAUS.
No dia 10 de julho, haverá uma tarde de autógrafos e abertura de exposição com as fotos do inventário na Soma Galeria, no São Francisco, onde era a antiga casa do escultor Ricardo Tod. O acesso será controlado e todos os protocolos sanitários serão respeitados.
Residências de Curitiba
Vários motivos levaram Fábio e Paula a se debruçar sobre a arquitetura residencial vernacular. Entre eles, porque muitas construções da cidade não são analisadas e, em geral, são deixadas em um limbo teórico pela ortodoxia da academia e das pesquisas de arquitetura.
E porque essa arquitetura de escala intimista, humana, afetiva, está desaparecendo, uma vez que o processo natural da cidade é a verticalização. "Só se tombou exemplares coloniais, ecléticos e modernistas. Se você olha as Unidades de Interesse de Preservação (UIPs) de Curitiba, por exemplo, todas são dessas linguagens. Os edifícios de transição, que têm uma união de elementos, não são considerados", avalia Fábio.
Período de transição
O período de pesquisa foi de 1920 a 1960, época de transição de quando o ecletismo perde força e o modernismo começa a ganhar destaque. O levantamento contou com a colaboração dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo Vitor Pereira e Giovana Cooper.
"Tem tanta coisa pela cidade que passa despercebida. Essa arquitetura é uma dessas coisas que as pessoas não olham e não se apropriam", desabafa Paula, que fotografou mais de 300 unidades. Porém, apenas 160 (entre fachadas e recortes) entraram oficialmente para o livro.
Além da arquitetura ser muito trabalhada, nos mínimos detalhes, com desenhos, texturas e elementos únicos, os arquitetos responsáveis pelo inventário destacam também que esse estudo resgata uma relação urbana que se perdeu.
Qualidade construtiva e projetual
"A gente percebe muito as texturas nas paredes, algo herdado do período neocolonial, aplicadas com fundo de garrafas ou patinha de galinha. E também o tratamento das janelas, os santinhos nos frontões, os adornos metálicos, as datas, as chaminés, os pisos de granitina colorida, os caquinhos, o piso de madeira, as passarelas e rampas, a pingadeira", detalham os arquitetos.
"Agora é um momento de mudar de vida. E o inventário propõe um novo olhar sobre essas construções, para instigar a valorização. Porque esses edifícios tem uma arquitetura simples e, ao mesmo tempo, de uma qualidade construtiva incrível. É uma arquitetura com dignidade", defende Paula.
Os livros podem ser adquiridos aqui.
Via Haus.